As tragédias de Mariana e do óleo se encontram nos Abrolhos

mariana

A tragédia da Samarco em Mariana completa 4 anos. Jennifer Ann Thomas resume o estrago na Veja: o rompimento da barragem do Fundão “despejou 32 milhões de metros cúbicos de rejeitos da extração de minério de ferro ao longo dos 700 quilômetros do Rio Doce até atingir a sua foz, no Espírito Santo. Ao longo desse percurso, dezenove pessoas morreram, mais de 300 famílias ficaram desabrigadas, 35 cidades foram afetadas e mais de 1.200 pescadores tiveram que se cadastrar para receber auxílio financeiro”.

Nádia Pontes, da Deutsche Welle, conta que um estudo da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da USP, detectou arsênio em 298 dos 300 voluntários examinados, sendo que 79 apresentaram taxas elevadas de níquel e 14 de manganês. A provável fonte de contaminação é a lama. Uma das pescadoras contaminadas por arsênio conta que continuou “pescando até o fim de 2016, um ano depois de os rejeitos terem chegado aqui. Para nós, das Comunidades Tradicionais, os impactos estão na água, na saúde, no trabalho, na mudança do modo de vida e no meio ambiente.”

Daniela Chiaretti, do Valor, conversou com Roberto Waack, o diretor-presidente da Fundação Renova, que tem a missão de implementar ações de reparação dos impactos do desastre da Samarco. Ela conta que “a indenização já trouxe R$ 2 bilhões para o Vale do Rio Doce com três formas de indenização – a emergencial, o dano pela falta de água e as compensações de danos material, moral e por impacto na atividade econômica.” Segundo Waack, um primeiro bloco de indenizações foi dirigida a quem comprovou ser dono de um imóvel ou negócio, ou quem era registrado como pescador ou prestador de serviço. O problema é que muita gente vivia e vive na informalidade. “O grande desafio é como indenizar as pessoas que não pagam fisco, não têm carteira da atividade, que não existiam perante a sociedade e foram muito afetadas. A indenização tem essa complexidade”, segue Waack. “É um nó jurídico, os escritórios de advocacia não sabem lidar com isso.” Chiaretti diz que uma solução possível para estes casos, que são da maioria da população, é uma ação coletiva, e não individual. Waack complementa: “Não é uma justiça fundamentada, de evidências comprováveis. É o que a gente chama de ‘justiça possível’.”

Waack também comentou as denúncias de contaminação por metais pesados: “Existem ainda as questões ligadas a outros metais pesados que apareceram, justamente por causa da investigação, e que não estão ligados [ao rompimento da barragem do] Fundão. Agora é ver como lidar com isso. Não há dúvida que existem outros metais pesados, porque é uma região de mineração. São 300 anos de deposição inadequada. Essas questões não resolvidas e vão levar tempo. Isso não se resolve já.”

A lama da Samarco, após devastar o Rio Doce, acabou chegando aos Abrolhos. Thomas conta que “cientistas comprovaram a presença de contaminantes provenientes da lama da Samarco. De acordo com o biólogo Rodrigo Leão de Moura, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos coordenadores da REDE, ainda não é possível saber qual será o impacto da contaminação”.

O óleo que desce pelo litoral brasileiro chegou ao Abrolhos e, por não se saber quanto óleo chegará, também não há como saber o impacto desta nova contaminação.

Em tempo: duas semanas antes do desastre da Vale no começo do ano, o então CEO, Fábio Schvartsmann, recebeu um e-mail anônimo alertando sobre o estado das barragens. Segundo o Wall Street Journal, Schvartsmann foi atrás de descobrir o autor do aviso, chamando-o de “câncer”. A Reuters também deu a história.

 

ClimaInfo, 6 de novembro de 2019.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)