Suas perguntas sobre alimentação e mudança do clima, respondidas

Como comprar, cozinhar e comer em um mundo em aquecimento

 

Julia Moskin, Brad Plumer, Rebecca Lieberman e Eden Weingart, com gráficos de Nadja Popovich e ilustração de Cari Vander Yacht*

 

O que eu como tem algum efeito sobre a mudança do clima?

 

Sim. O sistema alimentar global é responsável por um quarto dos gases de efeito estufa que aquecem o planeta gerados pela humanidade todos os anos, incluindo o plantio e colheita de todas as safras, os animais e os produtos animais que comemos – carne bovina, aves, peixe, leite, grãos, verduras, milho e mais – bem como o processamento, a embalagem e o transporte de alimentos a todos os mercados em todo o mundo. Simplesmente  por se alimentar, você é parte desse sistema.

 

Como exatamente os alimentos contribuem para o aquecimento global?

 

De muitas formas. As quatro mais importantes são: quando a florestas é derrubada para dar lugar à agricultura e ao gado – o que acontece diariamente em algumas partes do mundo – grandes quantidades de carbono são liberadas na atmosfera, o que aquece o planeta; quando bovinos, ovinos e caprinos digerem suas rações, eles liberam metano no ar, outro potente gás de efeito estufa que contribui com a mudança do clima; o esterco animal e arrozais também são grandes fonte de metano; e, finalmente, quando usamos combustíveis fósseis no maquinário agrícola, na produção de fertilizantes e no transporte de alimentos pelo mundo, emissões de gases de efeito estufa também são geradas.

 

Quais alimentos têm maior impacto sobre o clima?

 

Carnes e laticínios, particularmente de origem bovina, causam um grande impacto, somando por volta de 14,5% das emissões de gases de efeito estufa anuais. Hoje, isso é equivalente à mesma quantidade das emissões de todos os carros, caminhões, aviões e navios combinados no mundo.

 

De modo geral, as carnes bovina e de carneiro geram o maior impacto climático por grama de proteína, ao passo que os vegetais tendem a causar o menor impacto. As carnes de porco e de frango ficam mais ou menos no meio. Um importante estudo publicado no ano passado na revista Science calculou a média de emissões de gases de efeito estufa associada a diferentes alimentos.

 

 

 

 

Mas estas são apenas médias. A carne bovina produzida no Brasil tem emissões diferentes daquelas produzidas nos EUA ou na Argentina. Certos queijos podem gerar mais gases de efeito estufa do que um corte de carneiro. E alguns especialistas pensam que esses números podem, na verdade, subestimar os impactos do desmatamento associados a agricultura e pecuária.

 

Mas a maior parte dos estudo concorda com essa hierarquia geral: verduras normalmente causam um impacto menor que a carne, e as carnes bovina e de carneiro, com uma margem considerável, tendem a ser as mais agressoras ao clima.

 

Existe alguma opção de dieta capaz de reduzir meu impacto climático?

 

Consumir menos carne vermelha e laticínios tipicamente gera maior impacto nos países ricos ou entre os mais ricos dos países em desenvolvimento. Isso não necessariamente quer dizer que as pessoas devem se tornar vegetarianas. Pode-se apenas optar por consumir menos daqueles alimentos que geram os maiores impactos climáticos, como carne bovina, de cordeiro e queijos. Se você está procurando por substitutos, carne de porco, de frango, ovos e moluscos geram menos impacto. Alimentos como verduras, legumes e grãos tendem a ser as opções mais “amigas do clima” entre todas.

 

Mudar a minha dieta vai de fato ajudar? E em quanto?

 

Isso varia de pessoa para pessoa. Mas um bom número de estudos conclui que as pessoas que têm uma dieta fortemente baseada em carnes – incluindo a maior parte da população dos Estados Unidos e da Europa, e uma boa parte dos brasileiros – poderiam diminuir seus impactos da alimentação em um terço mudando para uma dieta vegetariana. Deixar de consumir laticínios reduziria ainda mais as emissões.

