Hora de alinhar o enfrentamento da recessão ao Acordo de Paris

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Em instigante artigo na New Yorker, Bill McKibben, da 350.org, especula sobre o enfrentamento da crise econômica gerada pela pandemia do coronavírus poder, também, ajudar a resolver a crise climática de maneiras inimagináveis até há pouco. Ele se refere à injeção de bilhões de dólares que devem sair do setor público para combater a recessão: “O princípio é claro: receber dinheiro da sociedade significa que você deve algo à sociedade”, explica.

Alguns exemplos:

– No caso do setor aéreo, que obviamente precisa de alívio, o Congresso dos EUA deveria limitar as emissões totais de gases de efeito estufa do ciclo de vida das frotas aéreas dos EUA nos níveis de 2020 e as emissões gerais deveriam cair pelo menos 20% por década a partir de então em troca da ajuda financeira. Dessa forma, o auxílio que impedirá que milhares de empregos sejam perdidos também poderá evitar que, em 2050, as viagens aéreas consumam um quarto de todo o carbono que o mundo ainda pode emitir – que é a atual trajetória do setor. As companhias aéreas devem agir não se comprometendo a plantar árvores, mas queimando menos combustível de aviação – tornando as rotas de vôo mais lógicas e projetando aviões mais eficientes, por exemplo.

– No caso bancos, eventuais resgates podem ser condicionados ao fim do financiamento para projetos expansionistas de combustíveis fósseis, algo que eles ainda não estão fazendo. Na última quarta, a Rainforest Action Network divulgou uma versão atualizada de seu relatório “Banking on Climate Change”, mostrando que os quatro maiores bancos dos EUA continuam liderando o financiamento do aquecimento global. Só o JPMorgan Chase destinou mais de um quarto de trilhão de dólares para a indústria de combustíveis fósseis desde o final das negociações em Paris.

– Falando na indústria de fósseis, independente da recente queda no preço do petróleo e do prognóstico de menor consumo sugerido pela pandemia, a indústria já vinha perdendo valor há uma década frente à crescente competitividade das energias renováveis. Mais assistência, além dos vultuosos subsídios que já recebem, só deveriam vir se estas empresas se comprometessem a parar de explorar novas reservas de petróleo, uma vez que os cientistas do clima deixaram claro que não podemos queimar as reservas que já temos.

Como Bill destaca, “as escolhas que estão sendo feitas agora moldarão nossa sociedade por anos, se não décadas.”

 

ClimaInfo, 24 de março de 2020.

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