O coronavírus e os mais vulneráveis

13 de abril de 2020

Os hospitais públicos de São Paulo estão tão lotados quanto os particulares. Segundo o Secretário Municipal da Saúde, a ocupação dos leitos de UTI nesta última semana disparou. A continuar no mesmo ritmo, o todo o sistema de saúde de São Paulo entrará em colapso nesta semana.

Esta já é a situação vivida pelo sistema de saúde de Manaus, onde a combinação de poucos leitos com o atraso na tomada de medidas mais profundas por parte das autoridades municipais e um descaso desinformado da população lotou os hospitais. Isto obrigará o corpo médico a tomar a difícil escolha entre quem recebe um leito e um respirador e quem muito provavelmente morrerá nas próximas horas.

Neste final de semana, Bolsonaro foi a Goiás para inaugurar um hospital, discursar contra as quarentenas e fazer selfies com apoiadores. O governador Caiado e o ministro Mandetta estiveram junto com o presidente. O UOL reporta que o governo estuda meios de proibir as quarentenas.

A situação brasileira é preocupante o suficiente para que, sem saber a extensão da epidemia, sem nem saber o número de óbitos, o governo italiano tenha pedido a seus compatriotas aqui presentes que voltem para a Itália. Justo lá onde a pandemia fez um estrago histórico. A notícia saiu na UOL e n’O Globo,

A maior ameaça é a entrada do vírus nas periferias, comunidades e pelo interior do país. Com o atual baixíssimo número de testes diários, nunca saberemos o número de infectados e o número de óbitos pela COVID-19. O Brasil é o único dentre os grandes países que não informa o número de recuperações, dos casos que receberam alta, muitos sem terem sido submetidos aos testes para saber se estiveram ou se ainda estão infectados.

Igualmente preocupante, o vírus se espalha pela África. Mathias Alencastro conta na Folha que um dos poucos pontos fortes do continente é a experiência dos sistemas médicos frente a epidemias. Nos países irmanados pela língua portuguesa, a situação é muito diversa. Em Angola, o governo decretou uma quarentena rigorosa com controle policial estrito. Em  Moçambique, ainda quebrado pelos furacões do ano passado, o governo de Filipe Huysi começou em negação, mas foi forçado pela realidade a fechar fronteiras e adotar medidas de distanciamento social.

Existe um movimento internacional para que os países ricos e as organizações multilaterais liberem financiamentos para os países mais pobres, com prazos estendidos e juros zero ou próximos disso. Em uma carta aos líderes do G20, do FMI e do Banco Mundial, a Avaaz diz: “Estamos profundamente preocupados que os países mais pobres do mundo não tenham os recursos para conter o coronavírus. Pedimos que salvem vidas concordando em cancelar suas dívidas, começando com a suspensão imediata de pagamento. Também pedimos que forneçam fundos adicionais para que todos os governos possam investir rapidamente para a contenção do vírus, incrementar seus sistemas de saúde e garantir que as pessoas possam bancar suas estadias em casa”. No link, um abaixo assinado pedindo o apoio de todos.

Em tempo 1: Um estudo comentado pelo UOL diz que a pandemia pode deixar o dobro de desempregados do que haveria sem ela. Este é um cenário feito por pesquisadores da FGV, no qual o desemprego chegaria a quase 18% da população economicamente ativa. A taxa no final do trimestre dezembro-fevereiro estava em de menos de 12%.

Em tempo 2: Membros do governo Trump, incluindo o Dr. Anthony Fauci, conselheiro do presidente para assuntos de saúde, soltaram uma  bomba neste final de semana. Segundo o New York Times, um grupo de médicos, ainda em janeiro, avisou o governo norte-americano que a epidemia assumiria proporções enormes nos EUA se nada fosse feito. Trump demorou um mês e meio para tomar providências. Neste meio tempo, a exemplo de um certo presidente de um país latino americano, Trump negligenciou a ameaça e disse que seu governo era ótimo e que o vírus não causaria mal nenhum a não ser uma “gripezinha”. Até o final da tarde de ontem, mais de 22 mil estadunidenses haviam morrido da tal “gripezinha”. O The Guardian também deu a notícia.

Em tempo 3: Neste sábado aconteceram algumas carreatas em apoio a Bolsonaro. Uma das mais estridentes aconteceu em São Paulo. O grupo gritava que os governadores Dória e Witzel e a rede Globo eram comunistas ou coisa parecida, e que o coronavírus era um complô chinês alavancado pela mídia. A maioria dos manifestantes permaneceu dentro dos carros com janelas fechadas. Dos que estavam à pé, muitos usavam máscaras.

 

ClimaInfo, 13 de abril de 2020.

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