Em tempos de pandemia, a falta de políticas públicas é fatal para favelas e periferias

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O coronavírus já chegou às favelas, comunidades e periferias das grandes cidades brasileiras. A dúvida não é mais se, mas quantos serão infectados, quantos conseguirão acesso ao SUS, quantos morrerão nos hospitais e quantos morrerão sem atendimento.

Segundo o Plano Nacional de Saneamento, 40% da população tem acesso precário à água potável (sem abastecimento, intermitente ou imprópria), o equivalente a 86 milhões de pessoas, um quarto delas, crianças e adolescentes.

Marussia Whately e Rebeca Lerer escrevem no canal Ecoa, do UOL: “O primeiro legado da pandemia de coronavírus foi escancarar a vulnerabilidade da população que vive em áreas de saneamento precário, nos colocando frente a frente com a profunda desigualdade social que marca o passado e o presente do país. O Brasil está, literalmente, na merda. Se não priorizarmos os Direitos Humanos à água e ao saneamento, o caos sanitário continuará sendo a realidade do nosso futuro”.

A coluna Painel, da Folha, conta que “em Paraisópolis, na zona sul de SP, onde moram 100 mil pessoas, 420 voluntários cuidarão de 50 casas cada um, e serão conhecidos como os “presidentes das ruas”. O modelo será replicado em favelas como Heliópolis, em SP, Rocinha e Alemão, no RJ. Eles serão responsáveis por pedir que as pessoas fiquem em suas casas, passar instruções de higiene e entregar mantimentos até lá levados em carros com sirenes que soarão para avisar o momento da recepção e da distribuição de alimentos.”

A Folha traz outras duas matérias sobre os desafios e impossibilidades dos brasileiros mais vulneráveis de São Paulo e do Rio à tempestade virótica que nos bate à porta. O Globo e o Washington Post também.

O El País estende o olhar para 3 bilhões de pessoas que vivem em condições semelhantes em todo o mundo, sem água potável corrente para lavar as mãos, impossibilitados de qualquer tipo de isolamento ou distanciamento e à mercê de sistemas de saúde precários.

Vale ler o provocador texto de Demétrio Magnoli na Folha. A classe média das grandes capitais tem plenas condições de se isolar e suportar a quarentena se abastecendo pela internet e serviços de entrega. Quem não pode se verá diante de uma crise de saúde e uma crise econômica, onde uma se soma à outra. Magnoli escreve: “Nós, esclarecidos, vivemos na bolha da alta classe média (…) Com que direito moral apontamos o modelo de ‘lockdown‘ absoluto como solução para cortar a transmissão do vírus em São Paulo ou no Rio? Na Rocinha, no Grajaú, em Cidade Ademar, onde as pessoas residem em habitações de 20 metros quadrados que abrigam cinco ou seis indivíduos? O Brasil não é os EUA. Aqui, o governo não postará cheques periódicos de mil dólares para cada família durante o intervalo imensurável da ‘guerra’. Vamos parar os transportes públicos e decretar, universalmente, o trabalho à distância? Como ficam motoristas, comerciários, garçons, pedreiros, as massas de informais? (…) Não declaremos uma guerra cujas vítimas serão os outros – os sem patrimônio, cartão de crédito e investimentos financeiros.”

 

ClimaInfo, 23 de março de 2020.

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