Brasil e China: comércio agropecuário e desmatamento

Em tempos de aproximação comercial cada vez maior entre China e Brasil, compilamos informações que nos ajudam a entender alguns dos impactos da exportação de soja e carne bovina do Brasil para a China. Como a cadeia de fornecimento de soja e da carne bovina está impulsionando o desmatamento? Onde a soja e a carne são produzidas e onde está ocorrendo o desmatamento? Como as importações de soja e carne pela China estão ligadas ao desmatamento no Brasil? Quais companhias estão envolvidas? São algumas das perguntas que pretendemos responder.

A China e o Brasil têm uma relação comercial estratégica[1]. Desde 2009, a China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil e o maior comprador de soja e carne bovina brasileiras. Esta relação comercial possui claras implicações ambientais, pois o aumento da produção agropecuária brasileira para suprir a demanda chinesa está contribuindo para o desmatamento e a degradação do solo no Brasil, incluindo a Amazônia.

Em outubro de 2019, os presidentes dos dois países estabeleceram seus primeiros diálogos políticos e econômicos de alta esfera desde 2015. A agropecuária foi provavelmente um tópico prioritário, com resultados esperados para o favorecimento do aumento das exportações de carne brasileira para a China. Como os dois países têm papel central na luta contra as mudanças climáticas[2], este encontro poderia ser uma oportunidade para a China e o Brasil discutirem como combater o crescente desmatamento e reduzir emissões nas cadeias de produção agropecuária.

Quais as principais tendências na relação comercial Brasil-China?

  • A China é o maior parceiro comercial do Brasil, tanto para exportações quanto para importações. Em 2018, a China era o principal destino das exportações brasileiras (26,7%) e a principal origem das importações (19,2%).
  • Entre 2001 e 2018, o fluxo comercial entre os dois países cresceu de US$ 3,2 bilhões para US$ 98,9 bilhões, com o Brasil demonstrando um crescente superávit comercial com a China (ver Gráfico 1) – uma balança comercial total de US$ 29,2 bilhões em 2018[3].
  • O comércio tem uma natureza complementar. O Brasil exporta principalmente matéria-prima[4] para a China (88,5% ou US$ 36,75 bilhões em exportações)[5], enquanto que a China vende produtos manufaturados para o Brasil (98% ou US$ 23,27 bilhões)[6].
  • Em 2018, os principais produtos exportados para a China foram soja[7] (43%), petróleo bruto (23%), e minério de ferro e seus concentrados (17%). Carnes (de boi, galinha ou porco) foram responsáveis por 2,3%, 1,3% e 0,48%, respectivamente, do total de exportações do Brasil para a China.

Gráfico 1: Comércio histórico do Brasil com a China (em bilhões de US$)

Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil

  • O consumo de carne na China vem aumentando desde 2000, mas a produção doméstica não tem sido capaz de suprir o aumento na demanda.
  • As importações de carne bovina pela China cresceram de 23.700 toneladas em 2010 para 1,04 milhões de toneladas em 2018, com 70% desse total vindos da América do Sul.
  • O total de importações da China continental e de Hong Kong corresponde a 44% das exportações de carne bovina brasileira por volume em 2018[8]. Como boa parte das importações chinesas de carne bovina ocorre via Hong Kong, é importante levar em conta o fluxo comercial entre a China e Hong Kong para entender a escala real dessas transações comerciais.
  • O Brasil ultrapassou o Uruguai como maior fornecedor de carne bovina importada pela China (Gráfico 2), saltando de 56 mil toneladas para 320 mil toneladas em apenas três anos (de 2015 a 2018).
  • No primeiro semestre de 2019, a China importou, em média, 24 mil toneladas de carne bovina brasileira por mês (cerca de 20% de toda carne bovina importada). O portal de notícias Bloomberg relata que as importações podem aumentar em breve para 70 mil toneladas por mês.

