Rubens Valente escreveu sobre a tensão gerada nos Waimiris-Atroaris pela intenção governamental de atravessar suas terras com a linha de transmissão Manaus-Boa Vista. Ele fala da história deste povo e do contato com os brancos, especialmente com os militares. A parte pesada da história acontece durante a construção da BR-174 durante a ditadura militar. Valente se refere a um documento no qual o general de brigada Gentil Nogueira Paes, responsável pela obra, ordena à tropa a realização de “pequenas demonstrações de força, mostrando aos mesmos [índios] os efeitos de uma rajada de metralhadora, de granadas defensivas e da destruição pelo uso de dinamite”. A operação toda ficou guardada a sete chaves. Valente conta que “em 2014, a Comissão Nacional da Verdade calculou a tragédia em mais de 2.500 óbitos. Restaram cerca de 350 indígenas. Graças a um programa de indigenistas e antropólogos movido a recursos de uma indenização paga pela Eletronorte, hoje os índios comemoram 2.160 habitantes, crescimento populacional extraordinário que mostra como a demarcação de terras é fundamental para a sobrevivência de um grupo étnico.” O artigo traz depoimentos de sobreviventes do massacre, descrevendo mortes a tiros, facadas e envenenamento. Valente conta a conversa que teve com o procurador da República Júlio Araújo que disse que o Exército não mostra nenhuma vontade “para assegurar a elucidação da verdade (…) Apesar das evidências, há um ‘negacionismo’ do Exército quanto às violações decorrentes de ataques diretos às comunidades. Busca-se relativizar o genocídio, limitando-o às tarefas de ‘pacificação’, como se estas já não fossem etapa de um processo genocida que era alternado com políticas de extermínio. A União pretende mostrar que houve um conflito no qual os índios é que atacavam e as forças do Estado reagiam mediante uso adequado da força, tendo havido mortes apenas por força de doenças decorrentes do contato.” O atual secretário nacional de Segurança Pública, um dos principais auxiliares do ministro Sergio Moro, o general de Exército Guilherme Theophilo, assumiu o Comando Militar da Amazônia em 2014. Valente conta que, pouco antes, o General Theophilo se encontrou com os Waimiris-Atroaris e disse que “nós viemos aqui como o general Gomes Carneiro ou como o marechal Rondon. ‘Morrer se preciso for, matar nunca.’ E jamais como o general Gentil (…) “Se me fosse permitido usar a palavra do meu grande líder espiritual, o Papa João Paulo 2o, que (…) pediu perdão por algumas atrocidades que a Igreja Católica tenha cometido na Inquisição, eu pedirei perdão aos senhores se houve algum mal intencionado [sic] por parte do Exército brasileiro, que não é essa a nossa intenção, nem nunca foi. Nós somos sempre, vivemos sempre, para ajudar.” O artigo termina dizendo que “para os indígenas, sobrou só a alusão do general Theophilo ao Papa João Paulo 2o, um mea-culpa que os últimos comandantes do Exército nunca aceitaram fazer. Os Waimiris-Atroaris que esperem”.