ATL: “resistimos há 519 anos e continuaremos resistindo”

Sem conflitos, invasões ou destruição, terminou na 6ª feira em Brasília o Acampamento Indígena Terra Livre (ATL). O documento com a síntese das demandas acusa os “propósitos governamentais de nos exterminar, como fizeram com os nossos ancestrais no período da invasão colonial, durante a ditadura militar e até em tempos mais recentes, tudo para renunciarmos ao nosso direito mais sagrado: o direito originário às terras”. O documento reivindica a continuidade da demarcação de Terras Indígenas, a manutenção do apoio à saúde e à educação, pede o “fim da violência, da criminalização e discriminação contra os nossos povos e lideranças (…), a reparação dos danos causados e comprometimento das instâncias de governo na proteção das nossas vidas” e “que o direito de decisão dos Povos isolados de se manterem nessa condição seja respeitado.” Por fim, demanda a devolução da Funai ao Ministério da Justiça. Durante o acampamento, a Procuradoria Geral da República disse que trabalhará para as demarcações não parem na mesa do uberruralista Nabhan Garcia no ministério da agricultura. Na 6a feira, os Xavantes anunciaram que denunciarão o governo Bolsonaro na ONU. O Acampamento Terra Livre foi destaque na mídia internacional, com matérias e capas nos El País, New York Times, Tagesschau, Le Figaro, The Guardian, Al Jazeera e no The Independent do Egito.

Ao mesmo tempo em que acontecia o ATL em Brasília, a Intercept mostrava que “parte dos últimos 160 Tapayunas do país” estão ameaçados pela Hidrelétrica de Castanheira, no centro norte de Mato Grosso. A barragem da usina bloqueará um dos principais pontos de pesca e reprodução de peixes no rio Arinos, essencial para a sobrevivência dos Tapayunas. O Repórter Brasil saiu com uma matéria sobre a disputa judicial entre os índios Terena e a família da ministra da agricultura, Teresa Cristina, que, como tantos outros ruralistas e o presidente, acham que índio tem terra demais. E o Nexo publicou um mapa dos Munduruku mostrando os lugares mais importantes para seu modo de vida e que podem ser afetados por projetos energéticos e de navegação.

 

ClimaInfo, 29 de abril de 2019.