 

Se você não quer ir tão longe, mesmo assim ainda há formas de diminuir seu impacto individual. Só comendo menos carnes e laticínios, e mais vegetais, já é uma importante contribuição para a redução das emissões. Diminuir a carne vermelha, especialmente, pode fazer grande diferença: de acordo com uma avaliação do World Resources Institute, se o cidadão norte-americano médio substituísse um terço da carne bovina que come por carne suína, aves ou legumes, suas emissões relativas à alimentação diminuiriam cerca de 13%. Isto deve ser semelhante para um brasileiro de renda média-alta.

 

Lembre-se que o consumo de alimentos frequentemente é uma fração pequena de toda pegada de carbono de uma pessoa: há ainda que se levar em conta os atos de dirigir, de tomar um avião e o consumo de energia elétrica. Mas as alterações na dieta são uma das maneira mais rápidas para a maioria das pessoas se conscientizar sobre seus impactos no planeta.

 

Eu sou um só! Posso realmente fazer a diferença sozinho?

 

É verdade que uma pessoa sozinha pode apenas arranhar a superfície do problema climático mundial. Este é, de fato, um problema muito grave e que requer ações em larga escala e transformação em políticas. E a alimentação nem é a atividade que mais contribui ao aquecimento global; na média global, a maior parte deste é causada pela utilização de combustíveis fósseis nos setores elétrico, de transporte e na indústria.

 

Por outro lado, se muitas pessoas mudassem juntas as suas dietas, a soma das atitudes individuais pode ser uma importante contribuição.

 

Cientistas alertam que precisamos diminuir o impacto da agricultura no clima nos próximos anos se quisermos manter o aquecimento global sob controle, particularmente em face do contínuo crescimento da população mundial. Para que isso aconteça, agricultores e pecuaristas precisarão encontrar maneiras de diminuir suas emissões e se tornarem mais eficientes, aumentando sua produção de alimentos em menos espaço de maneira a limitar o desmatamento. Mas especialistas também argumentaram que faria uma grande diferença se as populações que mais se alimentam de carne restringissem este consumo, mesmo que moderadamente, ajudando a liberar terra para alimentar todos os demais.

 

CARNE

 

Por que a carne gera um impacto climático tão grande?

 

Pense assim: é sempre mais eficiente cultivar para alimentar os humanos do que para alimentar os animais e, depois, transformar esses animais em alimento para os humanos. Um estudo recente da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentos (FAO, em inglês) concluiu que, em média, são necessários 2,8 kg de grãos para produzir um quilo de carne.

 

E isso não é tudo. Em sua defesa, bois, galinhas e porcos frequentemente comem muitas coisas que os humanos não comeriam como gorduras e resíduos de colheita. E a carne pode ser rica em nutrientes-chave como proteína e ferro. Mas, de modo geral, se usa mais terra, energia e água para produzir 1 quilo de proteína animal do que para produzir 1 quilo de proteína vegetal.

 

As carnes bovina e de carneiro, especialmente, geram um grande impacto climático por outra razão: os estômagos destes animais contêm uma bactéria que os ajuda a digerir o que comem. Mas esta bactéria gera metano, um potente gás de efeito estufa, que normalmente é liberado em arrotos e pelas vias aéreas.

 

Como o gado é criado faz diferença?

 

Sim. Muito do gado dos EUA é criado consumindo pasto que não seria usado para outra coisa, mas a história é diferente em locais como Bolívia e Brasil, dois dos maiores exportadores mundiais de carne bovina. Estudos concluíram que a carne bovina brasileira pode gerar impactos climáticos mais de 10 vezes maiores que a carne bovina proveniente dos EUA, muito por conta de sua associação com o desmatamento. Mesmo no Brasil pode haver significativa variação na pegada de carbono do gado, dependendo de fatores como as condições do clima local e o modo como são criados. Infelizmente, para que esse tipo de informação seja útil para os consumidores, precisaríamos de rótulos com muito mais detalhes do que os atualmente existentes.