Gráfico 2. Mudanças nas importações chinesas de carne bovina por país


Fonte: Dialogo Chino

A crescente demanda por soja e carne bovina

  • O Brasil é o maior produtor de soja do mundo, com 71% da produção sendo usada para a alimentação animal, enquanto que a China é o maior importador de soja do mundo[9]. A China também tem sido o maior comprador da soja brasileira (Gráfico 3), com mais da metade das importações vinda do Brasil. Em 2018, as importações chinesas representaram 82%[10] das exportações de soja brasileira.

Gráfico 3. Exportações de soja do Brasil (% sobre o total de cada ano)

Fonte: ABIOVE (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais). Valores de 2019 representam dados de janeiro a setembro.

Gráfico 4 – Principais países exportadores de soja para a China

Fonte: CDP, 2019. Os dados são de 2017 

Gráfico 5 – Participação do Brasil e dos EUA no Mercado de Soja na China (de outubro a maio)

Fonte: Markets Insider com dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

  • O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, participando com cerca de 20% das exportações globais de carne bovina . Seus compradores mudaram através dos tempos. A importação de carne bovina brasileira pela União Europeia foi reduzida enquanto que importações chinesas vêm crescendo (Gráfico 6).
  • Nos últimos quatro anos, as importações chinesas cresceram rapidamente. Em 2018, ~45%[13] do total de exportações brasileiras de carne bovina foram para a China (incluindo Hong Kong), seguidos por 11% para a União Europeia.

Gráfico 6. Maiores importadores históricos de carne bovina do Brasil

Fonte: ABIEC (Associação Brasileira das indústrias Exportadoras de Carnes Bovinas)

Como a cadeia de fornecimento de soja e carne bovina está impulsionando o desmatamento?

A produção de soja e carne bovina é a principal causa do desmatamento no Brasil desde a década de 1990. Conjuntamente, estes produtos são responsáveis por 80% do desmatamento na Amazônia. De 2005 a 2016, pelo menos 1,1 milhão de hectares (Mha) de vegetação nativa da Amazônia e do Cerrado foram destruídas para a produção de soja, uma área sete vezes maior que Londres.

1- Soja

Onde a soja é produzida e onde está ocorrendo desmatamento?  
  • Desde 1970, a área de cultivo de soja aumentou 25 vezes em extensão, com mais da metade das áreas cultiváveis do Brasil presentemente reservadas ao seu cultivo. A maior parte da soja é produzida no Centro Oeste, sendo o Mato Grosso responsável por 30,2% da produção nacional, e na região Sul do Brasil, em estados como o Rio Grande do Sul (10,6%) e Paraná (10,6%).
  • A maior parte do desmatamento relacionado à produção de soja, no entanto, ocorre no norte do país, principalmente na região de Matopiba[14], no Cerrado. Esta é a fronteira da agricultura da soja que mais se expande no mundo[15], com 80% da produção de soja da área ligada ao desmatamento.
Como as exportações de soja pela China estão ligadas ao desmatamento no Brasil?
  • A China é o país cuja exposição ao risco de desmatamento no Brasil é mais acentuado[16] devido ao grande volume de importação de soja brasileira.
  • De 2013 até 2017, a China comprou 42% da soja do Brasil, o triplo do que foi comprado pelo segundo maior importador, a União Europeia.
  • De 2013 a 2017, as importações de soja pela China foram ligadas ao desmatamento de 223 mil hectares, uma área correspondente ao dobro da cidade de Nova Iorque.
  • A China compra proporcionalmente menos soja de áreas com índices mais altos de desmatamento que a União Europeia (Gráfico 7). As importações de soja pela China estão concentradas na Região Sul do Brasil, enquanto que a Europa compra principalmente de áreas mais ao norte.

“Exposição ao risco de desmatamento” é um termo usado pela organização Trase para “estimar a exposição de um país ao risco de que a soja que esteja importando seja associada ao desmatamento nas regiões de origem”. O risco de desmatamento é atribuído aos países em proporção aos volumes originários de cada localidade e é medido em hectares.

