A queda generalizada dos preços internacionais do petróleo e o desaquecimento econômico global causado pela pandemia de COVID-19 atingiram em cheio o setor de biocombustíveis. No Brasil, ¼ das usinas de açúcar e álcool em operação corre o risco de fechar as portas até o final deste ano, informa Mônica Scaramuzzo no Estadão.
Em dois meses, as cotações do álcool recuaram de R$ 2,00 para R$ 1,30 por litro e a demanda caiu mais de 50%, segundo dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA). Das 350 usinas em operação no Brasil, quase 100 delas não têm capital de giro para pagar as contas de curto prazo, o que afeta sua sobrevivência nos próximos meses.
Para o setor, a crise dupla (pandemia e queda brutal no preço do petróleo) foi uma reversão de expectativas: até meados de fevereiro, os sinais indicavam um cenário positivo pela frente, com os preços do açúcar e do etanol competitivos. Hoje, o setor entende que não conseguirá sobreviver sem ajuda do governo federal.
No resto do mundo, a situação dos biocombustíveis é similar. O mercado de biodiesel foi severamente atingido pela queda na demanda e pela redução no preço do petróleo. Uma preocupação gerada por este cenário, especialmente em locais onde a produção de biocombustível está associada ao desmatamento (como é o caso da Indonésia, um dos maiores produtores globais), é que as empresas se atenham menos a estratégias de contenção da destruição florestal, o que pode elevar o risco desse setor e prolongar as perdas no mercado internacional.
No longo prazo, a ansiedade do setor sucroalcooleiro com os preços baixos do petróleo faz sentido. Como informa o Financial Times, alguns executivos de gigantes petrolíferas entendem que a pandemia pode causar mudanças profundas que inviabilizarão uma retomada do petróleo nos próximos anos, o que pode abrir espaço para novos investimentos em fontes mais competitivas, como eólica e solar, em detrimento de combustíveis fósseis (e dos biocombustíveis associados aos decadentes motores a explosão).
ClimaInfo, 5 de maio de 2020.
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