 

E o gado alimentado no pasto?

 

Alguns cientistas sugerem que carne de gado de pasto, se propriamente produzida, pode ser uma opção mais sustentável que a do gado confinado: ao pastar, o gado estimula o crescimento do capim que engrossa suas raízes que fixam mais carbono do solo, ajudando a diminuir o impacto climático dos bovinos. Mas, por outro lado, gados de pasto levam mais tempo para chegar ao peso de abate, o que significa que passam mais tempo liberando metano para a atmosfera. Por causa disso, alguns estudos sugeriram que gados de pasto podem na verdade ser pior para o clima como um todo, embora o debate acerca disso continue acirrado.

 

Por ora, é difícil afirmar com confiança que carne de gado de pasto seja mais consistentemente “amiga do clima” do que carne de gado convencional.

 

E o frango?

 

Alguns estudos concluíram que galinhas e outras aves possuem uma pegada de carbono menor que a de outros rebanhos. As galinhas do mundo moderno foram selecionadas e são alimentadas para se tornarem extremamente eficientes em sua conversão em carne. Isso não quer dizer que as galinhas sejam perfeitas: aves produzidas em operações de escala industrial ainda geram poluição da água e levantam sérias preocupações em termos de bem-estar animal. Mas, se você focar apenas na mudança do clima, as galinhas produzem menos emissões do que a carne vermelha e um pouco menos do que a carne suína.

 

Os humanos deveriam parar totalmente de comer carne?

 

Não necessariamente. Alguns especialistas argumentam que um sistema de alimentação sustentável pode e deve incluir uma boa quantidade de proteína animal. Bovinos e outros rebanhos, no fim das contas, podem ser criados em pastos que, de outra maneira, não seriam adequados para plantações, ou alimentados com resíduos que iriam diretamente para descarte. Eles produzem esterco que pode ser utilizado como fertilizante. E a criação animal sustenta mais de 1,3 bilhões de pessoas no mundo. Em muitos países, carne, ovos e leite representam uma fonte vital de nutrição quando não há outras oportunidades disponíveis.

 

Dito isso, há também milhões de pessoas no mundo – em países como Estados Unidos, a Austrália e os países da Europa – que atualmente comem muito mais carne do que precisam para uma dieta saudável, de acordo com relatório recente do periódico médico The Lancet. E, se queremos alimentar uma crescente população sem piorar o aquecimento global ou aumentar a pressão sobre as florestas do mundo, faria diferença se os que comem carne demais diminuíssem essa quantidade.

 

E a carne artificial?

 

Novos substitutos de carne feitos com vegetais, como o Impossible Burger e os produtos da Beyond Meat, têm surgido nos supermercados e mesmo nas cadeias de fast food. Feitos de vegetais, amidos, óleos e proteínas sintetizadas, esse produtos imitam melhor o sabor e a textura da carne do que os substitutos tradicionais como tofu e seitan (carne de glúten).

 

Embora ainda seja necessária uma avaliação aprofundada sobre estes serem ou não de fato saudáveis, eles parecem gerar um impacto ambiental menor: um estudo recente estimou que um Beyond Burger gera apenas um décimo do impacto climático de um hambúrguer de carne bovina. No futuro, pesquisadores podem conseguir “produzir” carne de verdade a partir de culturas de células animais – há trabalhos contínuos nesse fronte. Mas é muito cedo para dizer o quanto isso contribuiria em termos climáticos, no mínimo porque pode-se consumir muita energia na produção de carne a partir de culturas celulares.

 

Há outras maneiras da carne se tornar mais “amiga do clima”?

 

Sim. Se a produção mundial de carne se tornasse mais eficiente, fazendeiros e criadores poderiam alimentar mais pessoas reduzindo suas emissões.

