ClimaInfo, 14 de dezembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

Mais que dobra a taxa de desmatamento em terras indígenas

O Instituto Socioambiental cruzou os dados do Prodes deste ano com suas próprias informações e concluiu que uma área de 26,7 mil hectares de terras indígenas (TI) foi desmatada entre agosto de 2017 e julho de 2018, um aumento de 124% em relação ao período anterior. Como nos anos anteriores, 80% deste desmatamento aconteceu em apenas 10 TIs: 6 no Pará, 2 no Mato Grosso e 2 em Rondônia. Para o ISA e outras organizações, “o enfraquecimento de leis e políticas ambientais e o recrudescimento do discurso contra elas estão consolidando um clima geral favorável aos crimes ambientais”.

Com a palavra, o futuro ministro Sérgio Moro, que disse ser o combate ao crime organizado uma de suas prioridades.

 

As expectativas do setor de energia com o novo governo

O pessoal do setor de energia dá sinais de um otimismo cauteloso com o próximo governo. Apesar do discurso liberal-privatizante de Paulo Guedes agradar a agentes do mercado, faltam indicações das equipes técnicas do ministério. Por enquanto, o ministro é um almirante especializado em submarinos nucleares que terá um contra-almirante como chefe de gabinete. O pessoal da eletricidade, do petróleo e do gás aguarda as futuras nomeações. Os três setores têm uma extensa pauta que tem seu avanço dependente do empenho do governo.

 

17 estados brasileiros não monitoram a qualidade do ar

Os quatro estados do Sudeste, o Rio Grande do Sul e o Paraná, no Sul, Goiás e Distrito Federal, no Centro-Oeste e a Bahia, no Nordeste, têm algum grau de monitoramento da qualidade do ar. Pior, um dos piores poluentes, os particulados muito pequenos, o MP2,5, só é monitorado em quatro estados. Essas são informações que o Instituto de Energia e Meio Ambiente lançou no mês passado, numa plataforma online, onde é possível ver a localização de cada estação de medição. Para cada estação, a plataforma apresenta o histórico das medições existentes.

 

Plantar florestas pode ajudar o Rio a ter água mais limpa e mais barata

Quase toda a população da cidade do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense recebe água de uma única estação de tratamento, a ETA Guandu. O Sistema Guandu capta águas carregadas de sedimentos dos rios Paraíba do Sul e Piraí. Para tratá-la, a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) gasta muito material e muita energia. Um estudo coordenado pelo WRI Brasil mostra que a restauração de 3 mil hectares de florestas na bacia do rio Guandu pode reter parte deste sedimento. Com a economia de material e energia, o projeto proporcionaria, em 30 anos, um retorno de investimento de 13%, compatível com o setor de abastecimento de água. O estudo “Infraestrutura Natural para Água no Sistema Guandu” pode ser baixado aqui. Em setembro, o mesmo grupo lançou um estudo semelhante para o Sistema Cantareira, que abastece grande parte das regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas.

 

O Brasil só tem a ganhar permanecendo no Acordo de Paris

Esta é a mensagem de um documento divulgado pela Coalizão Clima, Florestas e Agricultura. A Coalizão, que é formada por 180 organizações privadas, acadêmicas e da sociedade civil, entende que o Acordo “representa uma agenda de muitas oportunidades. Para os produtores rurais, o compromisso é visto como importante incentivo à criação de mecanismos que possam compensar produtores com excedentes de áreas preservadas em suas terras, como forma de remunerar o serviço ambiental prestado por essas áreas. Para as florestas e a agricultura, o Acordo representa uma indicação clara rumo a uma economia de baixo carbono. Uma parte relevante da economia brasileira está baseada no agronegócio, responsável por 23,5% do PIB nacional, além de 19% dos empregos formais no país. O setor é altamente dependente das condições climáticas para garantir sua produtividade. As florestas atuam como “regador” da agricultura brasileira e protegê-las é o melhor caminho para garantir a perenidade do setor”. Giovana Girardi escreveu a respeito no Estadão.

Em tempo: O ministério de Tereza Cristina mudará de nome. Deixará de ser da agricultura e pecuária para ser dos alimentos e desenvolvimento rural.

 

Impasses e dificuldades na COP24

As duas grandes preocupações levantadas antes da COP24 estão se concretizando: os compromissos financeiros dos países ricos e o detalhamento do Livro de Regras. Quem acompanha as negociações está sentindo a falta de uma liderança que consiga bater martelos e que ajude a enfrentar a polarização entre ricos e pobres. Daniela Chiaretti, do Valor Econômico, conversou com ministros e diplomatas, inclusive brasileiros, e deu como exemplo a questão da periodicidade dos inventários nacionais de emissões. Os países ricos devem reportar seus inventários anualmente e tem quem ache que todos os países deveriam fazer o mesmo, não aceitando que países mais pobres não tenham recursos para tal. O mesmo vale para o dinheiro prometido pelos países ricos para ajudar a mitigação e a adaptação dos mais pobres. Nesta questão, mais uma vez como destacado por Derek Hanekom, da África do Sul, “os países não estão na mesma posição. Alguns têm mais recursos, outros são mais vulneráveis. A diferenciação é um desafio nesta Conferência. É preciso que isso seja entendido e que exista algum grau de flexibilidade nas exigências”.

