A criação de uma Força Nacional Ambiental copia uma tentativa semelhante no governo Lula. O então Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, queria usar policiais militares estaduais, exatamente como pretende Bolsonaro. Minc contou para Fabiano Maisonnave, da Folha, que a ideia “foi descartada logo após o seu anúncio, em junho de 2008, devido ao longo tempo que seria necessário para criá-la.” No lugar de uma Força Nacional, Minc deu ênfase a uma coordenação operacional envolvendo a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Ibama e ICMBio, e a implantação de bases do Exército em áreas críticas.
A ex-presidente do Ibama, Suely Araújo, disse a Maisonnave: “Reconhecendo que o apoio dos militares nas operações em áreas críticas pode ser necessário, há de se compreender que a fiscalização ambiental tem de ir muito além da presença de tropas no campo”, se referindo aos órgãos ambientais federais, mais capacitados e experientes, os quais o governo vem enfraquecendo desde o primeiro dia. Minc entende que o presidente “desacreditou o INPE, atou as mãos do Ibama e do ICMBio, desmontou o Fundo Amazônia”.
Para Maurício Torres, da Universidade Federal do Pará, colocar o Conselho da Amazônia na mão de militares lembra o período da ditadura: “A experiência do comando militar agindo na Amazônia é um desastre ambiental e social sem precedentes. Até hoje, não sabemos a dimensão exata do genocídio indígena. As grandes rodovias da ditadura são vetores de desmatamento, muito em prol da grilagem e do latifúndio. O dano é socializado, e o benefício foi privatizado por uma minoria.” Torres complementa dizendo que “essa visão desenvolvimentista não mudou quando vemos Mourão defendendo a mineração de potássio em território do Povo Mura [no estado do Amazonas]. São grupos que partem de um nacionalismo que vê o índio como um estrangeiro a ser combatido”.
ClimaInfo, 23 de janeiro de 2020.
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