Fatos contestam a acusação contra brigadistas

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Nenhum dos quatro brigadistas estava na Área de Proteção Ambiental (APA) quando os incêndios começaram, segundo informações obtidas pelo #Colabora. Um deles estava em um barco que participava da procissão do Sairé (festa típica da região), outro estava num barco com turistas em outro afluente do Tapajós, o terceiro estava em um voo comercial indo para Santarém e o quarto cuidava de um familiar idoso que estava acamado. Todos teriam testemunhas para provar os seus paradeiros na hora em que o fogo começou.

Ana Carolina Amaral, do blog Ambiência, teve acesso a documentos que compõem o inquérito contra os brigadistas de Alter do Chão, com registro dos grampos (interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça) e medidas cautelares que resultaram na prisão preventiva de quatro membros do projeto. Após ouvir a íntegra das gravações, a jornalista revela que as conversas versam apenas sobre dúvidas dos integrantes do projeto a respeito das contrapartidas da verba recebida – se os equipamentos teriam que ser devolvidos após o término do contrato ou sobre o prazo em que o WWF-Brasil poderá se vincular a imagens de divulgação da Brigada. As frases foram tiradas de contexto para basear a interpretação da Polícia Civil no inquérito que investiga a Brigada de Alter do Chão, o que mostra a falta de base da acusação.

A matéria do Ambiência é citada pelo The Intercept em instigante análise do ocorrido. O texto chama a atenção para a coincidência entre a operação e a primeira visita do presidente Jair Bolsonaro à Amazônia depois da crise internacional provocada pelos incêndios e pelo desmatamento na área. São prisões que alimentam uma acusação rocambolesca que favorece a narrativa defendida pelo presidente desde que as queimadas tiveram início. “Até que a polícia apresente provas mais fortes, o que temos é uma tentativa da polícia e do juiz de mostrar serviço para agradar Bolsonaro e justificar a ideologia de criminalização de ONGs, uma tese estranhamente popular entre autoridades das profundezas da Amazônia. Uma tese que, enquanto não for provada, é simplesmente falsa”, conclui a matéria.

Ouvido pelo site Amazônia Real em matéria repercutindo a decisão do Juiz Alexandre Rizzi que manteve os brigadistas presos por mais dez dias, o advogado de defesa Wlandre Leal declarou: “Lamentavelmente, a Polícia Civil inverteu a ordem do processo penal. Investigado não se prende, se investiga. Eles foram presos para serem investigados”.

 

ClimaInfo, 28 de novembro de 2019.

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