ClimaInfo, 12 de dezembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

Desmatamento no Mato Grosso é o maior dos últimos 10 anos

O estado perdeu 1.749 km² de sua floresta amazônica entre agosto de 2017 e julho de 2018, segundo dados do INPE, o que equivale a 22% de toda a floresta amazônica perdida no período. É um péssimo resultado para um governo que há muito se vangloria dos seus esforços para a contenção do desmatamento. Uma análise feita pelo ICV mostra que metade deste desmatamento se concentrou em 10 municípios próximos à fronteira com o Pará, assim como metade da área desmatada se concentra em propriedades privadas cadastradas no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental (SICAR), 12% em assentamentos da reforma agrária, 5% em terras indígenas e 4% deveu-se à construção de duas grandes hidrelétricas – Sinop e Colíder – e a várias outras pequenas hidrelétricas.

 

O Cerrado perdeu mais de 6,6 mil km2 de vegetação nativa

O bioma perdeu 6.657 km2 de vegetação nativa entre agosto de 2017 e julho de 2018, segundo o INPE. A perda é 11% menor do que a do mesmo período do ano passado e praticamente igual à de 2016. Os valores continuam próximos aos do desmatamento na Amazônia (7.800 km2 no mesmo período), mas é importante lembrar que a área da floresta amazônica é de mais que o dobro da área do Cerrado. Frederico Machado, do WWF, disse para o UOL que “temos elementos de sobra para reforçar a importância e a urgência de proteger o Cerrado. Mesmo que o Código Florestal deixe o bioma em segundo plano, nem mesmo ele é cumprido (…) É preciso coibir os ilícitos e virar esse jogo, o que só será possível por meio de uma combinação de esforços que inclua os Ministérios Públicos Federal e Estaduais, a sociedade civil, a iniciativa privada e os governos”.

 

Ministério do Meio Ambiente anuncia antecipadamente cumprimento do compromisso feito em Copenhague

O MMA aproveitou a COP24 para apresentar um balanço das emissões associadas ao desmatamento e às remoções de CO2 da atmosfera associadas ao crescimento de árvores em todo o país. O documento do MMA faz repetidas menções a “instituições (que) optam por relatar as emissões brutas” dizendo que o correto seria relatar as emissões líquidas, ou seja, as emissões brutas menos o carbono removido da atmosfera pela regeneração de florestas em todo o país. O ministéri12 de dezembro de 2018o talvez não perceba que o relato das emissões líquidas, apenas, pode levar o público a pensar que o país parou de desmatar, o que está longe da realidade. As remoções apontadas pelo MMA são, sim, fundamentais no balanço geral das emissões, afinal uma meta futura que busque zerar as emissões líquidas do país terá que contar com as remoções para compensar setores com menor flexibilidade de redução de emissões, como o transporte rodoviário de carga e as indústrias do aço e do cimento. No entanto, fazer a conta das emissões menos as remoções no âmbito do balanço das emissões florestais é inadequado, por estes serem dois eventos – desmatamento e regeneração – separados no espaço, no tempo e nas causas.

Junto ao balanço apresentado na COP, o ministro do meio ambiente, Edson Duarte, anunciou que o país cumpriu a meta voluntária de redução de emissões assumida durante a Convenção do Clima em Copenhague, há quase dez anos. Lá, o governo se comprometeu a reduzir as emissões em torno de 38% até 2020, em relação às emissões projetadas caso o país continuasse na tendência usual. A comparação perdeu a graça, pois a projeção feita em 2009 supunha que o Brasil continu12 de dezembro de 2018aria a crescer a taxas acima de 3% ao ano. Três anos da pior recessão da história derrubaram as emissões da energia e da indústria e ajudaram a não deixar o desmatamento disparar.

O pessoal da Agência Brasil não entendeu do que se tratava e anunciou que os 38% eram a meta de redução das emissões florestais.

Em tempo: até o fechamento desta edição, a Nota Informativa do MMA não tinha sido publicada no site do ministério, apesar de ter sido distribuída oficialmente na COP24. Informaremos o link assim que for a nota for publicada.

