Óleo continua fazendo estragos no Nordeste

Deep Horizon

Do tamanho do vazamento da Deep Horizon? O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, comparou a quantidade de óleo que está atingindo o Nordeste com a que vazou quando da explosão da plataforma Deep Horizon, da BP, no Golfo do México, em 2010. Ele admitiu não estar conseguindo identificar a origem do óleo, “apesar de todos os esforços.”

Fonte segue desconhecida: O diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Décio Oddone, comentou não lembrar “de ver um derramamento em que ninguém sabe a origem, o volume e a causa.”

Governo diz estar fazendo todo o possível: O ministro de minas e energia, almirante Bento Albuquerque, abriu a OTC (Offshore Technology Conference), um dos maiores eventos do mundo do petróleo, dizendo que “o governo está fazendo tudo o que lhe compete para minimizar os danos e fazendo investigação séria sobre as origens”.

Mas não o suficiente: Matéria d’O Globo relata que, “após 60 dias, manchas de óleo crescem e dependem da ação de voluntários no Nordeste”. A matéria relata o drama de gente que dependia da pesca para viver, como Ana Paula Santos, uma das articuladoras da rede de mulheres pescadoras da Costa dos Corais: “As redes têm vindo sem camarão, e o cultivo de ostras foi atingido. As mulheres marisqueiras estão com medo de ir para o manguezal coletar e depois, na feira, não vender nada.”

A jornalista Priscila Mengue visitou sete cidades de Pernambuco para acompanhar a retirada das manchas de óleo. Depois de ter visto muitas cenas impressionantes, ela avalia ser bem difícil, de longe, ter noção do que está acontecendo. Vale a leitura dos relatos em seu tuíte. Priscila também escreveu para o Estadão contando que “bermuda, galocha, camiseta ou regata, máscara e luva são as vestimentas e equipamentos-padrão utilizados por integrantes do Exército e da Marinha na retirada de óleo de praias do Nordeste. Os itens não seguem, contudo, a orientação técnica para a remoção manual divulgada pelo Ibama, que prevê o uso de macacão de polietileno e óculos de proteção e, no caso de trabalhos sobre pedras, também de capacete.” A foto da matéria mostra a precariedade da proteção usada pelos militares.

As falhas do governo: Renato Grandelle, n’O Globo, aponta nove grandes falhas na condução da crise. Faltou diálogo entre gente envolvida e quem deveria assumir a liderança e coordenação. O Plano Nacional de Contingência demorou para ser acionado e, mesmo assim, não foi seguido, apesar de alertas de servidores nos idos de abril. Brigar com ONGs e a Venezuela não limpa praia nem identifica causas, mas perde tempo precioso. As declarações do ministro do turismo quanto as praias estarem limpas beira a irresponsabilidade criminosa e foram rapidamente desmentidas pelo governo de Pernambuco. Há desinformação quanto aos cuidados que os voluntários e militares deveriam estar tomando ao tentar remover o óleo. Este, sendo muito pesado e não permanecendo na superfície, impede que os equipamentos existentes monitorem seus caminhos. E, claro, ninguém sabe de onde vem, desde quando e qual o tamanho do vazamento.

Os responsáveis: A BBC ouviu o Ministério Público e especialistas e publicou uma matéria apontando os órgãos “responsáveis por limpar, investigar e punir”. Monique Cheker, procuradora do Ministério Público Federal, entende que o “papel de órgãos estaduais e municipais é secundário. Quando há essa amplitude de dano, é flagrante a responsabilidade do governo federal, principalmente o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama.”

Na Justiça: Mara Gama escreveu um artigo resumindo a inação do governo federal. Ela fala das ações que o Ministério Público de estados do Nordeste moveram contra a União e reproduz um trecho de uma carta de instituições de pesquisa e conservação, artistas e políticos exigindo maior transparência por parte das autoridades: “Assim, o que ocorre ao longo de todo o litoral e costa brasileira, é sim de responsabilidade do governo e de toda a sociedade”.

Contaminação da vida: Pesquisadores da UFPE e da UFRPE descobriram que o óleo que chega à costa nordestina está se decompondo em partículas microscópicas e afetando a teia alimentar de pequenos invertebrados. Mauro de Melo Junior, professor da UFRPE, relata ter “encontrado microfragmentos de óleo em torno de 2 milímetros nas amostras de plâncton (…) Encontrar fragmentos de óleo do tamanho desses organismos pode trazer vários impactos nessa região costeira.”

 

ClimaInfo, 30 de outubro de 2019.

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