Como vencer barreiras culturais a novas tecnologias na África

Um artigo interessante no Mongabay fala das dificuldades que as novas tecnologias têm para serem adotadas nos vilarejos africanos. Sobre novas e melhores práticas agrícolas, John Pickering, da Behavioural Innovations, diz que explicar uma nova prática “é um ataque ao sentimento de identidade pessoal. Você está pedindo para alguém admitir, implicitamente, que ele pode ter estado fazendo a coisa errada”. O artigo fala do prêmio Solution Search criado pela ONG conservacionista Rare em parceria com a National Geographic Society, a CI, a TNC, o WWF e a UNDP (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e de casos que conseguiram vencer esta e outras barreiras. A Solar Sister, organização sem fins lucrativos, contrata e treina mulheres líderes nas suas aldeias para difundir painéis fotovoltaicos. E, por meio delas, encoraja a adoção de lâmpadas portáteis, ventiladores e carregadores de celular. À diferença da simples instalação dos equipamentos, essas mulheres agem como pontos focais para prover conhecimento e tecnologia para a comunidade. Fatma Muzo, diretora da Solar Sister na Tanzânia, diz que a organização busca  que as mulheres sejam consideradas e que a elas seja dada “prioridade em tudo que se refere a clima e energia: em nível familiar, na comunidade e nos níveis nacional e até internacional.”

Já o Kasiisi Project busca difundir tecnologias como fogões eficientes e biodigestores. A experiência de anos de projeto mostra que os fogões eficientes, de fato, consomem menos lenha e melhoram a saúde das famílias. Mas que, ao longo do tempo, as mulheres voltam aos hábitos tradicionais, consumindo mais lenha e enchendo as habitações de fumaça. Por conta disso, Elizabeth Ross, fundadora do Kasiisi, preferiu educar as crianças sobre os fogões. E o sucesso veio porque as crianças se sentiram mais empoderadas ao introduzir o fogão e ensinar a mãe e as irmãs a usá-lo e explicar os benefícios aprendidos na escola. Mas, principalmente porque o fogão precisa menos lenha, a criança de repente se dá conta que gastou meia-hora catando a lenha necessária, ao invés de duas horas. O que faz as crianças questionarem as mães quando estas, eventualmente, voltam a usar os antigos fogões. O artigo fala de outros casos e da busca de caminhos para que a cultura local inclua as novidades tecnológicas.

 

ClimaInfo, 6 de maio de 2019.