Motosserra e o mercúrio não são desenvolvimento, são passado

Em conversa com Izabel Santos, do Amazônia Real, o coordenador de Operações de Fiscalização do Ibama, Hugo Loss, diz que o surpreendente no famoso caso do “Dia do Fogo” foi uma articulação nacional: “Eles se uniram, se articularam pelas redes sociais e determinaram que, naquele período, eles iriam queimar a floresta. Com isso, os focos de incêndio aumentaram absurdamente (…) Isso mostra que os criminosos estão mais organizados e com níveis mais elaborados de articulação e coesão.”

Sobre os vetores do desmatamento, Loss diz que “não temos como afirmar se primeiro chega a grilagem e depois a pecuária (…) O que dá para perceber é que, na dinâmica do desmatamento, a grilagem é algo muito forte, assim como a extração ilegal de madeira e a engorda de gado em áreas embargadas.”

Ao final, Loss diz que há em curso um processo de lavagem de imagem. Tenta-se fazer “a associação desses crimes ambientais a uma falsa ideia de desenvolvimento econômico e de progresso. Não se desenvolve um país rico como o Brasil debaixo do sabre de uma motosserra ou com mercúrio nos igarapés. Isso não é desenvolvimento, isso não é o futuro, isso é o passado.”

Daniel Camargos, do Repórter Brasil, esteve em Novo Progresso, Pará, e escreveu sobre a investigação da Polícia Federal sobre quem organizou o “Dia do Fogo” por lá: “Os responsáveis pelo fogo também estão dificultando as investigações (…) O policial disse que os fazendeiros da região são bem-relacionados com deputados e senadores do Pará, além de terem interlocução com o alto escalão do governo federal. Ele destacou ainda o poder do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, que tem influência na Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), que, por sua vez, é bem-articulada com a Frente Parlamentar Agropecuária – a bancada ruralista – uma das mais bem organizadas do Congresso. Um dos principais representantes dos ruralistas no governo federal, o secretário especial de Assuntos Fundiários, Luiz Antônio Nabhan Garcia, esteve em Castelo dos Sonhos, distrito de Altamira vizinho a Novo Progresso, para participar da Festa do Boi no Rolete no início de setembro. Nabhan Garcia adotou um discurso em que atribui parte da culpa dos incêndios na Amazônia aos Povos Indígenas. Ele disse, durante Comissão do Meio Ambiente no Senado, que os produtores rurais não são responsáveis pelas queimadas.”

 

ClimaInfo, 25 de outubro de 2019.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)