Como preservar e desenvolver a Amazônia

Carlos Nobre pirarucu

Miriam Leitão dedica sua coluna n’O Globo à bioeconomia como proposta de desenvolvimento para a Amazônia, tese defendida pelo climatólogo Carlos Nobre.

Nobre falou na abertura no Sínodo para a Amazônia no começo do mês: “A Amazônia tem um grande potencial econômico que pode beneficiar socialmente todas as populações indígenas e preservar suas tradições”, disse. “A ‘floresta de pé’ gera produtos com valor econômico para o presente e o futuro superior ao da destruição da floresta e sua substituição por terras agrícolas ou mineração”, continua. E “a ciência deve procurar soluções e não apenas falar de riscos. Devemos encontrar os caminhos de uma economia que mantenha a floresta de pé, as possibilidades são incontáveis”. A proposta, segundo a AFP, é de uma bioeconomia a partir do conhecimento da biodiversidade da floresta, no que ele chama de Amazônia 4.0.

Na conversa com Miriam, Nobre explicou que se trata da “exploração de produtos da região plantados dentro da floresta, método que já se mostrou muito mais produtivo. Castanha, açaí, cacau, babaçu e outros que são exportados como produtos primários, mas que após um processo de industrialização teriam mais valor agregado. A ideia é industrializar esse potencial de biodiversidade.”

Sempre se pergunta sobre a escala da produção, que essa produção não teria como atingir uma economia de escala, que seria, para sempre, uma atividade de nicho. Nobre discorda: “O lucro do açaí, produzido, descascado e vendido em polpa pelo agricultor familiar, já é hoje quatro vezes o lucro da pecuária na Amazônia, usando 7% da área da pecuária, e empata com o lucro da soja. O açaí já atingiu uma escala de R$ 3,5 bilhões. Superou o faturamento da madeira. E isso sem agregação de valor. Sugerimos que haja bioindústrias, biofábricas, conectadas pela tecnologia de informação e usando energia renovável de geração distribuída. Nenhuma exploração de minério produz essa riqueza. Pelo contrário. Que desenvolvimento a exploração de minério trouxe para as populações da Amazônia?”

Pirarucu: por coincidência, a Economist desta semana traz na sua coluna de ciência e tecnologia o resultado de uma pesquisa sobre as escamas do pirarucu. O pirarucu vive nos mesmo igarapés amazônicos que as piranhas e, no entanto, seu escudo é forte o suficiente para sua proteção. A camada de fora, das escamas propriamente ditas, é mineralizada e bem dura, mas comparável à de outros animais e capaz de segurar apenas parcialmente os dentes afiados das piranhas. O segredo está na segunda camada, de fibras de colágeno. Nos outros animais, quando ocorre, a camada de colágeno é organizada uniformemente, como um pedaço de lenha, o que a deixa vulnerável a uma boa dentada. No pirarucu, esta camada é disposta aleatoriamente. Uma dentada não a consegue rachar, e o pirarucu segue nadando tranquilamente. Este tipo de conhecimento pode abrir espaço para novos produtos inspirados no pirarucu.

 

ClimaInfo, 21 de outubro de 2019.

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