O desmatamento associado à demanda chinesa por carne bovina

“Seria possível dobrar o tamanho do rebanho sem nenhum desmatamento adicional”. A frase não é de um ambientalista ou “globalista”, mas de Adélio Barofaldi, presidente da Associação dos Proprietários Rurais de Rondônia (Appro).

Gustavo Faleiros escreve para o Diálogo Chino sobre a expansão do rebanho de gado na Amazônia e a responsabilidade que o mercado chinês tem no desmatamento da região: “A população (de Porto Velho) cresce lentamente. Em uma década, passou de 428 mil para os atuais 530 mil habitantes. Há no estado, no entanto, outra população que cresce em ritmo bem mais acelerado: a de bovinos. Apesar de bois e humanos terem começado a década em patamares próximos, Porto Velho tem hoje duas cabeças de gado para cada habitante.”

Faleiros usa os dados da Trase, organização que há anos estuda a relação entre o desmatamento e a produção de carne e soja. “A exportação anual de carne bovina brasileira, estimada em 1,4 milhão de toneladas, gera um desmatamento entre 65 mil e 75 mil hectares. Desse total, 22 mil hectares foram atribuídos a exportações feitas à China. Sendo que grande parte (18 mil hectares) se deve a cargas enviadas a Hong Kong, principal destino da carne produzida no Brasil.” E é aí que mora o problema: “Mesmo com a alta correlação entre as exportações de carne e o desmatamento, as companhias chinesas não parecem atentas a isso.” A prática de múltiplas compras e vendas, movimentando o gado de fazenda em fazenda, do dia que nasce até o abatedouro, impede a implantação de um sistema de rastreamento que, transparentemente, separe o gado que viveu longe das áreas desmatadas daquele que passou por uma ou mais fazendas autuadas por destruir a floresta.

 

ClimaInfo, 25 de outubro de 2019.

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