Os riscos do entusiasmo com o Gás Natural

gás natural

O superintendente da Abividro louvou o gás natural (GN) em artigo publicado no Valor. Para ele, o “gás competitivo pode acelerar o ritmo de crescimento econômico e promover a urgente retomada do emprego”. Pode ser, mas é bom pensar nos impactos do GN sobre o clima do planeta.

No plano internacional, o GN teve um boom recente com o desenvolvimento da tecnologia de fracking nos EUA. Depois de provocar uma queda no preço da energia naquele país, a indústria está buscando exportar seus excedentes construindo dezenas de terminais de exportação do gás natural liquefeito (GNL) para a China e outras economias em rápido crescimento e que querem se afastar do carvão.

Com base em dados de um relatório do Global Energy Monitor (GEM), o The Guardian relata que o boom da indústria de GNL desempenhará um papel pelo menos tão importante quanto o dos novos investimentos em carvão no impulsionamento da crise climática, se todos os projetos planejados forem adiante. De modo que fica cada vez mais difícil pensar no GN como um combustível de transição para uma economia de baixo carbono.

Vale também ressaltar os riscos dos investimentos em GN no longo prazo. Os analistas do GEM, embora considerem que os investimentos nos terminais de exportação de GNL façam sentido nos dias de hoje, alertam que podem ser frustrantes no longo prazo por uma combinação da redução dos custos da energia renovável com o aumento das preocupações com as mudanças climáticas. Estas forças tornarão muitos projetos de GNL “não rentáveis no longo prazo”, colocando em risco grande parte dos US$ 1,3 trilhão de investimentos.

O exemplo da Northern Indiana Service Company (NIPSCO), concessionária que atende parte do estado de Indiana (EUA), é muito ilustrativo dos riscos envolvidos nos investimentos em GN. A empresa pode hoje fechar suas usinas de carvão antecipadamente e devolver US$ 4 bilhões a seus clientes nos próximos 30 anos, como resultado de uma requisição de propostas feita ao mercado buscando afastar sua geração do carvão. Segundo Mike Hooper, vice-presidente sênior da empresa, “nós meio que assumimos que (…) a geração de gás natural seria a opção mais econômica (…) Ficamos surpresos ao ver que o vento (…) e depois a solar (…) eram significativamente mais baratos do que construir novas geradoras a gás”.

 

ClimaInfo, 8 de julho de 2019.

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