ClimaInfo, 12 de fevereiro de 2019

ClimaInfo mudanças climáticas

Sínodo dos Bispos católicos para a Amazônia entra na mira da inteligência das forças armadas

Em 2017, o Papa Francisco visitou a Amazônia peruana e prometeu realizar um Sínodo com bispos de toda a região. O Sínodo está programado para acontecer em Roma no próximo outubro. Neste final de semana, o Estadão reportou que o núcleo militar do governo está preocupado com críticas que possam emergir às suas ações ou intenções para a região. Em nota de esclarecimento feita após a repercussão da matéria do Estadão, o Gabinete de Segurança Institucional do General Augusto Heleno disse que “existe a preocupação funcional do Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional com alguns pontos da pauta do Sínodo sobre a Amazônia que ocorrerá no Vaticano, em outubro deste ano. Parte dos temas do referido evento trata de aspectos que afetam, de certa forma, a soberania nacional. Por isso, reiteramos o entendimento do GSI de que cabe ao Brasil cuidar da Amazônia Brasileira.” Além disso, o governo fez contatos diplomáticos com a Itália (equivocados já que teriam que ser feitos com a cidade-estado do Vaticano) para que possa enviar representantes ao Sínodo.

Para este governo, é legítimo criticar governos de outros países, mas não é legítimo que bispos brasileiros discutam suas ações sobre a Amazônia. Para eles também é legítimo querer estar presente em uma reunião no estado independente do Vaticano que, igualmente, zela pela sua soberania.

O Documento Preparatório do Sínodo dos Bispos para a Assembleia Especial para a Pan-Amazônia pode ser obtido aqui.

 

Riscos apresentados pelas barragens são maiores do que aparentam

Antonio Penteado Mendonça escreveu na sua coluna no Estadão que os riscos das barragens brasileiras são muito maiores do que aparentam. O argumento mais forte de Mendonça é que “as barragens em si não são o grande problema. O nó se materializa na falta de manutenção, nas reformas fora das especificações, no uso indevido, na extrapolação da capacidade, na falta de monitoramento e até no abandono da instalação, como acontece com várias barragens espalhadas pelo território brasileiro.” E, segundo o autor, “se o cenário está longe de ser confortável, o quadro fica mais grave quando se sabe que a imensa maioria dessas barragens, ou dos responsáveis por elas, não têm qualquer tipo de seguro que minimize os impactos que um vazamento de água ou qualquer outro produto possa causar à população, à região e ao meio ambiente.”

 

Uma crítica ao não-planejamento urbano brasileiro

Philip Yang, do Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole (Urbem), escreveu no Valor sobre o desperdício de dinheiro público, de tempo e das expectativas que planos urbanos em várias cidades brasileiras frustraram nos últimos dez anos. A “lista de malogros é conhecida no setor. Inclui, entre outros, investimentos em companhias e projetos como o Parque Global, a Cipasa, a Scopel, o Parque da Cidade e o Porto Maravilha”. Yang lista algumas causas mais comuns a esses fracassos: “momento errado de entrada ou saída do investimento, projetos equivocados, problemas de gestão e governança, localização ruim, desalinhamento entre expectativa de crescimento do capital financeiro versus a natureza de crescimento orgânico do setor imobiliário, a falta de uma regulamentação justa de distratos, insegurança jurídica e, não menos importante, o travamento de projetos por problemas com aprovações e licenças junto ao poder público.” Ele identifica polarizações parecidas com as encontradas nos espaços políticos, mas com um diagnóstico bastante interessante: “grupos de pressão atuam de forma crítica apontando apenas problemas, e não as soluções. Órgãos de controle, a academia, grupos de bairro e reguladores atuam com extrema desconfiança do mercado. O resultado é claro: as forças de travamento são mais fortes do que as de avanço. Ou, pior, obtém aprovação apenas os projetos ordinários, menores, num momento em que o Brasil urbano mais precisa de inovação e ousadia, para que os desequilíbrios sócio-espaciais possam ser reduzidos.” Touché.

 

Chove menos no Sudeste e térmicas voltam a operar

As chuvas irregulares de janeiro e deste começo de fevereiro preocuparam o Operador do Sistema Elétrico que decidiu acionar as térmicas fósseis para armazenar água nos reservatórios, principalmente do Sudeste. O nome técnico é “despacho fora da ordem de mérito” porque a energia das térmicas é bem mais cara do que a das hidrelétricas. Sinal de aumentos nas próximas contas de luz. Caso volte a chover forte nas próximas semanas e nos lugares certos, talvez o Operador volte a desligá-las.

 

Governo é contra o protecionismo dos outros países, mas protege o produtor nacional

Parte da indústria e da agropecuária brasileiras quer que o governo trabalhe duro na Organização Mundial do Comércio e em outros foros internacionais para que os outros países reduzam suas tarifas de importação para os produtos brasileiros. A ministra da agricultura assinou embaixo.

Ao mesmo tempo, Tereza Cristina diz que o governo não pode retirar de vez todos os subsídios concedidos ao agricultor quase gritando: “Vamos quebrar a Agricultura? É esse o propósito? Tenho certeza que não é. Não se pode criar um pânico no campo: acabou o dinheiro!” A ministra também pediu para o governo “compensar os laticínios brasileiros afetados pela decisão do Ministério da Economia de pôr fim às tarifas antidumping sobre o leite em pó oriundo de União Europeia e Nova Zelândia.”

Na mesma toada, setores da indústria concordam que é preciso abrir a economia brasileira para os produtos importados, mas sem pressa, com muito cuidado para não matar a indústria nacional.