Gráfico 7. Regiões brasileiras produtoras de soja exportada para a China e o risco de desmatamento (2013-2017 – %)

Fonte: Valores são percentuais. Trase e DialogoChino

Quais companhias estão envolvidas com o desmatamento relacionado à soja?  

1) Comerciantes de soja

  • Os seis maiores comerciantes de soja atuando no Brasil são Bunge, Cargill, Archer Daniels Midland (ADM), Louis Dreyfus, Amaggi e COFCO, que juntos representam 58% do total de exportações de soja brasileira. Todas essas empresas estão associadas ao desmatamento na Amazônia (Gráfico 8).
  • De acordo com o CDP, ADM, Cargill, Bunge, Louis Dreyfus Company e COFCO, a maior empresa chinesa de alimentos e agricultura atuando no Brasil, têm tomado medidas para gerenciar o risco de desmatamento dentro de suas cadeias de abastecimento. No entanto, a maioria das companhias chinesas investe mais em controle de poluição. Apenas algumas poucas empresas – Muyuan Foodstuff Co., Ltd., Sunner Development Co., Ltd, e Wens Foodstuff Group – têm atuado no combate às mudanças climáticas.
  • COFCO[17] entrou no mercado brasileiro de exportação de soja em 2014 e agora é o quarto maior comerciante do produto no Brasil. No Matopiba, a COFCO é o sétimo maior exportador (6% das exportações) e era responsável por 6,3% do desmatamento relacionado ao cultivo de soja em 2017, de acordo com Trase.
  • Em janeiro de 2019, o presidente da COFCO disse que a companhia estava empenhada em combater o desmatamento na cadeia de produção da soja e em proteger o Cerrado brasileiro. Em agosto de 2019, no entanto, a companhia anunciou que investirá mais intensamente na produção de soja brasileira – comprando até 25% a mais pelos próximos cinco anos – e financiará a expansão de mais de 60 milhões de acres para a produção de soja, um investimento que certamente impulsionará o desmatamento.

2) Instituições Financeiras

  • “Em geral, o gerenciamento ambiental das instituições financeiras chinesas é principalmente focalizado no controle de poluição. O setor bancário demonstra ter melhor conscientização sobre os riscos climáticos que os investidores institucionais… Nenhuma instituição financeira identificada avaliou sua exposição de capital em relação ao risco de desmatamento, ou desenvolveu quaisquer políticas específicas para endereçar riscos de desmatamento,diz o relatório do CDP.
  • Apenas 23% (oito de 35) das instituições financeiras avaliadas pelo CDP[18] têm políticas implementadas para integrar as considerações ambientais gerais às tomadas de decisão financeiras.
  • O Banco da China, o Banco Industrial e Comercial da China e o Banco Agrícola da China são os três maiores bancos emprestando recursos ao setor da soja, oferecendo 62% do total de empréstimos .
  • Bosera Asset Management Company, China Southern Asset Management Company e E Fund Asset Management Company são os três maiores investidores institucionais do setor, representando 25% do valor total das participações do setor da soja .
  • Veja AQUI a lista de companhias chinesas avaliadas neste relatório.

Gráfico 8. Exportações das dez maiores companhias de produção de soja para o mercado chinês e seus riscos de desmatamento (2017)

Fonte: Valores são percentuais relacionados aos dez maiores produtores. Produzido com dados da Trase. Onde não há uma barra de ‘risco de desmatamento’, é porque a companhia não está entre as dez companhias mais expostas ao risco de desmatamento, e vice versa em relação aos dez maiores exportadores para a China. Por exemplo, Louis Dreyfus possui risco de desmatamento, mas não está entre os dez maiores em termos de risco de desmatamento (os dados disponíveis só representavam os dez maiores em cada categoria).

