Governo parece querer retomar estratégia da ditadura para ocupar a Amazônia

LINS5362 - RIO DE JANEIRO - RJ - 07/10/2018 - ELEIÇÕES / RIO / JAIR BOLSONARO - POLÍTICA OE - O presidente do PSL, Gustavo Bebianno Rocha, durante coletiva cedida a imprensa após apuração dos votos do primeiro turno das eleições 2018, na noite deste domingo, 07, no hotel Windsor, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Jair Bolsonaro, presidenciável pelo PSL, disputa o segundo turno pela presidência da República contra Fernando Haddad, do PT. Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Matéria do Estadão de ontem fala dos planos do governo Bolsonaro para ocupar a Amazônia que incluem uma ponte sobre o Rio Amazonas, uma hidrelétrica perto da foz do Rio Trombetas e a extensão da BR-163 até a fronteira com o Suriname, estrada que, hoje, liga o norte do Mato Grosso a Santarém. Quem conhece um pouco da região não conseguiu entender a lógica que leva a propor a construção de uma ponte sobre um dos trechos mais profundos do Rio Amazonas. Ainda mais porque esta ligaria a cidade de Óbidos, que fica a quase 100 km a oeste de Santarém, numa região alagadiça nas duas margens. Ou seja, a ponte teria que cruzar o rio e se estender por uma região difícil ao longo de toda esta distância. Dali, a estrada subiria mais de 500 km até chegar na fronteira, sem nada no meio a não ser terras indígenas e floresta.

Três ministros visitariam hoje a região para falar do projeto, mas a viagem foi cancelada no final da tarde de ontem. Entre os três não havia ninguém da infraestrutura. A viagem estava prevista para os ministros do meio ambiente, Ricardo Salles; da mulher, família e direitos humanos, Damares Alves; e Gustavo Bebianno, da secretaria-geral da presidência. Seria a primeira viagem da vida de Salles à Amazônia. O governo não explicou o porquê do cancelamento.

Pelas declarações dos generais, o plano lembra o projeto Calha Norte, que fez parte da estratégia “Integrar para não Entregar” da ditadura militar para a Amazônia. A referência ao Triplo A, feita pelo presidente durante a campanha, parece estar sendo levada a sério.

Agora, pensemos um pouquinho: colocar dinheiro público num projeto deste porte violaria todos os mandamentos da cartilha liberal do ministro Guedes. E, dado que o objetivo estratégico é a garantia da soberania nacional, investidores externos não seriam vistos com bons olhos. De onde viria o dinheiro para tão extravagantes ideias?

 

Boletim ClimaInfo, 13 de fevereiro de 2019.