 

Isso já está acontecendo em muitos lugares: os Estados Unidos, por exemplo, produzem mais carne bovina hoje do que em 1975, apesar do total de cabeças de gado ter diminuído cerca de um terço. Avanços na reprodução animal, nos cuidados veterinários, na qualidade de alimentação e nos sistemas de pastagem, como no caso da experiência brasileira com a integração lavoura-pecuáriajá estão ajudando a diminuir os impactos climáticos das operações de pecuária em nível mundial, e há ainda muito espaço para futuras melhorias. Cientistas estão inclusive tentando encontrar maneiras de fazer o gado emitir menos metano através da introdução de algas marinhas ou outros aditivos em sua dieta.

 

Mesmo sendo improvável que o mundo inteiro vire vegetariano em pouco tempo, esses esforços serão críticos para colocar a produção de carne num caminho mais sustentável.

 

FRUTOS DO MAR

 

Os pescados geram impactos climáticos relativamente baixos, sendo sua principal fonte de emissões o combustível queimado pelos barcos pesqueiros. Uma análise recente concluiu que certos pescados populares – anchova, sardinha, arenque, atum, polaca, bacalhau, hadoque – possuem, em média, uma pegada de carbono mais baixa do que aves ou suínos. Moluscos como lambretas, ostras e vieiras também são excelentes opções de baixo carbono.

 

Por outro lado, camarões e lagostas selvagens podem gerar impacto mais alto do que aves ou suínos, porque pescá-los demanda combustível extra dos barcos pesqueiros.

 

Por outro lado, há sérias restrições a todos os frutos do mar: atualmente, o mundo já está pescando tudo o que pode – a maioria dos pesqueiros está sendo explorada em seu nível máximo de sustentabilidade, ao passo que outros já estão sendo superexplorados. Portanto, não há muito espaço para todos crescerem globalmente de modo a aumentar o consumo de pescados. Por ora, a única coisa que pode ser feita é checar fontes científicas como o Seafood Watch (Observatório dos Frutos do Mar, em tradução livre em português) para checar se o peixe que você compra está sendo pescado de modo sustentável.

 

A longo prazo, os frutos do mar cultivados são uma boa opção?

 

Se formos comer mais frutos do mar nas próximas décadas, a maior parte deles terá muito provavelmente que vir de cultivos de peixe, também chamados de aquiculturas. A aquicultura pode muitas vezes ser uma opção amiga do clima, particularmente pelos moluscos, mas nem sempre é assim. Depende, frequentemente das práticas dos cultivos e da geografia.

 

Em lugares como Noruega, que possui leis ambientais fortes, a aquicultura pode gerar relativamente baixo impacto. Mas em locais como o Sudeste Asiático, os produtores estão acabando com florestas de mangues para criar mais culturas de peixes, o que leva a um aumento de emissões. E algumas aquiculturas na China geraram enormes quantidades de metano. Há muitos esforços promissores em andamento no sentido de despoluir os cultivos de peixe de modo a torná-los mais amigos do clima, mas em muitas partes do mundo ainda há muito o que se fazer.

 

Como se pode saber se um peixe cultivado é bom ou ruim para o clima?

 

Há alguns grupos, como o Aquaculture Stewardship Council (Conselho de Gerenciamento de Aquicultura) e o Friend of the Sea (Amigo do Mar), que estão começando a certificar aquiculturas por aderirem a padrões ambientais. Esse pode ser um bom ponto de partida. Mas cuidado: críticos têm comentado que essas certificações ainda não são perfeitas e frequentemente não levam em conta o total dos impactos climáticos das aquiculturas.

 

Um estudo recente encontrou várias tendências em frutos do mar cultivados: moluscos cultivados (ostras, mexilhões, vieiras) tendem a ser as opções de proteína com as mais baixas emissões. O estudo também concluiu que salmão cultivado gera, em média, menos impacto que aves e suínos. Por outro lado, cultivos de bagre e camarões frequentemente necessitam de grandes quantidades de energia para a recirculação da água e podem, às vezes, gerar um impacto climático até maior que a produção de carne. Mas há muita variação de cultivo para cultivo.