2- Carne bovina

Onde a carne bovina é produzida e onde está ocorrendo desmatamento?
  • A criação de gado no Brasil continua sendo a principal causa de desmatamento, mas depende de onde a carne é produzida. A produção de carne bovina é responsável por dois terços do desmatamento nas regiões da Amazônia e do Cerrado, enquanto que a produção nas regiões ao sul apresenta um índice mais baixo de desmatamento.
Como as importações chinesas estão relacionadas ao desmatamento no Brasil?
  • Em geral, 19% da carne bovina brasileira são exportados. Deste montante, 13-14% vêm de áreas desmatadas[19]. A China continental e Hong Kong são os maiores compradores, responsáveis por 38% das exportações de carne bovina brasileira em volume.
  • Importações de carne bovina pela China[20] têm alta exposição ao desmatamento. Em 2017,[21] as importações de carne bovina pela China foram associadas a 34% de desmatamento[22], de acordo com Trase. Isto equivale a 22.700 hectares em 2017, uma área cinco vezes maior que o Distrito de Dongcheng, em Pequim.
Quais companhias estão envolvidas com o desmatamento relacionado à carne bovina?
  • Como a maior parte da carne bovina produzida (81%) é consumida pelo mercado doméstico do Brasil, a maior parte do desmatamento está associada ao consumo doméstico. Os três maiores frigoríficos, JBS, Minerva e Mafrig, dominam o mercado da carne que possui várias operações associadas ao desmatamento na Amazônia.
  • Os maiores importadores de carne bovina brasileira são companhias chinesas (Gráfico 9 e Tabela 2). Weston UK é a maior companhia em termos de volume comercial, mas possui baixa exposição ao desmatamento. As companhias chinesas comercializam grandes volumes e possuem alta exposição ao risco de desmatamento, o que significa que suas aquisições vêm provavelmente de áreas desmatadas.
  • Há uma lacuna em políticas florestais sustentáveis (e políticas de sustentabilidade mais fracas em geral) entre as companhias chinesas. De acordo com a Global Canopy[23]: “Um total de 15 companhias listadas no relatório Forest 500 avaliadas em relação à soja têm suas matrizes na China, e apenas uma destas apresenta políticas para a soja: COFCO, uma das maiores companhias de comércio e processamento de soja. No entanto, mesmo a COFCO tem uma política de escopo limitado que se aplica apenas a parte da cadeia de abastecimento da companhia”.

Gráfico 9. Maiores importadores de carne bovina do Brasil (volume de comércio) e seus risco de desmatamento relacionado[24] (%)
China Continental – 2017

Hong Kong – 2017

Fonte: Valores são percentuais relacionados aos maiores produtores e não ao total das companhias importadoras. Produzido com dados da Trase[25].

Tabela. Risco de Desmatamento por Pecuária (ha) dos importadores mais expostos ao desmatamento

A tabela mostra o risco de desmatamento por companhia, segundo a Trase[26] . A área é baseada no tamanho dos municípios brasileiros já convertidos em pastagem.

CHINA (2017) HONG KONG (2017)
BEIJING ZHUOCHEN ANIMAL HUSBANDRY CO 460 PARKER-MIGLIORINI INTERNATIONAL 3400
SHANGHAI NEW SOURCE INTERNATIONAL TR 410 WESTON IMPORTERS 1500
HULUN BUIR CITY ZHONGRONG FOOD CO* 282 MASTER ELITE INTERNATIONAL HOLDINGS 690
QINGDAO NEW OCEAN LINE CO., LTD 280 ORIENTAL PARTNERS 680
INNER MONGOLIA KERCHIN CATTLE INDUSTRY CO., LTD. 240 TOTAL ENTERPRISE LTD 610
ANHUI BBCA INTERNATIONAL FREIGHT CO., LTD 150 MILLION FULL TRADING LIMITED 470
WESTON IMPORTERS (UK) 130 HOI TAT TRADING CO 460
COFCO 99 MANFUL POWER TRADING LIMITED 430
SHANGHAI NEW SOURCE INTERNATIONAL TRADING CO,LTD 88 SUN HING CITY 430
MILLION ( FAR EAST) LIMITED 80 WESTON IMPORTERS LTD MARFRIG EUROPE 430

Fonte: Produzido com dados da Trase[27].
Nota: * Valores para “HULUN BUIR CITY ZHONGRONG FOOD CO” e “HULUN BUIR CITY ZHONGRONG FOOD CO ,LTD”, pois as duas empresas são mostradas separadamente na base de dados.