 

Fórum Brasileiro de Mudança do Clima mostra na COP24 sua visão de longo prazo

O Fórum Brasileiro de Mudança do Clima apresentou, ontem, na COP24, sua visão de longo prazo de como enfrentar a mudança do clima. A estratégia está alicerçada em três eixos principais: zerar o desmatamento ilegal, criar incentivos para proteção florestal e para agricultura de baixo carbono, e investir em transportes mais limpos.

Interessante foi a conversa que Ana Carolina Amaral, da Folha, teve com o coordenador do Fórum, o ex-deputado Alfredo Sirkis. Ela quis saber dos planos para o próximo governo, mencionando que o novo presidente tem o poder de dissolver o Fórum. “Esse trabalho vai continuar mesmo que chova canivete. Estamos preparados para diversas contingências (…) O novo governo vai demandar capacidade de dialogar. Fui deputado com Bolsonaro e tinha relação de cordialidade com ele. Não tenho problema em dialogar com ninguém”.12 de dezembro de 2018

 

Futuro ministro da energia quer terminar Angra 3

O futuro ministro de minas e energia, Almirante Bento Costa Lima, disse que terminar a construção de Angra 3 é prioridade para sua gestão. Mesmo faltando gastar, pelas suas contas, mais R$ 15 bilhões. Mesmo sabendo que a usina só ficará pronta em 2023. Mesmo já tendo sido gastos outros R$ 8 bilhões até agora. Mesmo com um projeto usando tecnologia de meados do século passado. Mesmo tendo que cobrar do consumidor uma tarifa duas vezes maior do que a maior tarifa vigente para custear o velho projeto. O Almirante justificou falando da imprescindibilidade da usina para o suprimento da demanda futura. Acontece que, por um preço bem menor, eólicas e solares acopladas a baterias suprem o que Angra está programada para gerar, conforme estudo recentemente publicado e12 de dezembro de 2018 comentado aqui. Vale lembrar que o Almirante chefiou durante anos o projeto de construção de um submarino nuclear da Marinha.12 de dezembro de 2018

Já é discutível a necessidade de domínio do ciclo tecnológico nuclear pelo Brasil, e é ainda mais discutível o empate de quantias desta monta em meio à crise fiscal pela qual o governo do Almirante terá que navegar.

 

O ranking dos países mais comprometidos com o clima

A Suécia é, segundo um ranking lançado ontem, o país mais comprometido com a luta contra o aquecimento global. Logo após vêm o Marrocos e a Lituânia. Na outra ponta do ranking elaborado pela CAN International, pelo Germanwatch e pelo NewClimate Institute estão, de baixo para cima, Arábia Saudita, EUA, Irã, Coreia do Sul e Taiwan. Na lista dos piores ainda aparecem Rússia, Austrália e o Canadá. O Brasil está quase no meio da lista, no 22º lugar.

O ranking é resultado da aplicação do Índice de Performance de Mudança Climática (CCPI, em inglês), feito para colocar pressão nos países que estão falhando na tomada de ações decisivas contra a mudança do clima. O grupo de autores aplica o CCPI sobre um universo de 56 países que são responsáveis por 90% das emissões globais de gases de efeito estufa. O Índice se baseia em 14 indicadores agrupados em 4 categorias: emissões, energia renovável, uso de energia e política climática. Os dados, infográficos e a análise podem ser baixados do site da Germanwatch. O La Vanguardia, de Barcelona, comentou o trabalho.

 

Rumo a mais de 3oC de aquecimento global

O Carbon Tracker (CAT) também fez um ranking de países baseado nas NDCs e nos últimos dados sobre emissões, classificando-os em diferentes projeções da temperatura média global. Se os países cumprirem suas NDCs, a temperatura em 2100 estará 3oC acima dos níveis pré-industriais, 1oC acima do compromisso assumido em Paris. Se os países cumprirem suas políticas internas para a energia, a temperatura pode passar dos 3,3oC. Esses valores têm uma margem de erro de 30%. O ranking do CAT destaca os países alinhados com o objetivo de 1,5oC (Marrocos e Gâmbia), com o de 2oC (Butão, Costa Rica, Etiópia, Índia e Filipinas) e assim por diante. A lista mais sombria corresponde a um mundo no qual a temperatura sobe mais de 4oC e é composta por Rússia, Arábia Saudita, Turquia, Ucrânia e EUA. O Brasil está novamente no meio do ranking, junto com outros 8 países alinhados com um mundo 3oC mais quente. A News.Trust comentou o trabalho.

