Quando até as ONGs precisam tirar as traves dos olhos

Em outubro de 2017, Holly Borday, jovem funcionária da Climate Action Network (CAN), cometeu suicídio. No Facebook, Holly havia contado ter sido assediada sexualmente por Wael Hmaidan, diretor executivo da rede internacional de ONGs. Demorou um ano para, finalmente, Hmaidan ser afastado de modo a permitir uma investigação que levantou uma série de denúncias semelhantes contra ele. Em janeiro, Hmaidan foi demitido. Espera-se que esteja sendo processado criminalmente. Por ser uma das vozes mais influentes contra o aquecimento global e, portanto, ter uma missão extremamente importante, a CAN deveria ter dado uma resposta firme e rápida à crise. A infalibilidade é atributo dos déspotas, não de organizações que defendem o bem público. Não se transforma o mundo ocultando podres. Estes precisam ser exorcizados para que a transformação tenha chance de ocorrer.

Em tempo: a equipe do ClimaInfo se solidariza com as vítimas de todos os assediadores que ainda andam livres por aí.

Em tempo 2: vale aproveitar o gancho para indicar a leitura de um artigo de Roberto Sávio no Outras Palavras. Sávio fala da importância do movimento inspirado em Greta Thunberg e sua exigência de garantia de futuro sem um clima em mudança. Pela sua força, Greta também está sendo bombardeada. Sávio disseca os quatro principais grupos a atacar: os estúpidos, os ciumentos, os puristas e os paternalistas. Em comum, a mesma noção de infalibilidade. Todos partem da inabalável certeza de suas convicções para atacar a pessoa e sua vida, sem discutir a urgência da sua mensagem. Mas esta foi entendida claramente por mais de um milhão de jovens que faltaram às aulas e saíram às ruas para exigir seu futuro.

 

ClimaInfo, 5 de abril de 2019.