Bolsonaro tentará recompor na Assembleia Geral da ONU sua imagem chamuscada pelas queimadas na Amazônia, mas especialistas duvidam de êxito

Assembleia Geral da ONU

Será aberta amanhã a sessão anual da Assembleia Geral da ONU e, pela tradição, o primeiro chefe de estado a discursar será o presidente do Brasil. Bolsonaro pretende mostrar que o país é o campeão em preservação ambiental, que está fazendo tudo para conter o desmatamento ilegal e combater os incêndios. Dirá que esses incêndios estão dentro da normalidade e que a melhor maneira de preservar a floresta é promover o desenvolvimento dos milhões de pessoas que moram na região.

O teor do discurso foi discutido por pessoas estranhas a quem prega a soberania nacional, como o alt-right Steve Bannon e um dos editores do Wall Street Journal. Também passou pelo crivo do senador uber-ruralista, Luis Carlos Heinze.

Bolsonaro deve levar a tiracolo a indígena Ysani Kalapalo, o que já provocou reação da associação que representa as etnias do Xingu, da qual faz parte os Kalapalos. Em nota, a Associação Terra Indígena Xingu – ATIX diz: “O governo brasileiro ofende as lideranças indígenas do Xingu e do Brasil ao dar destaque a uma indígena que vem atuando constantemente em redes sociais com objetivo único de ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena do Brasil […] Não aceitamos e nunca aceitaremos que o governo brasileiro indique por conta própria nossa representação indígena sem nos consultar através de nossas organizações e lideranças reconhecidas e respaldadas por nós”.

Ysani apareceu ao lado de Bolsonaro logo antes da votação do 2º turno, no ano passado, e, segundo a Folha, provocou o repúdio das lideranças indígenas. Em nota na época, disseram que Ysani é “residente e domiciliada em Embu das Artes (na Grande São Paulo)” e que ela faz uma “falsa representação” dos indígenas.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, se adiantou ao discurso pró-soberania de Bolsonaro, dizendo, em entrevista a Dani Chiaretti, do Valor, não ter “dúvidas que soberania é um dos elementos-chave das relações internacionais. É verdade para o Brasil e é verdade para os outros países. Mas também é verdade, em termos da mudança do clima que desafia governos ao redor do mundo, que é muito importante, para o futuro dos países e do mundo, que se faça uma série de coisas. E, por isso, é importante ampliar, o máximo possível, a área de florestas no mundo e reduzir, o máximo possível, a perda de florestas.” E complementou: “É inconcebível que qualquer país invada outro para gerenciar florestas. A soberania tem que ser respeitada, é óbvio. Mas há responsabilidades de diferentes tipos com as emissões do planeta. E uma delas é preservar florestas e, se possível, fazer com que florestas cresçam.”

Para o diplomata e ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, ouvido pelo O Globo, a única chance de o Brasil melhorar sua imagem seria fazer um discurso reconhecendo a gravidade dos problemas internos, incluindo nas questões ambientais: “Eu não vejo a possibilidade, por mais remota que seja, de ele (Bolsonaro) melhorar no plano internacional. O discurso dele visa sobretudo o público interno, os apoiadores dele, integrantes das Forças Armadas e grupos que têm essa paranoia da cobiça estrangeira sobre a Amazônia. Em tudo o que ele faz, ele se preocupa mais com as questões domésticas”.

Financial Times e Estadão também fizeram matérias sobre o futuro discurso.

 

ClimaInfo, 23 de setembro de 2019.

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