 

Por que a Índia é o país mais poluído do mundo?

As 246 usinas termoelétricas a carvão da Índia – a maioria delas ineficientes e altamente poluidoras – têm uma capacidade de geração de eletricidade de 188 GW – 60% da capacidade total do país – e o carvão provavelmente dominará por lá o mix de energia nas próximas décadas. Apesar do governo ter imposto duros padrões de emissão para usinas, as concessionárias estatais, que detêm muitas das antigas usinas a carvão, não os conseguiram cumprir, apesar da forte pressão ambientalista.

A matéria do Financial Times traz uma ótima visualização dos dados sobre poluição na Índia.

 

As geleiras do leste da Antártida estão se movimentando

A NASA detectou os primeiros sinais de derretimento significativo de uma faixa de geleiras da Antártida Oriental. Segundo a BBC, a região era considerada estável e não afetada pelas mudanças dramáticas que ocorrem em outros lugares do continente. Mas os satélites mostram agora que correntes de gelo correndo para o oceano ao longo de ⅛ da costa leste estão diminuindo e se acelerando. Se a tendência continuar, isto terá consequências para o futuro do nível do mar. Há gelo suficiente nas bacias de drenagem deste setor da Antártida para elevar a altura dos oceanos em 28 metros – se tudo derretesse.

 

Para ler

Lacunas de conhecimento em adaptação às mudanças climáticas

O Instituto de Energia e Ambiente da USP e o GVCes (Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-SP) publicaram o trabalho dentro do escopo do Projeto “LatinoAdapta: Fortalecendo vínculos entre ciência e governos para o desenvolvimento de políticas públicas na América Latina”, que é liderado pela Fundação Avina e financiado pelo IDRC, do Canadá. O objetivo do trabalho é fazer um diagnóstico das “lacunas de informação que dificultam a elaboração e a implementação de políticas e ações em adaptação no Brasil”. Os autores destacam três áreas importantes: (i) os estudos de impactos e vulnerabilidades, (ii) a criação de parâmetros e indicadores para melhor orientar a formulação de políticas; e (iii) a produção contínua e aperfeiçoada de cenários climáticos futuros. O trabalho pode ser baixado no site do GVces.

 

Para ler

A Amazônia precisa de uma economia do conhecimento da natureza

O professor Ricardo Abramovay escreve sobre o potencial crescimento econômico da contenção do desmatamento na Amazônia. Como sempre, Abramovay olha com cuidado para a população da região, argumentando que o desmatamento contribui muito pouco para seu bem-estar. Ele segue mostrando que “os custos econômicos da interrupção do desmatamento seriam irrisórios”. As Unidades de Conservação e as ameaças que as cercam comprometem “não apenas o desenvolvimento econômico da região, mas o próprio estado de direito”. E ele coloca o Brasil no contexto mundial da proteção florestal, dizendo que “é uma tendência global que acompanha o próprio processo de desenvolvimento e que o país tem condições de liderar internacionalmente”.

 

Para ler

Explicando os Eventos Extremos de 2017 na Perspectiva das Mudanças Climáticas

Como nos anos anteriores, a Sociedade Meteorológica Americana (AMS) juntou vários estudos de atribuição que analisam eventos extremos que aconteceram no ano passado, sob a ótica da mudança do clima. Algumas das perguntas são: Sem a mudança climática, estes eventos teriam ocorrido? Teriam ocorrido com esta intensidade? Com que frequência ocorrerão no futuro? O leque de eventos cobre os furacões caribenhos, as ondas de calor do sul da Europa e da Ásia; as secas intensas dos EUA e da África; as fortes chuvas do Peru, do Uruguai e de Bangladesh, dentre outros. Fábio de Castro comentou o trabalho no Direto da Ciência. A publicação pode ser baixada em capítulos no site da AMS.

 

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