Óleo no Nordeste atinge corais e manguezais

óleo corais

Menos óleo na praia, mais no mangue: o comandante de Operações Navais, almirante Leonardo Puntel, disse no sábado que naquele momento não mais havia “registros de óleo em praias no Nordeste. Há registros de óleos em mangues. Existem ainda pelotas, não são grandes manchas como estavam acontecendo, são pequenos pedaços que na maré alta vão para a praia”. E emendou: “Mas não tem como dizer que acabou”. A fala foi publicada, dentre outros, no Valor, Estadão e O Globo.

Óleo em áreas protegidas: João Pedro Pitombo, da Folha, diz que o óleo chegou em 14 Unidades de Conservação quebrando o ciclo de diversas espécies marinhas do litoral. Segundo Pitombo, foram atingidos “parques nacionais, áreas de proteção ambiental, reservas extrativistas, reservas biológicas e áreas de interesse ecológico. As regiões são consideradas sensíveis do ponto de vista ambiental por sua diversidade biológica, além de aspectos estéticos e culturais. Por isso, têm a sua ocupação e uso dos recursos naturais disciplinados por regras que visam garantir a sua sustentabilidade.” Na foz do Rio São Francisco, na área de proteção ambiental de Piaçabuçu, “uma grande quantidade de vôngoles – mariscos que localmente são chamados de massunins – apareceu morta na praia Pontal do Peba, dentro da área de proteção.”

Abrolhos: Zelinda Leão, da UFBA, está muito preocupada com a eventual chegada do óleo aos Abrolhos: “Estamos rezando para não chegar lá. Toda essa riqueza, essa diversidade, só existe por causa dos corais. Alguns ali são únicos no mundo, têm muitas características particulares, que chamam a atenção desde 1832, quando Charles Darwin esteve em Abrolhos.” Ela conversou com Victor Uchôa, da BBC, e explicou que “se o óleo atingir os corais é muito provável que eles morram, dando início a uma reação em cadeia de total desequilíbrio do ecossistema. Sem os corais, os organismos satélites somem, levando embora também moluscos, crustáceos e peixes que deles se alimentam.”

Opacidade: Uma das maiores reclamações é a falta de transparência por parte do governo e autoridades. Segundo o UOL, o presidente do Senado, David Alcolumbre, “segura há 16 dias dois pedidos de explicações feitos pela Comissão de Meio Ambiente do Senado ao governo federal sobre as medidas adotadas para conter o vazamento de óleo nas praias do Nordeste.”

Turismo sujo: O ministro do turismo foi a Pernambuco, molhou os pés numa praia e deu uma coletiva à imprensa dizendo que muitas praias estão sem óleo e que traria a família. Segundo a Folha, ele não foi com a família e não apresentou nenhuma evidência técnica de que não há perigo. Outra matéria da Folha dá conta que o governo de Pernambuco recomendou evitar a praia da família do ministro.

Turismo 200, pescadores 69: Segundo o Valor, o ministro do turismo prometeu repassar R$ 200 milhões para pousadas, hotéis e outras atividades que estão amargando a falta de turistas. Como dissemos na 6ª passada, aos pescadores mais pobres e suas famílias, o governo prometeu R$ 69 milhões.

Opinião: “A resposta do governo, para mim, é totalmente patética. É um segundo desastre. Primeiro o óleo, depois as respostas são um outro desastre.” O Marco Zero conversou com um dos mais respeitados consultores mundiais quando se trata de desastres ambientais envolvendo petróleo.

Pirula: O paleontólogo, zoólogo e divulgador científico brasileiro Pirula dá uma aula sobre o desastre no seu canal no YouTube. Bem humorado e muito informativo.

O que se sabe: O UOL fez um bom resumo do que se sabe até agora sobre o maior desastre ambiental em extensão no país.

Só limpar o que se enxerga: De Eberaldo de Almeida Neto, diretor da Petrobras, no Valor: “O mecanismo de captura [limpeza] tem sido quando a maré e a corrente jogam [o óleo] para a praia. Infelizmente tem sido desse jeito porque os mecanismos que a gente detêm são agulha no palheiro para pegar [o óleo] por conta da característica do óleo [ser superpesado]”. Segundo os especialistas ouvidos por O Globo, ele é “um óleo denso que não se concentra na superfície, mas viaja em profundidade, de acordo com os movimentos das correntes marítimas.”

Manual de Instruções: O Globo e a Folha mostram que o governo não agiu de acordo com seu próprio Manual, parte do Plano Nacional de Contingência de Incidentes com Óleo (PNC) que só foi posto oficialmente em ação em 11 de outubro. O Globo também relata que, em abril, um “analista da pasta [MMA], alertou que a extinção de três comitês [do PNC] poderia fragilizar a reação do governo federal diante de incidentes de poluição por óleo.”

Saúde dos voluntários: Vários dos voluntários que estão trabalhando na limpeza do óleo estão relatando sintomas de intoxicação, segundo a Folha. Pelas fotos divulgadas na imprensa, há uma falta generalizada de equipamentos apropriados para lidar com uma substância tão tóxica quanto este óleo.

Estado de Emergência: Gente da Faculdade de Medicina da UFBa pediu em documento a “declaração de Estado de Emergência em saúde pública para controle dos riscos decorrentes da maior tragédia de contaminação pelo petróleo na costa do Brasil.” O Estadão noticiou.

Royalties e tratados internacionais: Prevenir e remediar crises provocadas pelo petróleo custam caro. Nicola Pamplona, da Folha, relata que, para esses fins, o governo tem destinado “zero” dos royalties bilionários que recebe do setor. Pamplona conversou com Marcus Lisboa, da Coppe/UFRJ, que disse que “o Brasil é um dos poucos países costeiros não signatários de convenção internacional que funciona como uma espécie de seguro para poluição causada por vazamentos em navios.”

 

ClimaInfo, 28 de outubro de 2019.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)