ClimaInfo, 19 de fevereiro de 2019

ClimaInfo mudanças climáticas

Traders dão um passo relevante para a proteção do Cerrado

Seis traders internacionais de commodities agrícolas anunciaram, na última 6ª feira, um mecanismo conjunto de monitoramento do desmatamento do Cerrado em suas cadeias de suprimento de soja. Cargill, Bunge, Archer Daniels Midland Co., COFCO International, Glencore Plc e Louis Dreyfus Company se comprometeram a detalhar a quantidade de soja proveniente do Cerrado e as compras feitas nos municípios que apresentam maior risco de desmatamento. As primeiras conclusões serão apresentadas em junho. O comunicado não inclui um compromisso com o fim das compras em áreas desmatadas no Cerrado, mas pode ser um bom passo nesta direção.

 

Agricultura avança sobre áreas de pastagem

As áreas cobertas por plantações dobraram no Brasil entre 2000 e 2014, e pelo menos 20% dessa expansão ocorreu sobre vegetação nativa, segundo estudo da Universidade de Maryland, EUA. No período, a conversão de áreas naturais em plantações foi maior no Cerrado: 2,4 vezes mais que na floresta amazônica. Do total de novas áreas abertas para plantações no Brasil no período, 79% ocuparam antigos pastos, enquanto 20% avançaram sobre áreas de vegetação natural, de acordo com Viviana Zalles, pesquisadora líder do estudo. Segundo a pesquisadora ouvida pelo Direto da Ciência, os resultados do estudo sugerem que as políticas públicas de uso do solo no Brasil contribuíram para frear a expansão da fronteira agrícola sobre a Floresta Amazônica – e isso também explicaria o maior avanço das plantações sobre áreas naturais do Cerrado, que não possui as mesmas proteções ambientais. “Por outro lado, vemos que, a partir de 2006, a expansão agrícola permaneceu baixa na Amazônia, enquanto aumentava fortemente na região do Cerrado, onde as proteções ambientais são reduzidas. É bem possível que a redução na Amazônia não tivesse acontecido sem a moratória da soja.” Ainda segundo Viviana, o estudo traz uma boa notícia ao sugerir que o Brasil pode aumentar em muito sua área de produção agrícola sem aumentar o desmatamento. “É uma mensagem muito importante do estudo: é possível desenvolver a agricultura e a economia sem desmatar”.

 

Clima derruba a safra de soja e a balança comercial

“Foi um ano diferente, com setembro bastante chuvoso, quando fizemos o plantio. Mas, em novembro, só tivemos chuvas isoladas e a soja já ficou manchada, castigada pela seca.” A reclamação do produtor entrevistado pelo Estadão se repete em várias partes do país e levou a Aprosoja a estimar uma quebra na safra 2018/19 da ordem de 16 milhões de sacas numa colheita esperada inicialmente de 117,2 milhões de sacas, por conta de problemas climáticos em 12 estados. As perdas no Paraná são mais severas, da ordem de 30%; na Bahia e no Piauí as perdas são da ordem de 20%; e, em Goiás, de 17%. As estimativas mais otimistas indicam perdas de R$ 4,3 bilhões, enquanto as mais pessimistas chegam a R$ 7 bilhões. Por conta da menor colheita, a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) prevê uma queda de 12% nas exportações de soja em 2019. O país deve exportar 73 milhões de toneladas, enquanto exportou 82,8 milhões de toneladas em 2018.

 

Salles quer militares comandando o Ibama nos estados

A jornalista Eliane Cantanhêde escreveu no Estadão de ontem sobre a presença cada vez maior de militares da reserva no governo Bolsonaro. Ela dedica um bom trecho ao ministério do meio ambiente: “Ao anunciar nesta semana o fim da superintendência do Ibama no DF e a substituição de exatamente todos os demais 26 superintendentes estaduais, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, tem um objetivo muito claro: substituir pelo menos 20 deles por militares”. Para ele, “não se pode brincar com isso, os superintendentes é que concedem licenças e alvarás e eu não sou obrigado a conhecer gente confiável em todos os estados, no Amapá, no Acre, em tantos lugares em que nunca fui”. Cantanhêde lembra que como “os militares têm boa formação e se aposentam cedo, como coronéis e capitães, não é difícil encontrar mão de obra. Eles, aliás, já ocupam cargos-chave no ministério de Salles, inclusive a chefia de gabinete.”

