A “tempestade perfeita” que se forma sobre a Amazônia brasileira

Amazônia

O cenário na Amazônia não poderia ser pior: o desmatamento cresce a passos largos, o governo desmonta e enfraquece a estrutura de fiscalização e o novo coronavírus espalha medo e mortes em uma das regiões do Brasil que mais carece de infraestrutura de saúde pública. E a situação pode piorar consideravelmente nos próximos meses, já que estamos entrando na temporada de queimadas na região, um problema grave que ganhou destaque na imprensa brasileira e internacional no ano passado.

Chlóe Farand, do Climate Home, conversou com Paulo Moutinho, cientista sênior do IPAM, quem alertou sobre o risco de termos queimadas ainda mais devastadoras neste ano. O desmatamento em alta é o principal promotor dos incêndios florestais, e não há sinais de que ele esteja sendo afetado pelas medidas de distanciamento social adotadas na região Norte por conta da pandemia de COVID-19.

Os fatores que causaram a crise ambiental do ano passado na Amazônia seguem intactos. A fiscalização está ainda mais deficiente agora, por conta tanto de novas restrições orçamentárias como também de medidas de isolamento social contra a COVID-19 que dificultam ações em campo durante a pandemia. A interferência recente do Ministério do Meio Ambiente no comando das ações de fiscalização também favorece o trabalho de grileiros e madeireiros na Amazônia.

Uma  reportagem especial do Repórter Brasil e do Guardian explora os efeitos dessa situação no campo, particularmente em Novo Progresso (PA), palco do infame “Dia do Fogo”, a queimada organizada por produtores rurais e empresários em agosto de 2019 e que permanece impune e sem indiciamentos até agora.

Com as queimadas, a situação clínica daqueles que sofrem com a COVID-19 pode piorar consideravelmente. No mês passado, cientistas apontaram uma correlação entre a exposição prolongada a poluentes atmosféricos do tipo PM2.5 (partículas muito finas comuns em incêndios florestais) e o aumento da taxa de mortalidade pela nova doença. Além do risco associado à poluição, a atuação de invasores em Terras Indígenas na região, intensificada sob o governo Bolsonaro, também é vetor de contágio, o que ameaça comunidades indígenas na região. A situação é dramática, especialmente em áreas remotas, distantes de qualquer estrutura básica de atendimento.

Por isso, lideranças indígenas entregaram nesta 2ª feira uma carta ao diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, pedindo a criação de um fundo de emergência para ajudar a proteger suas comunidades da pandemia. Esses recursos seriam utilizados principalmente para a compra de equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras. Com a omissão deliberada do governo federal, que segue batendo cabeça entre o discurso do presidente e a dura realidade da rede pública de saúde, o que resta a estas comunidades indígenas é apelar ao resto do mundo para que a ajuda possa chegar nas regiões mais distantes da Amazônia, como bem assinalou O Globo, em editorial desta 3ª feira.

 

ClimaInfo, 6 de maio de 2020.

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