A escalada da pandemia no interior do Brasil

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Com o passar das semanas, a crise de Saúde Pública causada pela pandemia de COVID-19 vai adentrando o território brasileiro e deixando de ser uma doença restrita apenas aos grandes centros urbanos. O que preocupa nesse movimento é a rede pública de saúde do interior, muito menor que a das capitais e regiões metropolitanas. Esta não está preparada para lidar com um aumento acentuado de casos, o que levará o cenário de colapso para mais cidades.

Um estudo da UNESP mostra o avanço da COVID-19 ao longo do último mês. Como destacou a GloboNews, 536 das 558 microrregiões brasileiras (96%) tinham casos confirmados de COVID-19 em 10 de maio. Assim, podemos dizer que praticamente todo o país foi afetado de alguma maneira pela pandemia.

Nesse processo de interiorização da COVID-19, indígenas e quilombolas sofrem com a falta de acesso a serviços de saúde. De acordo com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), a pandemia já causou a morte de pelo menos 19 quilombolas em todo o Brasil, sendo que 65 testaram positivo para o novo coronavírus. Como no resto do país, acredita-se que esse número seja maior por conta da falta de testes, o que causa subnotificação no número de casos confirmados. Além disso, como algumas comunidades carecem até mesmo de energia e internet, o acompanhamento da evolução dos casos é bastante difícil. A maior parte das mortes ocorreu no Amapá (36,8%), estado que hoje possui a mais alta taxa de incidência de COVID-19, com 2,6 mil casos para cada milhão de habitantes.

A Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) também está acompanhando os dados da COVID-19 nas comunidades indígenas do país. Segundo levantamento, 170 indígenas, de 29 povos, contraíram o novo coronavírus. Os números são próximos dos dados oficiais do Ministério da Saúde, que relata 176 casos confirmados entre os indígenas, com 14 mortes até o final da semana passada. Um estudo da UNICAMP mostrou que 81 mil indígenas podem estar em situação de vulnerabilidade crítica, ou seja, correm alto risco de contrair o vírus e desenvolver a COVID-19. As regiões mais vulneráveis estão no Norte (Alto Rio Negro, Yanomami, Rio Tapajós e Kaiapó do Pará) e no Centro-Oeste (Xingu e Xavante).

Enquanto a pandemia avança no país, diversas cidades brasileiras começam a viver uma realidade de restrições cada vez maiores à circulação de pessoas. O chamado lockdown, fechamento total, foi implantado em cidades como São Luiz, Belém, Niterói e São Gonçalo. Em São Paulo, maior epicentro da COVID-19 no Brasil, mesmo medidas de remediação como o novo rodízio de veículos não afastam a possibilidade de um lockdown no estado mais populoso do país. Projeções da UNICAMP indicam que o lockdown pode ser a única saída para o estado, caso o nível de isolamento social não suba significativamente nas próximas semanas, pelo menos para a casa dos 60%. Nos últimos dias, a taxa de isolamento tem oscilado entre 40% e 50% no estado.

Em tempo 1: Se hoje a Amazônia é vítima de um vírus que surgiu fora do Brasil, ela pode ser a fonte de uma futura epidemia, caso a floresta continue sendo destruída. O alerta é do climatologista Carlos Nobre, que falou com Daniela Chiaretti em live do Valor realizada ontem (12/5). Segundo Nobre, a Amazônia reúne condições para a propagação de microorganismos, o que é potencializado pelas ações invasivas dos seres humanos: “Não ter surgido uma epidemia massiva na Amazônia é pura sorte, porque os elementos estão lá. Estamos brincando com fogo”, disse Nobre. Na conversa, Nobre comentou também sobre o processo de “savanização” que a Amazônia pode sofrer caso a destruição chegue a um “ponto de não retorno”, no qual o desmatamento resulta no empobrecimento gradual da vegetação local.

Em tempo 2: Carlos Nobre também participou do podcast O Assunto, com Renata Lo Prete e o jornalista do Fantástico, Marcelo Canellas, falando do desmatamento em alta na Amazônia em plena pandemia. No podcast, Nobre disse que “se continuarmos perturbando a Amazônia, ela vai se tornar uma fonte de pandemia”.

 

ClimaInfo, 13 de maio de 2020.

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