O drama amazônico na batalha contra a pandemia e o desmatamento

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A situação do estado do Amazonas é dramática: quase dois meses após o 1º caso, a doença já atingiu 88% de seus municípios, mesmo com as longas distâncias, poucas estradas e a proibição do transporte fluvial. A curva de contágio segue crescendo no estado, pressionando cada vez mais os parcos recursos públicos existentes para saúde. Para efeitos de comparação, das 20 cidades do Brasil com maior incidência de casos de COVID-19, 14 delas ficam no AM.

Em Manaus, a Justiça indeferiu um pedido do Ministério Público do estado para adoção do lockdown. De acordo com o juiz responsável pela decisão, a tendência da pandemia no Amazonas seria de “decréscimo”, considerando os números de sepultamento nos cemitérios e nos registros de doença na Secretaria de Saúde de Manaus. No entanto, de acordo com os dados do boletim epidemiológico estadual reportado ao Ministério da Saúde, a situação é inversa, com crescimento no número de casos e de óbitos registrados.

O Amazônia Real analisou o impacto da COVID-19 nos quilombos do Brasil. De acordo com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), até 4ª feira (6/5), 63 casos tinham sido confirmados nos quilombos do país, com 17 óbitos registrados, sendo sete deles no Amapá e três no Pará. O descaso do poder público, a falta de serviços públicos de saúde e as dificuldades para obter a ajuda emergencial do governo federal ameaçam agravar ainda mais a situação nessas comunidades.

Essa história de descaso e abandono por parte dos governos se repete em outros países amazônicos. No Peru, a cidade de Iquitos sofre com a falta de insumos básicos para o tratamento médico de pacientes com COVID-19. Localizada no meio da Amazônia peruana, Iquitos é a maior cidade do mundo sem conexão terrestre, o que a torna extremamente dependente de abastecimento por via fluvial e aérea, esta última muito difícil com as restrições aplicadas ao transporte aéreo.

O impacto da COVID-19 não se resume à crise humanitária que se desenha na Amazônia. O desaquecimento da economia florestal resultante das restrições relativas à pandemia já causa dificuldades para as comunidades extrativistas, que não conseguem mais obter renda pela venda de produtos da floresta, como açaí e castanha-do-Pará. Tradicionalmente, cenários assim pressionam as pessoas a buscar fontes alternativas de renda, como a criação de gado e a exploração de madeira, atividades que contribuem ativamente para o desmatamento na Amazônia. Para o Mongabay, Débora Pinto conversou com representantes de associações extrativistas e especialistas para analisar não apenas os efeitos de curto prazo da crise, mas também os de longo prazo, que ameaçam retroceder em dez anos o trabalho de conscientização e desenvolvimento de uma economia baseada na diversidade biológica da floresta.

 

ClimaInfo, 8 de maio de 2020.

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