 

Então qual é a melhor opção em termos de frutos do mar?

 

Você pode incorporar mais moluscos em sua dieta. Mexilhões, lambretas e vieiras são mais comuns, suculentos e fáceis de cozinhar do que se pensa.

 

No que tange a peixes de cultivo ou selvagens, de modo geral, ambos podem ter baixas pegadas de carbono, mas o melhor é checar primeiro se sua produção é certificada como sustentável.

 

LATICÍNIOS

 

Qual o tamanho do impacto do leite e dos laticínios na mudança do clima?

 

Alguns estudos concluíram que tipicamente o leite gera um impacto climático menor do que aves, ovos e suínos por grama de proteína. Iogurte, queijo cottage e cream cheese são similares ao leite.

 

Mas muitos outros tipos de queijo, tais como chedar ou mussarela, podem gerar impacto maior do que aves ou suínos, já que, de modo geral, usa-se por volta de 10 litros de leite para se fazer um quilo de queijo.

 

Um minuto – o queijo pode ser pior que o frango?

 

Depende do queijo. Mas, falando de modo geral, sim, se você decidir virar vegetariano, por exemplo, substituindo frango por queijo, sua pegada de carbono pode não ser a que você imaginava.

 

Algum tipo de leite é melhor que o outro? Eu pago muito mais caro pelo leite orgânico.

 

A resposta mais simples é que não dá para se ter certeza de que o leite orgânico seja melhor para o clima.

 

A etiqueta de “orgânico” no leite significa que as vacas passaram grande parte de seu tempo em pastos, não foram tratadas com hormônios ou antibióticos e foram alimentadas sem fertilizante sintéticos ou pesticidas. Isso certamente é importante para muitas pessoas. Mas não há nenhuma exigência de que laticínios orgânicos gerem menos impacto climático do que leites convencionais.

 

Até o momento, estudos não concordam acerca de se laticínios orgânicos emitirem mais, menos ou por volta da mesma quantidade de gases de efeito estufa em comparação com os produzidos convencionalmente. Muito provavelmente isso varia muito de fazenda para fazenda. O problema é que não há nada nos rótulos dos orgânicos que diga algo específico sobre o impacto climático do leite que compramos.

 

Qual leite vegetal é o melhor?

 

Leites de amêndoa, aveia ou soja emitem menos gases de efeito estufa do que os leites de vaca. Mas, como sempre, há advertências e questões de mercado a serem considerados. Usa-se grandes quantidades de água no cultivo de amêndoas e isso é um problema em muitos locais. O leite de soja tende a gerar impacto razoavelmente baixo, contanto que a soja seja produzida em cultivo sustentável, principalmente não tendo sido cultivada em área de floresta desmatada.

 

 

 

 

VEGETAIS

 

Então quer dizer que eu deveria virar vegano?

 

Se você está disposto a encarar essa, a dieta vegana realmente possui a menor pegada de carbono.

 

Eu não gosto de comida vegana. O que eu devo comer?

 

Se você gosta de massas com molho de tomate, homus, torrada com guacamole, manteiga de amendoim ou sanduíche de geleia, por exemplo, você na verdade gosta de comida vegana. Mas se alimentar de uma dieta totalmente vegana é difícil para um brasileiro (e para muitos outros povos). Alguns assumem que uma dieta vegana precisa incluir “substitutos” como tofu, mas isso não é verdade: há proteína suficiente em feijões, grãos e castanhas. E, ao passo que mais pessoas se tornam veganas, versões vegetarianas de sorvetes, manteigas e hambúrgueres estão ficando cada vez melhores. Quando se cozinha em casa, normalmente o desafio é fazer uma refeição vegana que agrade todos à mesa.