  • Uma lista com as 20 maiores companhias chinesas com o maior potencial para influenciar estas cadeias de produção e com os mais altos riscos de desmatamento pode ser lida AQUI.
  • Global Canopy também identificou mundialmente 43 companhias que são expostas ao desmatamento causado pelo mercado de carne e couro bovinos entre o Brasil e a China. Veja a lista AQUI.

Iniciativas para aumentar a sustentabilidade em cadeias de abastecimento:

  • Em 2015, o Solidaridad criou a China-South America Sustainable Soy Trade Platform [Plataforma de Negócios de Soja Sustentável entre China e América do Sul] (SSTP), com o objetivo de assegurar que a China compre apenas soja produzida responsavelmente, a começar pelo cumprimento do Código Florestal Brasileiro. Sua meta é convencer importadores de soja a adotar políticas responsáveis de aquisição, engajando não apenas os maiores importadores de soja da China, mas também participantes dos setores governamentais, financeiros e do varejo.
  • Algumas das ações diretas das iniciativas até agora foram:[28]
  1. Visitas de estudo organizadas pela Holanda para conseguir um conhecimento mais profundo das práticas de sustentabilidade na Europa, e duas visitas de estudo para a América do Sul a fim de compreender os impactos ambientais da produção de soja.
  2. Em dezembro de 2015, os maiores importadores chineses, que juntos importam mais de 20 milhões de toneladas de soja anualmente para a China, reuniram-se no Brasil com representantes governamentais do setor da agricultura em São Paulo. Eles viajaram ao estado de Mato Grosso para entender melhor a produção de soja e seus impactos ambientais. A delegação incluiu representantes das companhias COFCO, Jiusan Group, CP Group, Hopefull Group, Shandong Scents, Shengquan e outras.
  3. Em 2016, o Sino-Brazil Soy Trade Symposium [Simpósio Sino-Brasileiro do Mercado da Soja] foi realizado em Pequim como seguimento à visita ao Brasil. O evento concentrou-se em aumentar a conscientização, participação e colaboração entre importadores chineses de soja para apoiar o comércio sustentável do produto.
  4. O Solidaridad também atua como parceiro de implementação para a iniciativa Colaboração para Florestas e Agricultura (CFA), que se concentra em gerar um sinal de demanda por zero desmatamento de atores chineses do mercado da soja. Como parte deste esforço, o Solidaridad mapeou a cadeia comercial da soja no Brasil, e identificou as principais modalidades de negociação da soja observadas no mercado.
  5. Em 2018, o Solidaridad anunciou que vem desenvolvendo um conjunto de diretrizes para a aquisição responsável de soja por participantes chineses para importar soja livre de desmatamento da América do Sul. O resultado esperado é desenvolver uma definição compartilhada de “soja responsável” para a indústria chinesa da soja, assim como desenvolver um conjunto de diretrizes e as ferramentas necessárias para que os atores chineses da cadeia de abastecimento de soja usem como referência.
  6. Desenvolvimento de soluções digitais feitas sob medida para avaliar o desempenho de fazendeiros, fornecer recomendações e verificar informações de campo. Eles também assinaram um contrato com Norad para refinar modelos testados para a produção de café, cacau, soja e gado livre de desmatamento associados aos mercados europeu, chinês e estadunidense.
  • Em maio de 2017, China Meat Association [Associação Chinesa de Carnes] (CMA) anunciou seu compromisso para promover sustentabilidade da carne e da cadeia de abastecimento de alimentos para animais, e para reduzir o desmatamento, sendo a declaração assinada por 64 companhias. No entanto, o país ainda “enfrenta a falta de casos de negócios convincentes para que as companhias chinesas desenvolvam políticas de sustentabilidade”.
  • O relatório do CDP propôs algumas medidas políticas para assegurar que as importações chinesas sejam livres de desmatamento, que são: ampliar o investimento verde, aumentar a transparência corporativa, e promover a agricultura sustentável através da cooperação bilateral e multilateral.
  • Outro relatório do CDP delineia recomendações para as instituições financeiras que trabalham no setor da soja.

