Os maiores latifundiários do país não são índios

O jornalista Claudio Angelo mostra que o uber-ruralista Nabhan Garcia se enganou redondamente ao dizer que o maior latifundiário do Brasil é o índio. Claudio teve a paciência de explicar que “essa entidade – o índio – não existe. São 250 povos, falantes de 150 línguas diferentes, vivendo em realidades geográficas diversas, com costumes e relação com a sociedade não-índia bastante diferentes. A única coisa a uni-los é o infortúnio histórico de terem estado por aqui naquele 22 de abril e sobrevivido os 519 anos seguintes”. Claudio parte, então, para as contas. Cria uma unidade latifundiária, à que dá o nome de ‘IndiMaggi’, calculada a partir da área das fazendas do ex-ministro Maggi e de suas 4 irmãs. Um IndiMaggi é equivalente a 50.000 hectares por indivíduo Maggi. Claudio pega um dos exemplos mais citados como índios “latifundiários”, os ianomâmis, e mostra que cada um deles tem 100 vezes menos terras do que cada membro da família Maggi. Os guaranis de Dourados, no Mato Grosso do Sul, por sua vez, têm ¼ de hectare por pessoa, ou 200.000 vezes menos do que um dos Maggi.

Se a narrativa de Nabhan é ficção, os assassinatos de índios não o são. Nesta madrugada, um cacique da etnia Tukano foi morto a tiros na casa em que morava, na comunidade Urukia, na Zona Norte de Manaus. E, na 2a feira, foi encontrado um outro indígena morto, carbonizado na cidade de Águas Belas, no agreste pernambucano. Claudio Angelo, no seu artigo, diz que a narrativa de Nabhan dá “a senha a invasores de terras indígenas e ao crime organizado fundiário para entrar e ficar à vontade”.

 

Boletim ClimaInfo, 28 de fevereiro de 2019.

x (x)