Pode a emergência climática se tornar bandeira da extrema-direita?

bandeiras

Nos acostumamos a ver a bandeira do enfrentamento da crise climática alinhada a bandeiras como a da justiça social e a do enfrentamento a todo tipo de discriminação. Até porque serão os mais pobres suas maiores vítimas, em número e intensidade. De seu lado e quase desde sempre, o campo político da extrema direita pregou o negacionismo climático como forma de dar uma sobrevida às indústrias fósseis.

Mas hoje se observa em alguns países a incorporação pela extrema direita da luta climática, aliando-a a bandeiras como o fechamento de fronteiras, o combate ao “globalismo” e a defesa de valores pretensamente tradicionais. Nils Gilman, no site do Breakthrough Institute, chama esse novo discurso da direita de “política do abacate” – verde por fora, mas marrom por dentro, se referindo à cor das camisas das SAs, a fanática milícia hitlerista que portava camisas desta cor.

Gilman conta como o campo climático foi se identificando com teses mais à esquerda do espectro político; ele cita o escritor Jonathan Franzen que, recentemente, no The New Yorker, escreveu: “Qualquer movimento em direção a uma sociedade mais justa e civil pode agora ser considerado uma ação climática significativa.”

Gilman lembra que os primeiros estudos ambientais e ecológicos nasceram junto com teses eugenistas, racistas, para lançar sua tese: “O ambientalismo – especialmente em sua forma apocalíptica – não é necessariamente um estímulo para políticas progressistas, mas pode ser também compatível com políticas fortemente não liberais.” Para ele,

teremos que “melhorar drasticamente nossos argumentos em favor de políticas climáticas humanas se quisermos ter alguma esperança de construir um mundo mais inclusivo.”

Em outra matéria, Beth Gardiner dá um alerta no New York Times: “Aqui está o que realmente assusta: esta dinâmica é suscetível de intensificação à medida que as mudanças climáticas criam novas tensões que podem colocar nações e grupos uns contra os outros”.

Em tempo: O governo de extrema direita de Bolsonaro segue um outro caminho, usando o discurso antiglobalista e referências a uma tal de ideologia ecológica “em prol daqueles que querem desmonte das leis ambientais ou, simplesmente, azeitar a máquina da corrupção”, segundo analisa Giem Guimarães, diretor-executivo do Observatório de Justiça e Conservação (OJC), em um interessante artigo publicado pelo O Eco.

 

ClimaInfo, 3 de março de 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)
x (x)