 

Leitura adicional:

 

Notícias interessantes:

 

Apêndice. Informações básicas

1- Quais são as características-chave econômicas e agropecuárias das estatísticas de mercado dos dois países?

A tabela abaixo apresenta algumas estatísticas principais do mercado econômico e agropecuário entre os dois países para ilustrar a natureza de suas relações comerciais.

Brasil China
Economia É a maior economia da América Latina, com um PIB de US$ 1,869 trilhões em 2018. A produção agropecuária tem um papel-chave na economia do Brasil, representando 24% do total de seu PIB em 2017. É a segunda maior economia do mundo, com um PIB de US$ 13,6 trilhões em 2018, e é a maior economia se medida em termos de paridade de poder de compra.
Comércio

 

O país também é o terceiro maior exportador agropecuário depois da União Europeia e dos Estados Unidos, exportando principalmente soja (US$ 33 bilhões), petróleo bruto (US$ 25 bilhões), minério de ferro (US$ 20 bilhões), e açúcar bruto (US$ 8 bilhões) em 2018. Os principais destinos das exportações da China em 2017 foram Estados Unidos (US$ 476 bilhões), Hong Kong (US$ 255 bilhões), e Japão (US$ 157 bilhões). As principais origens de importações são outros países asiáticos (US$ 151 bilhões), Coréia do Sul (US$149 bilhões), e Japão (US$ 136 bilhões).

 

Em 2018, os principais destinos das exportações foram: China (26,7%), União Europeia (17,6%), Estados Unidos (12%) e Argentina(6,23%). Em 2017, suas exportações e importações consistiram principalmente de mercadorias. Entre suas importações agropecuárias, a maior é a soja (US$ 39,6 bilhões), seguida por extrato de malte (US$ 4,4 bilhões), óleo de palma (US$ 3,4 bilhões), e carne bovina  (US$ 2,9 bilhões).

 

 

Referências

[1] A parceria estratégica entre a China e o Brasil vem crescendo desde 2012, sendo a entidade de mais alto nível para cooperação e diálogo a Comissão Sino-brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), co-presidida pelos Vice-Presidentes do Brasil e da China. Os dois países também cooperaram em organizações internacionais e multilaterais, e promoveram intercâmbios/cooperações culturais e militares.

[2] Os dois países estão entre os maiores emissores de gases do efeito estufa (GEE).

[3] O Brasil exportou US$ 63,9 bilhões para a China e importou da China US$ 34,7 bilhões em 2018.

[4] Denominados como produtos básicos, não como produtos manufaturados.

[5] Entre janeiro e agosto de 2019.

[6] Entre janeiro e agosto de 2019.

[7] Os valores correspondem à soja triturada.

[8] Hong Kong importou 395 mil toneladas e a China importou 322 mil toneladas do Brasil em 2018.

[9] Isto ocorreu primariamente por causa do aumento do consumo de carne e por causa da impossibilidade da China produzir alimentação animal suficiente em seu próprio território.

[10] Os valores são para soja triturada. Valores exportados cresceram de US$ 20,31 bilhões para US$ 27,23 bilhões entre 2017 e 2018.

[11] “A China parou de comprar soja dos Estados Unidos em retaliação ao aumento de US$ 250 bilhões nas tarifas sobre produtos chineses imposto pela administração Trump”. https://theconversation.com/how-soybeans-became-chinas-most-powerful-weapon-in-trumps-trade-war-118088; https://www.bloomberg.com/news/articles/2019-08-02/china-is-said-to-turn-to-brazil-for-soybeans-amid-trump-tariffs

[12] Isto representa um aumento de 15 milhões de toneladas desde 2017.

