A mudança do clima e a segurança nacional

O ex-Ministro da Marinha do governo Collor, almirante Mario Cesar Flores, manifestou em artigo preocupação com “meio ambiente, clima e suas relações com a política externa”, em função de uma série de decisões e declarações feitas nestes primeiros dias do novo governo. Como “meio ambiente e clima não se sujeitam às fronteiras políticas”, ele discorda do discurso de afastamento de organismos multilaterais, “que são essenciais num mundo integrado e diverso”. E coloca que o bilateralismo é um jogo ruim quando a disparidade entre os parceiros é muito grande. Ao fim, o recado do almirante é quase uma prece: “Resta ‘torcer’ para que (as mudanças do novo governo) sejam protegidas das injunções de interesses econômicos, da conveniência de associações bilaterais e de arrolos do nacionalismo populista ao estilo “America first”, quando não sancionadas pelo multilateralismo global e/ou implicarem condutas contrárias ao que sugerem a ciência e a realidade. E protegidas de influências ideológicas do tipo “a questão climática seria um complô marxista”.

Adriana Erthal Abdenur, do Instituto Igarapé, escreveu um artigo sobre a inter-relação entre segurança nacional e mudança do clima. Ela cita impactos diretos de furacões, vendavais e enchentes em bases militares. Mas, mais importante do que impactos diretos, Abdenur aponta para os conflitos causados ou agravados por condições climáticas extremas. Ela coloca na pauta algo bem mais próximo a nós: “Na Amazônia, mudanças nos padrões pluviais afetam os padrões de seca e de inundações. Isso exacerba os conflitos em torno da terra, provoca enormes fluxos migratórios internos e contribui para crises hídricas em grandes regiões metropolitanas, tais como São Paulo.” E adverte: “Faltam, portanto, políticas e diretrizes que levem a sério o enorme impacto que as mudanças climáticas já surtem sobre os interesses nacionais, e os efeitos ainda mais graves que o fenômeno causará sobre a segurança durante as próximas décadas. As mudanças climáticas requerem uma visão a longo prazo, sob uma ótica de direitos humanos e fundamentada no planejamento sistemático e de precaução.”

Recados do almirante e da pesquisadora se alinham.

 

Boletim ClimaInfo, 11 de fevereiro de 2019.