Os muitos vírus que nos ameaçam têm maior probabilidade de serem passados de animais silvestres para humanos quanto mais perturbado ou destruído for o ecossistema onde estes vivem. Por exemplo, em ecossistemas não ameaçados, dificilmente morcegos transmitem vírus para outras espécies porque cada uma se especializou em habitats bem definidos e distintos. Mas, à medida em que estes habitats são destruídos, espécies até então separadas, são obrigadas a compartilhar espaços cada vez menores ou migrar para outros ambientes como casas, abrigos e celeiros.
Roger Frutos, da Universidade de Montpellier, disse a Jonathan Watts, do The Guardian, que o problema não é tanto os animais, mas as atividades humanas que acabam forçando o contato que aumenta a probabilidade de transmissão. “O foco tem que ser nessas atividades humanas porque são elas que podem ser corretamente organizadas”. A matéria cita a pesquisa de Alessandra Nava, do centro de pesquisa Biobank. Ela constatou que há uma prevalência viral de 9,3% em morcegos vivendo em áreas desmatadas, o que se compara com 3,7% naqueles que vivem em floresta virgem. “O problema é quando você coloca no mesmo ambientes espécies diferentes que naturalmente não se aproximariam. Isso permite que mutações de vírus passem para outras espécies,” disse. “Precisamos pensar como tratamos a natureza e os animais. Hoje em dia, isso é promíscuo demais.”
David Lapola, da UNICAMP, escreve na mesma linha em um artigo na Folha. Falando do desmatamento na Amazônia, David aponta que “cadeias alimentares estão sendo alteradas, abrindo-se a possibilidade de que vírus que antes circulavam apenas entre animais silvestres, no coração da floresta distante, agora possam se transferir para outros hospedeiros, inclusive humanos.” Ele continua falando que prevenir pandemias vindas da Amazônia “caminha de forma conjunta. O controle de futuras epidemias passa pela proteção dessas áreas de floresta de sua exploração predatória. Ao mesmo tempo, a proteção e a restauração de florestas tropicais e seus amplos estoques de carbono são vistas hoje como uma das ações mais promissoras para a mitigação da mudança do clima.”
ClimaInfo, 8 de maio de 2020.
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