 

“Doa a quem doer”: é preciso punir empresas que provocam desastres

O professor José Goldemberg recapitulou no Estadão a gênese do licenciamento ambiental ainda durante o governo militar e o emblemático caso de Cubatão. Na época, a Petrobrás, uma enorme siderúrgica estatal e multinacionais da petroquímica e de fertilizantes transformaram o município em dos locais mais poluídos do planeta, levando ao nascimento de crianças anencéfalas, a quase 100 mortos na explosão de um duto de gasolina e à desfiguração da Serra do Mar por conta da chuva ácida, entre outras tragédias e mazelas. Naquele momento, a recém-criada Cetesb interditou, multou e enfrentou os grandes poluidores na justiça, e ganhou. A lição que o professor tira dessa história é que às vezes é preciso interditar operações e empresas para que o meio ambiente seja respeitado. Em um sistema altamente judicializado, as multas dificilmente são pagas e o poluidor punido. “Para evitar novos desastres, como em Mariana e Brumadinho, o governo federal precisa demonstrar claramente que vai aplicar as leis vigentes, “doa a quem doer”. Somente assim os técnicos e engenheiros responsáveis pelos projetos e pela fiscalização ambiental se sentirão respaldados para propor a interdição de projetos inadequados e não conceder novas licenças sem a permissão de medidas protetoras da população.” Goldemberg aproveita para dar uma alfinetada no governo Bolsonaro, o qual “não ajudou nada, até agora, a resolver os problemas reais do setor ao reduzir o status do ministério do meio ambiente (que até cogitou de extinguir) e tolerar entrevistas e declarações de membros de sua administração, desqualificando a defesa do meio ambiente como inspirada por agentes internacionais e, de modo geral, “xiita” nas suas reivindicações.”

 

A importância dos povos indígenas na preservação da natureza

O Vaticano divulgou uma nota sobre o encontro do Papa Francisco com um grupo de 38 delegados de 31 povos indígenas provenientes das Américas, África, Ásia e do Pacífico. Disse o Papa que “a presença de vocês aqui mostra que as questões ambientais são de extrema importância, porque o nosso planeta está ferido por causa da avidez humana, pelos conflitos bélicos”. E agradeceu a presença deles dizendo “obrigado a todos vocês pela tenacidade com que afirmam que a terra não deve ser apenas explorada sem um objetivo. Obrigado por levantarem a voz para assegurar que o respeito ao meio ambiente deve ser sempre salvaguardando acima dos interesses exclusivamente econômicos e financeiros.” Francisco reconheceu que “os povos indígenas são um grito vivo em favor da esperança. Recordam que nós, seres humanos temos uma responsabilidade compartilhada com o ‘cuidado da casa comum’.” O Papa foi encontrá-los na 4ª reunião do Fórum dos Povos Indígenas organizado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola.

 

Merkel e o movimento dos adolescentes pelo clima

A chanceler alemã, Angela Merkel, aproveitou o discurso que fez na Conferência de Segurança de Munique para dizer que “na Alemanha, crianças estão protestando pela proteção do clima. É um tema realmente importante”. Na semana passada, 30 mil estudantes alemães fizeram uma greve de um dia. Nos últimos meses, estudantes em todo o mundo vêm tomando as ruas para exigir ações climáticas, inspirados pelo exemplo de Greta Thunberg, a garota sueca de 16 anos que iniciou este movimento no último verão. Merkel basicamente evocou “forças ocultas” por trás do movimento quando disse que “vocês não podem imaginar que todas as crianças alemãs, depois de anos, e sem nenhuma influência externa, de repente tiveram a ideia de que tinham que participar do processo.”

Merkel parece ter se esquecido que “depois de anos” de inação dos líderes mundiais, como a própria chanceler, o clima está mudando a olhos vistos e, sim, crianças e adolescentes estão indo às ruas movidos pelo simples desejo de ter futuro.

 

Suíça planeja fazer do limão do derretimento de suas geleiras uma limonada de hidrelétricas renováveis

O New York Times fez uma matéria muito bonita sobre o encolhimento das geleiras nos Alpes suíços. O streaming de abertura mostra uma ponte a uma tremenda altura sobre um lago de águas de geleira. Os textos contam que, há 20 anos atrás, a ponte não existia e era possível fazer o mesmo percurso andando sobre a geleira. Mas o cerne da matéria se refere aos suíços estarem estudando o que fazer com o derretimento cada vez mais rápido de suas geleiras. Hoje, metade da eletricidade gerada na Suíça vem de hidrelétricas movidas pela água do derretimento de geleiras. Cientistas dizem que, a se manter a toada atual, em 2090 não haverá mais geleiras e, portanto, não haverá eletricidade renovável. Mas os suíços estão estudando e projetando a futura topografia dos lagos que conterão as águas das geleiras derretidas. Com isso, pretendem construir hidrelétricas em locais onde, hoje, só há gelo. Na medida em que esse gelo for derretendo, a água passará por uma, duas ou até mais hidrelétricas em série, quando, hoje, só há uma.

 

Plantar um trilhão de árvores para conter o aquecimento global

O professor e sua equipe desenvolveram ferramentas para analisar fotos de satélite que, combinadas com resultados de pesquisas de campo, tentam estimar quantas árvores existem no planeta. A conta chegou a cerca de 3 trilhões de árvores, 7 vezes mais do que última estimativa feita pela NASA. Crowther foi além: somou as áreas degradadas ou abandonadas, excluindo cidades e lavouras, e estimou ser possível plantar mais 1,2 trilhão de árvores sem deslocar pessoas ou ameaçar a segurança alimentar. O crescimento desta quantidade de árvores sugaria 130 bilhões de toneladas de carbono da atmosfera ou o equivalente a dez anos de emissões globais como as do ano passado, empurrando assim os impactos das mudanças climáticas para muito além. O jornal inglês The Independent e o site belga HLN deram a notícia.

 

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