[13] Inclui China e Hong Kong. Veja o Gráfico 19 no seguinte artigo: http://www.abiec.com.br/controle/uploads/arquivos/sumario2019portugues.pdf

[14] Esta área contém o bioma Cerrado, onde o cultivo de soja vem se expandindo mais rapidamente no Brasil. Ele contém os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia

[15] “76% da área total de vegetação do Cerrado desmatada diretamente para soja entre 2005 e 2016 estavam dentro da região de Matopiba”. https://yearbook2018.trase.earth/chapter5/

[16] Ver https://yearbook2018.trase.earth/chapter5/

[17] A maior companhia de alimentos e agricultura da China

[18] Ver Table 2, pág. 20 https://6fefcbb86e61af1b2fc4-c70d8ead6ced550b4d987d7c03fcdd1d.ssl.cf3.rackcdn.com/cms/reports/documents/000/004/574/original/CDP_China_soy_finance_research_report.pdf?1559228759

[19] “O desmatamento ligado à pecuária foi calculado para cada município através da intersecção de mapas anuais de alta resolução da expansão dos pastos e desmatamento da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica, com as estatísticas sobre a produção de gado por município. O desmatamento foi considerado relacionado à criação de gado se os pastos foram detectados em áreas desmatadas há até cinco anos (excluindo-se pastos que viraram plantações de soja durante o período)”. Ver http://resources.trase.earth/documents/infobriefs/infobrief08_EN.pdf para a metodologia.

[20] Importações de carne bovina pela China Continental são menos expostas ao desmatamento quando comparadas com as importações de Hong Kong. Isto ocorre porque as importações da China Continental vêm de áreas mais ao sul do Brasil, enquanto Hong Kong importa principalmente carne bovina da Amazônia.  Ver nota de rodapé 23.

[21] Ver nota de rodapé 19.

[22] Soma do desmatamento da China Continental e Hong Kong.  As importações de carne bovina pela China estão associadas a 7% do desmatamento (4.700 hectares em 2017 – área igual à do Distrito Dongcheng de Pequim), enquanto Hong Kong foi relacionado a 27% do desmatamento (18.000 hectares – quase cinco vezes a área do Distrito Dongcheng de Pequim).

[23] Pág. 8, https://www.globalcanopy.org/sites/default/files/documents/resources/sleeping_giants_of_deforestation_-_2016_forest_500_results.pdf

[24] Trase calcula o risco de desmatamento como a média anual de desmatamento nos últimos cinco anos devido à conversão de pastos, em hectares (removendo conversões subsequentes para soja durante o período de cinco anos). Ver fonte para mais informações.

[25] Painel sobre a China: https://trase.earth/dashboards/new?selectedCountryId=27&selectedCommodityId=46&destinations%5B%5D=52 Painel sobre Hong Kong: https://trase.earth/dashboards/new?selectedCountryId=27&selectedCommodityId=46&destinations%5B%5D=104

[26] Para informações detalhadas sobre a metodologia, ver http://resources.trase.earth/documents/SEI-PCS%20Documentation%20Brazil%20beef%202.0.pdf

[27] Painel sobre a China: https://trase.earth/dashboards/new?selectedCountryId=27&selectedCommodityId=46&destinations%5B%5D=52&selectedResizeBy=25

Painel sobre Hong Kong: https://trase.earth/dashboards/new?selectedCountryId=27&selectedCommodityId=46&destinations%5B%5D=104&selectedResizeBy=25

[28] Para maiores informações, ver: https://www.solidaridadnetwork.org/news/first-steps-towards-responsible-soy-sourcing-guidelines-for-china; https://www.solidaridadnetwork.org/supply-chains/soy; https://www.solidaridadnetwork.org/news/blog-four-warning-signs-on-the-road-to-systemic-change-in-the-soy-sector

 

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