Impacto do coronavírus é potencializado pela desigualdade social

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Brasil: Após um pico inicial, quando a maioria dos infectados e óbitos era de gente de maior poder aquisitivo, a doença agora se espalha entre os mais vulneráveis. Uma matéria n’O Globo conta que, em São Paulo, o perfil dos casos e óbitos mudou. Já é possível perceber que, uma vez infectados, a chance de pardos e pretos falecerem é maior do que a da população branca. Mais, os bairros com IDH menor são onde a taxa de mortalidade é maior. O médico-sanitarista Ivan França Jr., da USP, diz que “vamos pagar o preço da nossa desigualdade. E quem vai pagar a maior parte dessa conta serão os mais pobres, que não têm condições de ficar em casa, não têm saneamento, não têm nem sequer como lavar as mãos porque a água não chega”.

Gonçalo Junior, no Estadão, também escreveu sobre o efeito mais trágico da epidemia nas populações pardas, pretas e pobres.

Érica Fraga, na Folha, escreve sobre o impacto da recessão provocada pela pandemia e seu efeito no empobrecimento ainda maior da população brasileira. No começo do século, nossa renda per capita era 9% maior do que a média global. A forte recessão de 2015-16 já a havia feito ficar abaixo da do resto do mundo. E com a nova queda provocada pela pandemia, segundo a Economist, a renda média brasileira cairá de R$ 16.670 para R$ 15.910, uma queda de 5% que acontecerá ao mesmo tempo em que a renda média global permanecerá praticamente estável. Assim, se as previsões se confirmarem, no final deste ano a renda per capita brasileira andará por volta de 80% da média global.

Haiti: O país se prepara para enfrentar a epidemia. Até ontem, havia 88 casos confirmados e 3 mortes, mas, para cada milhão de habitantes, tanto o número de casos quanto o número de mortes eram dos mais baixos do planeta, o que indica o potencial de contágio. O Haiti não tem como ajudar a população a distanciar-se socialmente e ter suas mãos lavadas. Com o mundo rico preocupado em levantar suas próprias economias, a expectativa é que a ajuda externa ao país cai em 25%. “Costuma-se dizer que quando a economia americana está resfriada, o haitiano sofre de pneumonia. Os milhões de empregos perdidos nos Estados Unidos vão causar uma exacerbação da pobreza extrema aqui, sem dúvida”, prevê o economista Kesner Pharel. “Este monstro está vindo na nossa direção”, disse o Dr. Jean William “Bill” Pape, médico respeitado na ilha: “Se um lugar como Nova York pode ser tão sobrecarregado, como o Haiti vai lidar com isso?” As notícias são da AFP e do New York Times, com traduções no UOL e n’O Globo, respectivamente.

Malásia: As autoridades daquele país estão prendendo centenas de migrantes sem documentos, incluindo os refugiados rohingya da vizinha Myanmar, que sofrem uma campanha xenófoba. A ONU teme que os rohingya acabem sendo forçados a procurar refúgios longe das cidades e vilas, longe da possibilidade de tratamento médico caso sejam infectados pelo Sars-Cov-2. A notícia é do The Guardian.

Em tempo: Camila Mattoso, no Painel da Folha, revela que o ministério da Cidadania, de Onyx Lorenzoni, “recebeu mais de R$ 3,1 bilhões extraordinários para gastar em ações de assistência social e em programas de segurança alimentar durante a crise do coronavírus. Porém, até esta sexta, o dinheiro não estava nem na primeira etapa para sair do caixa. A assessoria do ministro disse que encontrava-se de folga por causa do Dia do Trabalho e que não poderia responder sobre a demora do empenho dos recursos.”

 

ClimaInfo, 5 de maio de 2020.

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