Saneamento deveria ser prioridade após a crise

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A pandemia colocou nas manchetes a parte importante da população brasileira que não tem como lavar as mãos com frequência pela simples falta de água em seus lares. Ficou evidente o descaso dos muitos governos em estender o sistema de abastecimento para as camadas mais vulneráveis da sociedade brasileira.

Daniela Chiaretti, do Valor, diz que a crise abre a oportunidade para direcionar a recuperação para uma economia limpa. Ela cita Ana Toni, do Instituto Clima e Sociedade, que mostra sua preocupação em colocar lado a lado as crises econômicas e ambientais: “Não sairemos deste buraco ambiental sem lidar com nossas questões profundas de desigualdade. Temos que lidar com grupos vulneráveis da Amazônia e das favelas. Não são problemas diferentes. Estão relacionados”.

Pedro Passos, um dos fundadores da Natura, entende que “a agenda da política econômica terá que endereçar a questão da desigualdade do país (…) Entramos pobres [na pandemia] com desemprego alto e vamos sair com desemprego muito mais alto.” E ele reforça: “Não há discurso econômico que vença se não tiver endereçamento social. A pandemia nos alerta para sermos mais cuidadosos, menos arrogantes com a natureza”.

Taís Hirata, também do Valor, escreve sobre pesquisa que ouviu mais de 100 executivos de concessionárias, fornecedores, bancos, fundos, órgãos públicos, advogados e consultores que trabalham com infraestrutura. A principal conclusão é que o saneamento básico deve ser a prioridade para que a economia brasileira volte a crescer. Isso porque falta muita obra de saneamento, por serem obras que geram muito emprego e renda de forma descentralizada no país.

Jerson Kelman, ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), disse, no Valor, que a atual legislação é um dos entraves para a expansão do saneamento ao atribuir aos municípios a responsabilidade por investimentos e concessões. Kelman enxerga em um projeto de lei em tramitação no Congresso a possibilidade de repartir as responsabilidades com os estados e com a União.

Em tempo: Vale ler um trabalho recém publicado na Environmental Health Perspectives que examina o tema do acesso à água em países pobres e as implicações para situações de emergência, como a gerada pela pandemia. “Sem acesso a sabão e água limpa, mais de 2 bilhões de pessoas em nações de baixa e média renda – um quarto da população mundial – têm maior probabilidade de adquirir e transmitir o coronavírus do que as dos países ricos.” O trabalho evidentemente recomenda o apoio a esses países para implantarem sistemas de água. E recomenda também que os modelos epidemiológicos usados para acompanhar a pandemia passem a levar em conta as limitações de acesso a água nesses países e regiões mais vulneráveis.

 

ClimaInfo, 28 de maio de 2020.

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