Comunicação das mudanças climáticas: como melhorar?

Escreve-se e fala-se muito das mudanças climáticas e de seus impactos, mas esta grande produção não parece se refletir nas atitudes de eleitores, consumidores, políticos e executivos do setor privado. A comunicação das mudanças climáticas é difícil a ponto da BBC há pouco emitir uma orientação interna sobre como fazê-lo. Talvez não baste simplesmente melhorar a comunicação, mas pensar nela ajuda, certamente. Algumas pesquisas recentes no campo das ciências sociais podem nos ajudar a melhorar a comunicação das mudanças climáticas.

 

O medo pode ser paralisante

 

Informações emocionalmente poderosas sobre os efeitos negativos das mudanças climáticas podem contribuir para a percepção da importância destes fenômenos. Mas podem, também, fazer com que as pessoas se sintam sobrecarregadas e impotentes.

 

Uma solução indicada pelas pesquisas das ciências sociais é a combinação de informações preocupantes com sugestões construtivas. Mas é importante ter em mente que as pesquisas indicam ser mais provável que as pessoas se movam ou se sintam afetadas pela descrição dos riscos se perceberam sua própria vulnerabilidade.

 

Pesquisas recentes mostram que, por si só, informações positivas sobre a transição para um futuro de baixo carbono podem não ser eficazes. Comparando mensagens otimistas com informações sobre os riscos das mudanças climáticas, uma pesquisa mostrou que a mensagem otimista sobre o crescimento lento das emissões de carbono levou à complacência dos pesquisados, enquanto informações sobre os impactos da mudança climática provocaram mais mudanças de percepção e até de comportamento.

 

Informações emocionalmente poderosas sobre os impactos da mudança climática podem levar as pessoas à prestarem mais atenção. Mas, sozinhas, estas informações podem ser paralisantes. Por isso, elas precisam ser combinadas com informações construtivas sobre possíveis soluções, de modo a reduzir a sensação de perigo.

 

As pesquisas também mostram que a ênfase nos benefícios da ação pelo clima, ao invés da ênfase nas consequências negativas da inação, gera atitudes mais positivas em relação à mudança climática. Isso significa, por exemplo, que é melhor se concentrar nos impactos positivos da redução das emissões na saúde, ao invés de enfatizar o que pode vir a acontecer caso as emissões não sejam reduzidas.

 

Os riscos da mudança climática, em geral, soam distantes

 

A comunicação sobre os riscos da mudança climática tende a se concentrar em eventos que acontecerão no futuro, e muitas vezes em locais distantes, como no Ártico por exemplo.
Mas as pesquisas mostram consistentemente que, ao fazer ponderações, costumamos diminuir drasticamente a importância dos eventos futuros incertos, em comparação com o que acontece no aqui e no agora, e tendemos a avaliar os riscos de acordo com a proximidade destes à nossa família, amigos e colegas.

 

As pesquisas indicam que o ideal é tornar relevantes as informações locais, sem no entanto banalizar a informação.

 

Ao enfatizarmos os acontecimentos presente e mostrarmos a relevância dos impactos locais das mudanças climáticas reduzimos esta ‘distancia psicológica’.

 

Mas a concentração nos impactos locais pode reduzir a sensação de que a mudança climática é um problema global. Isto pode criar a sensação de que “a mudança climática só importa onde é relevante para mim”, o que, potencialmente, banaliza a questão, especialmente se os impactos descritos forem de pequena monta e acontecerem em países desenvolvidos.

 

Por isso, é importante encontrar um equilíbrio entre a localização dos impactos e a ligação destes com as mudanças climáticas, que podem ser mais graves em outros locais.

 

Uma dica importante é tentar focar nos benefícios para a saúde da tomada de decisões climáticas. Informações sobre os potenciais impactos da mudança climática na saúde são uma maneira poderosa de falar sobre o tema.

 

De acordo com pesquisas de opinião feitas nos EUA, a ênfase nos benefícios à saúde da tomada de decisões sobre a mudança climática faz com que a questão pareça mais relevante e torna as pessoas mais esperançosas.

 

Os riscos das mudanças climáticas são muitas vezes descritos como incertos

 

As incertezas das projeções das mudanças climáticas fazem com que as pessoas minimizem os riscos, o que faz com que as incertezas sejam exploradas pelos negacionistas do clima.

 

Uma solução possível é reestruturar o risco, focando no “quando” e não no “se”. Algumas pesquisas recomendam enquadrar a incerteza como risco. Os setores de seguros, da saúde e da segurança nacional já usam a linguagem do risco, o que a torna mais familiar. Outra indicação sugere focar no que é conhecido.

 

Isto significa, por exemplo, reescrever a sentença “Até 2072, o nível do mar subirá entre 25cm e 68cm, sendo 50cm a projeção média” como “O nível do mar subirá pelo menos 50 cm entre 2060 e 2093”.

 

Ajustes na linguagem podem melhorar muito

 

O cérebro humano depende de dois sistemas de processamento diferentes, conhecidos como Sistema 1 (intuitivo, experiencial, emocional) e Sistema 2 (deliberado, esforçado, racional).

 

O sistema 1 geralmente exerce uma influência maior na tomada de decisões. Informações abstratas sobre os impactos das mudanças climáticas precisam ser traduzidas em experiências pessoais concretas e relacionáveis, a fim de influenciar o Sistema 1.

 

Isso pode ser difícil de fazer. Quando frases-chave e termos como, por exemplo, “mudança climática” ou “aquecimento global” estão no debate público há muito tempo, mudar a linguagem de comunicação pode ter um efeito limitado. Poucos jornalistas parecem se esforçar para reformular a incerteza como risco, por exemplo.

 

Uma solução possível é construir uma narrativa mais ampla em torno dos valores das pessoas.

 

Em um livro recentemente publicado, Corner e Clarke argumentam que “usar a linguagem certa é começar um diálogo produtivo, não ganhar um argumento. Enquadrar os assuntos ao iniciar uma conversa com alguém com termos confortáveis para esta pessoa ​​é o primeiro passo para construir – e sustentar – o seu envolvimento”.

 

Isto significa usar mensagens e contar historias que dialoguem com os valores das pessoas. Por exemplo, nos EUA, os valores da criatividade, da independência, da prosperidade e da liderança fazem sentido. Na Índia, fazem sentido a união, o respeito pela natureza e a autoconfiança.

 

As pesquisas também mostram que muitas pessoas se importam intrinsecamente com o bem-estar dos outros e do meio ambiente. Apelar para o cuidado com os outros pode, portanto, ser uma motivação mais eficaz para a ação do que apenas focar no seu próprio interesse econômico.