A casa está caindo, mas o ministro quer enxergar detalhes da porta

Ricardo Galvão

O ex-presidente do INPE, Ricardo Galvão, deu uma palestra na USP, na 6ª feira passada, quando continuou criticando o governo e, em especial, o ministro do meio ambiente, pela polêmica em torno dos dados do desmatamento.

“O ministro Ricardo Salles fala que agora vamos ter um sistema da empresa Planet para detectar desmatamento de 2 metros (…) Eu [lhe] disse: ministro, não se mede a distância Rio-São Paulo com uma régua de 10 centímetros. Uma árvore na Amazônia tem copa com diâmetro de 15, 20 metros. Para quê eu preciso de uma resolução de dois metros para fazer um alerta de desmatamento? Eu só preciso de uma resolução de dois metros se eu quiser pagar muito mais para um sistema com maior resolução (…) Não preciso enxergar a porta para saber que uma casa está sendo derrubada. O ministro está caindo no canto da sereia dos vendedores” (na hipótese mais otimista). Giovana Girardi acompanhou para o Estadão a palestra de Galvão.

O diretor do secretariado do Grupo de Observações da Terra (GEO), Gilberto Câmara, conversou com André Borges, do Estadão. Câmara, quem esteve à frente da equipe que implantou o DETER no INPE, disse que “hoje não há sistema no mundo que possa se equiparar ao DETER. Temos sistemas similares, mas com resolução de imagem menor e interpretação automatizada dos dados. Esses sistemas não mostram, por exemplo, quanto da floresta foi desmatada em cada município, em cada Terra Indígena ou área de proteção ambiental. Fora isso, o que existem são imagens de alta resolução, mas sem inteligência. Portanto, o DETER não tem paralelo no mundo e isso é reconhecido pelos órgãos internacionais (…) Os dados do DETER permitem afirmar, sem sombra de dúvidas, que há um recrudescimento no desmatamento da Amazônia, e onde isso está ocorrendo.”

 

ClimaInfo, 19 de agosto de 2019.

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