Enchentes no Brasil: país já sente impactos das mudanças climáticas e situação pode se agravar

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Uma matéria muito interessante da National Geographic discute o impacto das mudanças climáticas sobre a sociedade brasileira: “No Brasil, a alteração do ciclo hidrológico já está acontecendo agora. Não é uma coisa para 2100”, observa Paulo Nobre, coordenador do Modelo Brasileiro de Sistema Terrestre (BESM), do INPE. Nobre considera uma irresponsabilidade tratar esses fenômenos extremos, a exemplo das recentes chuvas intensas no Sudeste, como se fossem eventos episódicos que só acontecem uma vez a cada cem anos.

Mas os impactos não se restringem às enchentes. Se as emissões de gases de efeito estufa e, por consequência, a temperatura média global, continuarem em alta, “as regiões Norte e Nordeste e parte do Centro-Oeste sofrerão uma redução nas chuvas, com períodos de estiagens predominantemente mais longos, mas talvez sem a compensação de se chover mais no período chuvoso”, projeta Nobre. “No Sul e no Sudeste, a tendência dos biomas ali representados é que também ocorram secas mais extremas e duradouras, intercaladas por períodos muito chuvosos.”

O Perfil dos Municípios Brasileiros em 2018, do IBGE, chama atenção para os desastres naturais provocados por questões climáticas: entre 2013 e 2017, 2.706 municípios (48,6%) tiveram secas, 1.726 (31%) alagamentos, 1.515 (27,2%) enxurradas, 1.093 (19,6%) processos erosivos acelerados e 833 (15%) deslizamentos.

E a Amazônia? Os continentes aquecem mais rapidamente do que os oceanos. Se a temperatura média global chegar a 3°C, nas plataformas continentais ficará entre 3,5°C e 4°C, principalmente nas tropicais como a da América do Sul. O aumento global médio de temperatura está hoje em 1,1°C comparado aos níveis do período pré-industrial (1850-1900). Com isso, na Amazônia, a crise climática resultou na elevação em 1,5°C. Em áreas desmatadas, já supera os 2°C. “Todas as projeções mostram o aumento do que chamamos de sazonalidade das chuvas. Elas ficam mais concentradas na estação chuvosa. Já o período de seca aumenta, tanto na Amazônia quanto no Cerrado”, observa o climatologista Carlos Nobre, do IEA-USP.

Os impactos serão muito mais extensos que isso, indo da saúde à economia como um todo. E, segundo o físico Paulo Artaxo, a sociedade brasileira está completamente despreparada dada a “falta de visão de nossos dirigentes”.

Em tempo: a ciência coleciona mais e mais evidências da influência do clima antártico sobre o brasileiro. O pesquisador Márcio Francelino, responsável pela estação brasileira de pesquisas na Antártica, disse ao Jornal Nacional que “sempre que detectamos temperaturas mais elevadas e degelos maiores na Antártica, ocorrem eventos (climáticos) extremos no Brasil (…) (como estas fortes chuvas sobre) São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro.” Uma ótima matéria do Observatório do Clima entrevistou os glaciologistas Jefferson Simões e Francisco Aquino, ambos da UFRGS, e também Márcio Francelino, para discutir como se ligam o calorão na Antártica e as tempestades no Sudeste. O aquecimento e uma redução inédita no buraco de ozônio estão causando um “troca-troca” de massas de ar entre região polar e trópico. E, finalmente, uma matéria do Jornal da USP fala de conexões entre eventos extremos de chuva na Indonésia e no Brasil, mostrando que nossas cidades não estão preparadas para estes eventos, os quais, nas palavras da pesquisadora Gabriela Di Giulio, da Faculdade de Saúde Pública e do IEA-USP, deixam claro que a necessidade de adaptação das cidades às mudanças climáticas não é um desafio para o futuro, mas uma demanda “para ontem”.

 

ClimaInfo, 17 de fevereiro de 2020.

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