Para Paulo Guedes, a pobreza é a maior inimiga do meio ambiente

26 de janeiro de 2020

O ministro Paulo Guedes disse em um painel em Davos que “as pessoas (pobres) destroem o meio ambiente porque precisam comer”.

O ministro mostrou sua ignorância em toda sua superficialidade. Os maiores desastres ambientais nos últimos dez anos no Brasil – Mariana, Brumadinho, vazamentos de óleo na Baía de Guanabara, em rios do Paraná, um megaincêndio no porto de Santos – foram, todos, responsabilidade de grandes corporações.

Quanto ao desmatamento da Amazônia, segundo cálculos do Ministério Público Federal, atear fogo em uma área de mil hectares custa cerca R$ 1 milhão no mercado negro. Ou seja: embora o trabalho possa até ser desempenhado por pessoas pobres, quem financia essa operação está bem longe da linha da pobreza. Já o desmatamento do Cerrado corre por conta da expansão dos latifúndios do agronegócio.

O ministro troca a ordem dos fatores: nos espaço urbanos, a população mais pobre mora em ambientes degradados por falta de opção acessível. E as áreas acabam sofrendo ainda mais pela completa ausência do Estado em prover saneamento e coleta de lixo, como é sua obrigação.

Havia uma certa esperança de que o país não passasse vergonha em Davos, posto que o presidente e o ministro Salles ali não estariam. Ledo engano.

Para o climatologista Alexandre Costa, da Universidade Estadual do Ceará, Guedes mentiu: “Os ricos estão devorando o planeta e o resultado da desestabilização do clima e da destruição dos ecossistemas será justamente mais fome e mais miséria sobre quem menos tem responsabilidade por isso.” Luiza Lima, do Greenpeace, disse ao UOL que a fala de Guedes “mais uma vez gera constrangimento e piora a situação da imagem do país (…) Pobres não são responsáveis, são vítimas. Eles sofrem mais os impactos da destruição dos rios, das florestas e dos ecossistemas. São eles os mais vulneráveis a furacões, tornados, enchentes e secas, que aumentam [com a destruição do meio ambiente]”. Na mesma matéria, o climatólogo Carlos Nobre falou do desmatamento: “O modelo de desmatamento no Brasil não reduziu a pobreza, mas concentrou a riqueza na mão do grande agronegócio”.

Os Estadão, Folha, Globo, Zero Hora, dentre outros veículos, deram a fala de Guedes.

 

ClimaInfo, 22 de janeiro de 2020.

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