Deu no New York Times: é hora de entrar em pânico

A era do pânico climático chegou e as ondas de calor que no último verão do hemisfério norte mataram dezenas de pessoas de Quebec ao Japão, os incêndios florestais mais destrutivos da história da Califórnia  e os furacões que forçaram três milhões de chineses a fugir de suas casas devem nos abrir os olhos para este fato. E olha que estamos vivendo em um mundo que aqueceu somente um grau Celsius desde o final de 1800.

O pânico pode parecer contraproducente, mas para David Wallace-Wells, chegamos a um ponto tal que o alarmismo e o pensamento catastrófico são valiosos, por várias razões.

A primeira é que a mudança climática é uma crise precisamente porque é uma catástrofe iminente que exige uma resposta global agressiva, já. Em outras palavras, é justo que estejamos alarmados. A trajetória das emissões que estamos percorrendo nos levará provavelmente a 1,5oC de aquecimento até 2040, 2oC dentro de décadas e, talvez, 4,0oC até 2100.

A segunda razão é que, ao definir com maior precisão o limite do concebível, o pensamento catastrófico torna mais fácil ver claramente a ameaça das mudanças climáticas.

A terceira é que enquanto a preocupação com a mudança climática está crescendo, a complacência continua sendo um problema político muito maior do que o fatalismo.

Um quarto argumento para abraçar o pensamento catastrófico vem da história: o medo pode mobilizar, até mesmo mudar o mundo. Quando Rachel Carson publicou seu polêmico livro antipesticida “Primavera Silenciosa”, a revista Life disse que Carson “superestimou seu caso”, e o The Saturday Evening Post rejeitou o livro como “alarmista”. Mas ele levou quase que sozinho a uma proibição do DDT.

Finalmente, o argumento talvez mais forte a favor do pensamento catastrófico é que todos os nossos reflexos mentais seguem na direção oposta, em direção à descrença sobre a possibilidade de resultados muito ruins. Wallace-Wells diz ter aprendido isso por experiência própria, por ter passado os últimos três anos enterrado na ciência climática e seguindo a pesquisa à medida que ela se expandia para territórios cada vez mais escuros. Ele diz que “o número de artigos científicos com ‘boas notícias’ que encontrei neste período provavelmente pode ser contado com os dedos das minhas duas mãos. Enquanto os artigos que trazem ‘más notícias’ são provavelmente milhares e, a cada dia, que passa parecem trazer uma nova e angustiante revisão para a nossa compreensão do trauma ambiental que já se desenrola.”

 

Boletim ClimaInfo, 18 de fevereiro de 2019.