Interessante é ver empresas privadas que participam da Convenção como observadoras temerem que o Livro de Regras acabe saindo genérico demais. Jake Schmidt, de um grupo americano de advocacy, disse que “regras fracas criam incertezas. Se temos países mostrando que cumprem suas metas, mas as emissões continuam a aumentar, saberemos que regras fracas deixaram a mudança do clima correr solta”. A esta declaração, Andreas Ahrens, que é responsável pelo clima na Ikea, adicionou que “o que estamos tentando colocar aqui é um sentido de urgência. Nós só queremos voltar a trabalhar. Nós precisamos do Livro de Regras”.

 

COP24 aprova a Declaração Florestas para o Clima

Anteontem, foi aprovada na COP24 a Declaração Ministerial de Katowice “Florestas para o Clima”. Seu talvez mais importante ponto ficou de fora. O governo polonês, anfitrião da Conferência, queria que a Declaração dissesse que as remoções de CO2 da atmosfera pelas florestas deveriam ser descontadas das emissões totais dos países. No caso particular da Polônia, isso significaria uma redução importante no seu inventário de emissões. No final, a Declaração tem dez considerandos, um empenho e dois encorajamentos. Talvez seja pouco perante a importância das florestas para as mudanças do clima, pela vulnerabilidade destas e, também, por serem parte da solução.

 

Fábrica de cimento começa a enterrar suas emissões

A cimenteira Norcem Brevik anunciou que, em breve, seu sistema de captura e armazenamento de Carbono (CCS) entrará em operação evitando metade das emissões da planta de Brevik, Noruega. A fábrica já havia conseguido trocar 70% dos combustíveis fósseis por alternativas como resíduos de papel, de produtos têxteis e plásticos, reduzido ⅓ das suas emissões. O CCS é, até o momento, a única alternativa para reduzir as emissões na fabricação do clínquer, base do cimento em todo o mundo. Se a instalação funcionar como previsto, a Norcem espera capturar a outra metade das emissões até 2024.

 

Em breve, seguros residenciais não mais cobrirão incêndios florestais

Os incêndios florestais que devastaram a Califórnia este ano mataram 86 pessoas e destruíram ou danificaram mais de 20 mil residências. Agora apagados, estão provocando mais uma vítima: os seguros residenciais. A Aon, a maior seguradora dos EUA, estima que seu prejuízo chegue a US$ 10 bilhões, pelo segundo ano consecutivo. Assim, a empresa e um conjunto de outras seguradoras começam a avisar o mercado que estão pensando em retirar os incêndios florestais da cobertura de seguros residenciais e até em parar de oferecer este tipo de cobertura em regiões especialmente vulneráveis. Até agora, incêndios florestais entravam na categoria de riscos secundários, cobertos por qualquer tipo de seguro residencial, diferentemente de terremotos e furacões que, muitas vezes, fazem parte de um seguro especial à parte do normal. O risco de incêndio depende um pouco do proprietário do imóvel, de quão perto ele está da linha das árvores e de como os bosques próximos são cuidados, por exemplo, cortando árvores mortas e vegetação mais seca. Mas, como disse Greg Lowe, chefe de resiliência da Aon, “o risco climático crônico é a mudança paulatina que preocupa todas as empresas”. Um risco que nada tem a ver com o que acontece na proximidade das propriedades.

 

Satélites medem as emissões de metano e mapeiam o estado do gelo nos dois polos

Dois satélites apareceram no noticiário esta semana. O ICESat-2, lançado pela NASA há três meses, consegue medir a altura da camada de gelo na Antártica com precisão de centímetros e está revelando precisamente o relevo dos vales do continente. Da mesma maneira, ele está fotografando camadas de gelo no Ártico e enxergando a profundidade de águas costeiras. A precisão dos instrumentos é tal que fotos de florestas mostram, além das copas das árvores, os pedaços de vegetação e chão entre elas.

Com o derretimento do permafrost, aumentou a preocupação com a liberação de metano e de dióxido de carbono das lagoas que estão se formando. Pesquisadores estão usando dados coletados por um tipo especial de radar instalado em um satélite japonês para detectar como os fluxos de bolhas de metano deformam a superfície da camada de gelo que se forma sobre esses lagos no outono e no inverno. Melanie Engram, da Universidade Alaska Fairbanks, comentou que “é realmente excitante; podemos ver a rugosidade do gelo – as falhas criadas pelas bolhas de metano”.

 

Para ler

Plantas Pequenas do Cerrado: Biodiversidade Negligenciada

Pesquisadores do Instituto Florestal de São Paulo compartilharam em livro o conhecimento adquirido em anos de pesquisas com as plantas pequenas do Cerrado paulista. Eles ressaltam a importância de plantas que não são árvores, e de ecossistemas que não são florestas.

O livro de mais de 700 páginas pode ser baixado aqui. Corra antes que algum governo o tire do ar.

 

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