Afinal, para que ser coerente?

 

Green New Deal, a ousada proposta democrata para as energias renováveis e o clima

A ala mais à esquerda do partido Democrata dos EUA saiu fortalecida nas eleições de novembro, ocupando várias cadeiras na Câmara de Representantes. Uma de suas figuras mais emblemáticas é a jovem deputada Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York. Ela lançou uma ideia que rapidamente ganhou adeptos dentro do partido e que acaba de virar um programa escrito em parceria com o Senador Edward Markey. O programa, batizado como Green New Deal (Novo Acordo Verde), busca inspiração no grande acordo que o presidente Roosevelt instituiu na esteira da grande crise de 1929. Frente a uma quebra monumental de empresas e um desemprego igualmente monumental, Roosevelt investiu em três eixos: programas de apoio a fazendeiros, a desempregados e à população carente; recuperação da economia por meio de um amplo programa de obras; e uma reforma do sistema financeiro. A versão verde se inspira no segundo eixo para atacar a mudança do clima. Os autores reconhecem que, apesar dos avisos do relatório especial 1,5°C do IPCC feitos  no ano passado, muito pouco tem sido feito para evitar os piores cenários. A proposta, então, é criar um programa que investirá trilhões de dólares para mudar a matriz energética norte-americana, tornando-a limpa e renovável. A proposta tem recebido apoio de um vasto leque do público americano, inclusive de alguns membros do partido Republicano.

A crítica mais aguda veio de outra ala dos Republicanos, que vê na proposta a volta de políticas da esquerda do país. Dizem que, ao invés de se limitar a atacar o problema do clima, a proposta reestrutura o governo, tornando-o novamente grande e todo poderoso. Alguns analistas acreditam que, a tomar força, o New Green Deal criará as armas perfeitas para a campanha de reeleição de Trump. Ao que tudo indica, a iniciativa recolocou o clima na linha de frente das eleições de 2020.

Os setores mais liberais, como a revista The Economist, torceram o nariz dizendo que é o remédio velho e errado para a doença climática.

Nos últimos dias, quase todos os veículos comentaram a iniciativa. Um bom resumo dos argumentos dos vários lados foi feito pelo pessoal do Climate Nexus. Vale dar uma olhada nas matérias dos Washington Post, New York Times e The Guardian. E tem outro artigo interessante, sob o ângulo da tecnologia, na Technology Review.

 

Mudança do clima é percebida como a maior ameaça em 26 países

Uma pesquisa recém divulgada pelo consagrado Pew Research Center mostra que a mudança do clima é percebida como a maior ameaça global e o principal fator de risco. A pesquisa cobriu 26 países, entrevistando mais de 27 mil pessoas, entre 14 de maio e 12 de agosto do ano passado. Comparando as medianas, a preocupação com o clima subiu de 53%, antes da assinatura do Acordo de Paris, para 67% em 2018. Brasil, México e Argentina foram os latino americanos da amostra e as medianas seguem acima de 70%. Especificamente aqui no Brasil, a pesquisa perguntou a orientação ideológica e constatou que a mudança do clima é o maior risco, independente do entrevistado se declarar de centro (85%), de esquerda (74%) ou de direita (69%). A Folha comentou a pesquisa.

 

Inundações mortais no deserto mais seco do mundo

Choveu forte, muito forte, no deserto do Atacama, norte do Chile. O deserto mais seco do mundo está sofrendo inundações-relâmpago desde o final do ano passado. Seis pessoas já morreram nessas enxurradas. Mais ao sul, o país sofre com a nova leva de incêndios florestais que destruíram quase 10.000 hectares de lavouras e florestas. Matérias no El Espectador e na Bloomberg contam mais sobre o clima de verão no Chile.

 

Tempestades de vento intensificam a degradação da floresta Amazônica

As tempestades de vento são distúrbios que ocorrem naturalmente na Amazônia, porém podem amplificar os impactos na floresta do desmatamento e do fogo. Um artigo publicado na Journal of Ecology explora as sinergias entre derrubadas de florestas, fogo e tempestades de vento como causas da degradação na Amazônia. As áreas mais fragmentadas e as já atingidas previamente por fogo são as que mais sofrem com os efeitos das tempestades de vento. Em razão das mudanças previstas para o clima, a tendência é vermos incidência de tempestades mais fortes e intensas. Para mais detalhes, consulte a matéria do IPAM.

 

Os impactos climáticos da perda de gelo antártico transcendem o aumento no nível do mar

Quando se pensa no derretimento do gelo no continente Antártico, logo vem a ideia de um aumento brutal no nível dos oceanos. De fato, as últimas contas indicam que, no dia em que todo o gelo de lá derreter, o nível do mar estaria quase 60 metros acima do atual. Nenhuma cidade costeira no mundo sobreviveria. Mas os impactos do derretimento não se limitam à elevação do nível do mar. Em artigo publicado recentemente na Nature, os autores explicam que uma massiva corrente de água doce gelada entrando nos oceanos provocaria impactos para além da linha costeira. Os autores examinaram as grandes correntes oceânicas para detectar sinais de alteração. A Circulação de Revolvimento Meridional do Atlântico Norte (AMOC, em inglês) dá sinais de que está mais lenta, bagunçando a Corrente do Golfo e ajudando os invernos na Europa a ficarem mais frios e os verões, mais quentes. Um artigo na Vox comenta este e outro trabalho recente sobre as camadas terrestres de gelo na Antártica e na Groenlândia.

 

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