 

Não acho que consigo virar totalmente vegano. Que mais eu posso fazer?

 

Outra abordagem pode ser simplesmente comer menos carnes e laticínios, e mais vegetais ricos em proteínas como feijões, legumes, castanhas e grãos.

 

Você pode tornar-se vegetariano: nada de carne, frango e peixe, mas incluir laticínios e ovos. A vantagem aqui é que as regras são simples e os produtores de alimentos e restaurantes já estão acostumados a atender vegetarianos.

 

Você pode, também, assumir uma dieta semi-vegetariana, alguns chamam esta alimentação de pixo-vegetariana, acrescentando frutos do mar a uma dieta vegetariana; essa pode ser uma boa opção, e facilita a ingestão de proteínas em sua dieta.

 

Para manter carnes em sua dieta, tente cortar a carne vermelha de algumas refeições por semana, substituindo-as por frango, suíno ou proteínas vegetais. Essa abordagem é mais flexível, mas implica em mais planejamento anterior e mais acompanhamento do que você come.

 

 

 

 

A produção de orgânicos é realmente melhor que a produção convencional para o clima?

 

A produção orgânica é feita sem fertilizantes sintéticos ou pesticidas, o que é importante para muitos. Mas isso não necessariamente significa que ela seja melhor sob a perspectiva climática. Em alguns casos ela pode ser até um pouco pior – cultivos orgânicos frequentemente ocupam mais espaço do que cultivos convencionais. Dito isso, o impacto climático das produções orgânicas pode variar de lugar para lugar e o rótulo orgânico, em si, não provê muitas informações acerca da pegada de carbono do alimento.

 

Devo me preocupar se o que vou comer é local ou da estação?

 

De modo geral, no que você come conta mais o lugar de onde vem o alimento, já que o transporte representa por volta de 6% do total do impacto climático da alimentação. Isso à parte, há outras coisas a serem consideradas.

 

No local onde você mora, tudo que é da estação, comprado em feiras locais ou no supermercado, normalmente são boas escolhas.

 

As coisas complicam no que tange ao alimentos consumidos fora da estação, que normalmente são transportados por longas distâncias. Algumas frutas e vegetais transportados por avião podem ter uma pegada de carbono surpreendentemente alta.

 

COMPRAS + DESPERDÍCIO

 

O desperdício de alimentos é uma parte grande do problema da mudança do clima?

 

Sim. Por algumas estimativas, se joga fora de 30% dos alimentos que produzimos. Isso significa que toda a energia dispendida na produção destes alimentos foi desperdiçada. Se você compra mais do que de fato consome, seu impacto climático será maior do que precisava ser. Portanto, minimizar o desperdício pode ser uma maneira bem direta de você diminuir suas emissões.

 

Como posso reduzir meu desperdício de comida?

 

Há inúmeras possibilidades. Se você cozinha, comece a planejar suas refeições: no final de semana, invista 20 minutos para definir pelo menos três jantares durante a semana, de modo que você compre apenas os alimentos que você planeja cozinhar (Uma regra similar aplica-se a quando você vai pedir comida fora: não peça mais do que você precisa.) Lave e corte os alimentos antes de guardá-los, para ficarem mais fáceis de serem usados. Preste atenção às suas refeições e congele os alimentos, ao invés de deixá-los estragar.

 

Vale também lembrar que alimentos perto da data de validade não precisam ser necessariamente jogados fora imediatamente após aquela data; os fabricantes normalmente sugerem aquela data pensando no ápice da qualidade do alimento. Muitos alimentos (com exceção de leites para bebês) podem ainda ser consumidos com segurança após a data do vencimento.

 

Eu deveria fazer compostagem?

 

Se você tiver espaço, é uma ótima ideia. Quando o alimento é dispensado em aterros junto com outros resíduos, ele começa a se decompor e a liberar metano na atmosfera, o que aquece o planeta. Apesar de algumas poucas cidades terem começado a capturar um pouco desse metano, reciclando-o em energia, a maior parte delas não o faz.

