Os limites da nossa natureza

Dizer que a atividade humana está destruindo o planeta é um pouco exagerado. A natureza existe há bilhões de anos, passou por grandes extinções e continua aí. A atividade humana é uma ameaça séria a este conjunto de seres vivos com os quais convive a milhares de anos, num breve intervalo de tempo (geológico) relativamente estável. Dois trabalhos recentes e importantes tratam de como estamos esticando a corda da natureza tal qual a conhecemos. O primeiro é um plano apresentado por renomados cientistas que recebeu o título de “Um Acordo Global pela Natureza: princípios orientadores, marcos e metas” (A Global Deal For Nature: Guiding principles, milestones, and targets). Eric Dinerstein, da Resolve e autor líder do trabalho, diz que é o primeiro plano baseado na ciência, com metas e cronogramas claros, uma explicação de porque é vital atingir estas metas e o que deve ser feito para chegar lá. Ele cita, como exemplo, a necessidade dos países dobrarem suas áreas protegidas até chegar a 30% da área dos continentes e acrescentar mais 20% como zona de estabilização climática. Isso significa que, para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C até 2030, metade da área terrestre terá que virar área de proteção. Além disso, será preciso reduzir drasticamente a queima de combustíveis fósseis e promover as fontes renováveis de energia. O artigo traz uma conta interessante. Os autores estimam que a implantação do plano custaria em torno de US$ 100 bilhões por ano e, para comparar, citam que o Fed (banco central dos EUA) gastou US$ 29 trilhões para evitar o colapso dos grandes bancos em 2009. Esses trilhões bancariam o plano proposto por 290 anos. A National Geographic comentou o artigo.

O segundo artigo é sobre um esforço internacional para estudar os pontos de virada (tipping points). Um ponto de virada é como um castelo de cartas, onde, com muito cuidado se coloca carta sobre carta. O equilíbrio do sistema fica cada vez mais instável, embora o castelo permaneça inteiro. Uma última carta derruba a estrutura toda para sempre. Os que os cientistas pretendem estudar com mais profundidade são os principais pontos de virada climáticos, aqueles a partir dos quais o sistema simplesmente muda irreversivelmente. Niklas Boers, coordenador associado do TiPES (pontos de virada do sistema da Terra), aponta os seis principais: o ecossistema da macrobacia amazônica; a circulação meridional do Atlântico; as camadas de gelo terrestres e oceânicas nos polos; as monções asiáticas e na América do Sul; o risco de desertificação na região mediterrânea e o derretimento das geleiras alpinas. O objetivo é, em 4 anos, determinar com mais precisão quão próximos estamos de atingir um desses pontos.

 

ClimaInfo, 22 de abril de 2019

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