O que sabemos, e não sabemos, sobre a carne e o aquecimento global

Brad Plumer para a newsletter ClimateFwd do NYT de 2/10/2019

Nesta semana, vários cientistas entraram em um debate público feroz sobre se comer carne vermelha é realmente tão ruim para você quanto pensávamos. O debate foi provocado por uma nova série de artigos científicos que argumentam que nós simplesmente não temos evidências inequívocas sobre os riscos à saúde da carne vermelha ou suína.

Aqui vamos nos concentrar nas consequências ambientais dos alimentos. E o debate parece criar uma boa ocasião para revisitar o que realmente sabemos.

Quão robustas são as evidências científicas sobre os impactos climáticos do consumo de carne?

Vamos começar com o que os especialistas podem dizer com bastante confiança: as carnes em geral têm uma emissão de gases de efeito estufa muito maior do que os alimentos vegetais. E a carne vermelha tem o maior impacto de todos, com uma pegada climática que é cerca de cinco vezes maior do que a do frango ou do porco, em média.

Como podem os pesquisadores ter tanta certeza? Em parte, há razões de bom senso para pensar assim: a criação de bois, galinhas ou porcos para alimentação tende a ocupar muito mais terra do que o cultivo de lavouras. Isso porque você precisa de espaço não apenas para os animais, mas também para as culturas que os alimentam. Além disso, os estômagos dos bovinos contêm bactérias que os ajudam a digerir o capim, mas que também produzem metano, um potente gás que aquece o planeta e que é emitido pelos arrotos. Assim, seria de esperar que a carne vermelha tivesse o maior impacto.

No entanto, os sistemas de produção podem variar enormemente. Se um agricultor desmatar um pedaço de floresta tropical para criar gado, este será responsável por muito mais aquecimento global do que o criado por outro agricultor em pastagens já existentes. Assim, quando os cientistas tentam medir as emissões de diferentes alimentos, os números exatos podem variar muito, dependendo de onde observam.

Mas já foram feitos centenas de estudos e, quando os pesquisadores os compilam, surge um padrão claro. “Estudo após estudo mostra que, mesmo quando se tem toda essa variação, os impactos climáticos da carne vermelha são, em média, ainda muitas vezes maiores que os do frango e outra ordem de grandeza maior que, digamos, os do feijão”, disse Diego Rose, professor da Universidade de Tulane, que estudou tanto os aspectos nutricionais quanto os ambientais das dietas. “Esses resultados são bastante sólidos”.

Mas ainda existem algumas perguntas sem resposta. Por exemplo, os pesquisadores ainda estão discutindo se a carne bovina alimentada com capim é melhor para o clima do gado de confinamento. A resposta pode variar de local para local, e depende de perguntas complicadas sobre se o pastoreio pode ajudar os solos locais a retirar mais carbono do ar.

E, em outro estudo recente, uma equipe de cientistas advertiu que ainda não sabemos o suficiente para entender as consequências de muitas e muitas pessoas em todo o mundo mudarem suas dietas de uma só vez. Embora tenha havido muitas pesquisas sobre os impactos climáticos da carne vermelha e do frango, os cientistas observaram que muito menos se sabe sobre os efeitos ambientais de muitos dos alimentos que podem substituí-los.

Conclusão? Sabemos que os alimentos são um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas, sendo responsáveis por cerca de um quarto dos gases de efeito estufa antropogênicos. E sabemos que a carne tende a ter um impacto desproporcional. Mas isso ainda deixa todo uma nuance importante que é crucial para os cientistas descobrirem se poderemos ter o aquecimento global sob controle.