A luta de Bolsonaro contra os moinhos de vento, a soberania nacional e os prejuízos reais ao país

Bolsonaro moinhos

As últimas falas de Bolsonaro sobre a Amazônia remetem aos moinhos imaginários do Cavaleiro da Triste Figura de Cervantes. Existe, para o presidente, uma megaconspiração internacional para roubar a Amazônia dos brasileiros. A cada discurso, ele veste a nobre armadura e jura que, enquanto for presidente, não permitirá que o estrangeiro nos roube a terra, os minérios e demais riquezas da região. Bolsonaro evocou outro Quixote, (meu nome é) Enéas Carneiro, que também via estrangeiros espreitando para subtrair a Amazônia dos brasileiros. Como sempre, ele jamais apresenta provas reais e concretas.

A Veja, o UOL e o Estadão publicaram artigos sobre o comportamento do presidente.

Bernardo Mello Franco, n’O Globo, comparou a retórica agressiva do presidente com a personagem Vivieenne Rook da série britânica “Years and Years”, em exibição na HBO. Franco diz que “destratar líderes de países amigos é uma atitude prejudicial ao Brasil. A antidiplomacia bolsonarista ameaça atrapalhar a economia e isolar o país no cenário internacional.” E termina dizendo que “a realidade brasileira tem uma desvantagem em relação à ficção britânica. Para se livrar dos insultos de Vivienne Rook, basta desligar a TV.”

A malcriações de Bolsonaro para com a Alemanha e Noruega foram objeto de um editorial da Folha.

Daniela Chiaretti e Gabriel Vasconcelos, no Valor, contam que o Fundo Amazônia está ameaçado depois do cancelamento pela Noruega da doação deste ano por conta do aumento do desmatamento. Para o ministro do Clima e Meio Ambiente daquele país, Ola Elvestuen, “o Brasil extinguiu o Fundo. O que o Brasil fez mostra que não deseja mais parar o desmatamento.”

Patrícia Figueiredo, n’O Globo, diz que a fiscalização do Ibama pode enfraquecer ainda mais sem os recursos do Fundo Amazônia. Segundo levantamento feito pelo jornal, “entre 2016 e 2018, verbas do Fundo financiaram 466 vistorias que geraram aplicação de mais de R$ 2,5 bilhões em multas.”

Joana Oliveira, Gil Alessi e Talita Bedinelli escreveram um bom artigo no El País relatando as últimas desfeitas do presidente e repercutindo a entrevista que o ex-ministro Blairo Maggi deu na semana passada, quando este último criticou a retórica do presidente e os constrangimentos que esta trará para as exportações brasileiras.

O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito foi entrevistado por Johanns Eller, n’O Globo. Brito confirma que o desmatamento está aumentando: “É só dar uma passadinha aqui na Amazônia, não precisa ir muito além de Belém ou de Manaus para assistir a isso de camarote”. Sobre a posição dos associados da Abag, Brito diz que “a grande maioria dos empresários do setor já enxerga que a agenda ambiental da nova geração é completamente diferente da nossa. Ou nos enquadramos dentro dessa nova agenda mundial de mudanças climáticas e preservação da biodiversidade ou ficaremos fora do jogo.”

Fabiano Maisonnave, na Folha, entrevistou o pecuarista Mauro Lúcio Costa. Segundo Maisonnave, Costa não é o estereótipo do pecuarista da região. Ele é contra o desmatamento, acredita que dá para aumentar a produção apenas nas áreas já abertas, elogia ONGs ambientalistas, critica o presidente Jair Bolsonaro e defende a autodeterminação dos Povos Indígenas. Vale ler o que diz este mineiro de origem radicado há décadas em Paragominas, no Pará. Paragominas é conhecida por buscar a conciliação entre a produção e o respeito ao meio ambiente.

Gil Alessi, no El País, conversou com Virgílio Viana, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), sobre a suspensão dos recursos para o Fundo Amazônia. “Os principais prejudicados serão quatro segmentos da sociedade. Em primeiro lugar, as comunidades ribeirinhas e Povos Indígenas da região, que sofrem com violência a rural e conflitos fundiários. Em segundo, a população do Brasil inteiro, que depende das chuvas da Amazônia para abastecer a produção agropecuária e também para o abastecimento urbano. Em terceiro, a população da Amazônia, que como um todo, sofre nesse período uma calamidade na saúde pública relacionada ao aumento da poluição do ar decorrente das queimadas. E, em quarto lugar, a economia nacional, porque os mercados vão dando sinais mais claros de que esse aumento do desmatamento fecha portas.”

 

ClimaInfo, 19 de agosto de 2019.

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