Mais de 10% das espécies estão ameaçadas de extinção

O IPCC da biodiversidade, a Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), soltou ontem sua mais completa e detalhada avaliação do estado da natureza do nosso planeta. E este é bem ruim. O declínio da natureza é descrito no relatório como “sem precedentes”. A taxa de extinção das espécies cresce aceleradamente. O IPBES contabilizou da ordem de 1 milhão de espécies sob ameaça de extinção. Como a ordem de grandeza do número de espécies no planeta é de 9 milhões, mais de 11% correm o risco de desaparecer ao longo das próximas décadas. Dentre elas, 40% das espécies de anfíbios, um terço dos corais e um terço de todas as espécies de mamíferos marinhos. O professor Josef Settele, um dos coordenadores, disse que “os ecossistemas, as espécies, as populações selvagens, as variedades e raças de plantas e animais domesticados estão a encolher, a deteriorar-se ou a desaparecer. A rede essencial e interligada da vida na Terra está ficando cada vez menor e mais desgastada. Esta perda é um resultado direto da atividade humana e constitui uma ameaça direta ao bem-estar humano em todas as regiões do mundo.” Outro coordenador, o antropólogo brasileiro Eduardo S. Brondízio, da universidade americana de Indiana, explica que “para compreender melhor e, mais importante ainda, abordar as principais causas dos danos à biodiversidade e as contribuições da natureza para as pessoas, precisamos entender a história e a interconexão global dos complexos motores demográficos e econômicos indiretos da mudança, bem como os valores sociais que os sustentam. Um padrão que emerge é de interconectividade global (…) com a extração e produção de recursos ocorrendo frequentemente em uma parte do mundo para satisfazer as necessidades de consumidores distantes em outras regiões.”

Apesar das inúmeras tragédias anunciadas, o relatório traz, em um tom otimista, um conjunto de ações e políticas que poderiam, se não reverter, ao menos mitigar o tamanho da grande extinção que se anuncia.

O relatório é fruto de três anos de trabalho de 45 autores especialistas que foram apoiados por 310 autores contribuintes vindos de 50 países. O sumário para formuladores de políticas pode ser baixado aqui. Em breve, o conjunto de relatórios que compõe o trabalho estará disponível aqui.

As mídias nacional e internacional deram grande destaque para o trabalho. O presidente do IPBES escreveu um artigo para o The Guardian que o ClimaInfo republicou em português (acima); a Folha, o Estadão e o Globo deram matérias. O Valor deu uma matéria de Clive Cookson no Financial Times. As revistas de ciência Nature, Science e New Scientist também. A PBS postou um infográfico muito bom.

 

ClimaInfo, 7 de maio de 2019.