A destruição da floresta e da ciência

Carlos Nobre fumaça São Paulo

O climatólogo Carlos Nobre escreveu para a seção de Comentários e Opinião da revista científica Nature lembrando do dia em que a fumaça das queimadas baixou sobre São Paulo. Ele fala também das discussões no Sínodo para a Amazônia, para as quais foi convidado.

Diz Nobre: “A fumaça desapareceu da minha cidade, por enquanto, mas a floresta tropical do Brasil nunca esteve tão ameaçada. Nem a sua ciência – tão necessária para apoiar o agronegócio sustentável e inventar uma economia centrada numa floresta intacta. No mês passado, milhares de estudantes souberam que suas bolsas de estudo não seriam renovadas.”

“Na maior parte da Bacia Amazônica, a estação seca já é várias semanas mais longa, particularmente em áreas desmatadas; estas devolvem menos umidade à atmosfera do que a floresta tropical em geral”, diz Nobre. “Se o desmatamento continuar, a floresta tropical pode entrar em colapso. Muitos meios de subsistência serão impossíveis de manter. Cairá menos chuva, as temperaturas aumentarão e dezenas de milhares de espécies serão perdidas junto com a capacidade da floresta de absorver até 5% das emissões de carbono do mundo.”

Para conter o desmatamento, é preciso que, em outros biomas, se recupere e aumente a produtividade de áreas degradadas e que, no próprio bioma amazônico, se encontrem atividades econômicas que remunerem com dignidade quem, hoje, desmata. Nobre termina dizendo que “tudo isso será impossível se a capacidade científica do Brasil secar (…) Temo que tanto a ciência brasileira quanto a Floresta Amazônica estejam se aproximando de um ponto de inflexão – a partir do qual a recuperação provavelmente fica impossível. Para evitar isso, cientistas dentro e fora do Brasil deveriam protestar vigorosamente contra o movimento anti-ciência e falar claramente à sociedade sobre a importância da ciência e da Amazônia para o bem-estar humano e a sustentabilidade do planeta.”

 

ClimaInfo, 23 de outubro de 2019.

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