OMS desmente Bolsonaro

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O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, se deu o trabalho de desmentir o presidente Bolsonaro reafirmando a importância de combater a pandemia e a obrigação que os governos têm quanto à garantia do sustento dos mais vulneráveis.

Ontem pela manhã, Bolsonaro, tirando do contexto uma fala de Ghebreyesus, disse que a OMS concordava com ele quanto à priorização da crise econômica. Ghebreyesus não perdeu tempo para esclarecer nas redes sociais: “Pessoas sem fonte de renda regular ou sem qualquer reserva financeira merecem políticas sociais que garantam a dignidade e permitam que elas cumpram as medidas de saúde pública para a COVID-19 recomendadas pelas autoridades nacionais de saúde e pela OMS”. A notícia foi dada por Jamil Chade, do UOL.

Em tempo (1): O chanceler Ernesto Araújo comentou as falas do seu chefe mostrando seu lado mais beato. Disse que está havendo “uma demonização de quem não defende o confinamento integral” e que a OMS não deve ser encarada como uma “instituição sacrossanta, como se tivéssemos que rezar por aquela cartilha”, como se a OMS fosse uma sucursal do Vaticano, e não uma organização multilateral que baseia seu trabalho na ciência. A matéria é de Daniel Ritter, do Valor.

Em tempo (2): Ao que parece, o presidente finalmente entendeu a gravidade da crise da COVID-19. No pronunciamento de ontem, ele reconheceu que “o vírus é uma realidade” e buscou destacar as ações que o governo federal está empreendendo na luta contra o vírus.

Infelizmente, nem tudo são flores. Mesmo com o desmentido do diretor da OMS, Bolsonaro insistiu com a interpretação distorcida da fala deste para justificar sua cautela com relação às medidas de isolamento social.

A mudança de tom e ênfase do discurso de Bolsonaro evidencia que a pressão feita pelos ministros sobre o presidente no final de semana surtiu algum efeito. Desde segunda, Bolsonaro não se envolve em manifestações oficiais sobre a crise, limitando-se apenas a entrevistas em programas de TV de apresentadores amigos e falas improvisadas na frente do Palácio da Alvorada. A impressão que se tem é que, finalmente, os “adultos” assumiram a resposta da crise e o presidente, isolado e amargurado, segue agora de carona. Se isso se sustentar, será uma boa notícia para o Brasil.

 

ClimaInfo, 1º de abril de 2020.

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