 

Quando a compostagem é feita corretamente, o material orgânico dos restos de comida é convertido em um composto que pode auxiliar nas colheitas e as plantas de jardim, e as emissões de metano são diminuídas consideravelmente. Algumas cidades como Nova Iorque começam a montar programas centralizados de compostagem ou coleta seletiva.

 

Posso usar sacolas de papel ou de plástico?

 

Sacolas de papel parecem ser um pouco piores do ponto de vista das emissões do que as sacolas plásticas, apesar das sacolas plásticas dos supermercados normalmente não serem recicladas e gerarem resíduos que duram por muito mais tempo. Porém, de modo geral, as embalagens representam apenas cerca de 5% das emissões relacionadas aos alimentos. O que você come tem muito mais a ver com a mudança do clima do que a embalagem na qual os alimentos são acondicionados.

 

Dito isso, é importante reutilizar as sacolas que você recebe/compra nos supermercados ou investir em ecobags (contanto que você as mantenha e as utilize sempre), ou ainda minimizar o uso de sacolas plásticas quando escolhe os produtos nas gôndolas. Outras embalagens plásticas nas lojas, como garrafas de refrigerante ou outros, são mais difíceis de evitar, mas essas também normalmente podem ser recicladas.

 

A reciclagem realmente ajuda em algo?

 

Pode ajudar, embora não seja tão efetiva como a redução do desperdício em primeiro lugar. Reciclar alumínio, plástico e papel pode diminuir o uso de energia e refrear as emissões. Mas certifique-se de que esteja reciclando de maneira correta.

 

Por que não há rótulos nos supermercados explicando a pegada de carbono dos alimentos?

 

Especialistas concordam que deveriam existir rótulos ambientais nos alimentos, similares aos rótulos nutricionais. Em teoria, esses rótulos podem ajudar os consumidores a se interessar pela compra de produtos com menos impacto, incentivando fazendeiros e produtores a restringirem suas emissões.

 

Um estudo recente publicado na revista Science concluiu que produtos parecidos no supermercado podem gerar impactos climáticos altamente diferentes pela maneira como são produzidos. Uma barra de chocolate pode gerar o mesmo impacto climático do que dirigir um carro por 50 km – se florestas tropicais foram desmatadas para o cultivo do cacau utilizado – ao passo que outra barra de chocolate pode gerar praticamente nenhum impacto. Porém, sem rótulos mais detalhados dos que os que existem hoje, é extremamente difícil para um consumidor entender a diferença.

 

Dito isso, um esquema de rotulagem mais detalhado iria muito provavelmente necessitar de muito mais monitoramento e cálculos de emissões, de modo que deve requerer certo empenho para se implementar um sistema desses. Por ora, a maioria dos consumidores terá que se adaptar utilizando regras básicas.

 

RESUMO

 

1. A agricultura moderna inevitavelmente contribui para a mudança do clima, mas alguns alimentos geram um impacto maior do que outros. Carne bovina, de carneiro e laticínios tendem a causar a maior parte das mudanças climáticas. Suínos, aves e ovos ficam no meio. Vegetais de todos os tipos normalmente causam o menor impacto.

 

2. O que você come importa muito mais do que de onde veio o alimento ou se ele é orgânico ou não, ou que tipo de sacolas você utiliza para carregar os alimentos do supermercado para casa.

 

3. Você não precisa parar totalmente de comer carne para fazer a diferença. Até mesmo pequenas mudanças, como comer menos carne e mais verduras, ou mudar de carne vermelha para frango, podem reduzir sua pegada de carbono.

 

4. Uma maneira simples de cortar suas emissões da alimentação é desperdiçar menos. Comprar o que você necessita e de fato consumir o que compra – ao invés de jogar fora – significa que a energia utilizada para produzir os seus alimentos foi gasta de modo eficiente.

 

Publicado originalmente no New York Times

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