Índia sofre com o coronavírus, com ondas de calor e com gafanhotos

Índia

Com seu sistema de saúde sob estresse da pandemia, a Índia se vê diante de uma forte onda de calor e sendo invadida pela maior nuvem de gafanhotos em décadas. Emily Schmall, na AP, diz que é um desastre de proporções bíblicas. A temperatura em Delhi passou de 47°C, a mais alta já registrada no mês de maio, e chegou a 50°C no Rajastão. Calor e vírus criam situações de difícil escolha: andar com uma máscara é sufocante e, sem ela, corre-se alto risco de contaminação. Abrir as janelas para refrescar implica deixar entrar mosquitos transmissores de doenças como malária e dengue. O super ciclone Amphan na semana passada arrastou uma quantidade imensa de umidade e deixou pacotes de ar quente formando as ondas de calor que atravessam o continente indiano.

Para completar, a nuvem de gafanhotos entrou pela fronteira noroeste com o Paquistão e ruma pelo norte do país em direção a Delhi. Um forte vento a arrastou para o centro do país, exatamente no coração das maiores lavouras de alimentos. Acabar com a nuvem é uma corrida contra o tempo pois a monções começam no mês que vem, junto com o período de reprodução dos gafanhotos.

A pandemia, por sua vez, matou mais de 4.500 pessoas e o número de casos passou de 150.000.

Em tempo: Daisy Dunne, no Carbon Brief, escreve sobre as nuvens de gafanhotos que se espalham pelo leste da África, pelo Paquistão e pela Índia. Cada gafanhoto come diariamente o equivalente a seu peso: 2 gramas. Bilhões de gafanhotos deixam milhões de pessoas sem comida. Na África, as nuvens são as piores do século nas Etiópia e Somália, e a pior dos últimos 70 anos no Quênia. Uma sequência de ciclones no Golfo Pérsico ocorrida em 2018 e 2019, seguido de um clima estável, criaram as condições para a formação das nuvens. Os ventos fortes que se seguiram em direção ao sul transportaram a nuvem ao longo do litoral leste da África. Lá, encontraram alimento e mais chuvas, condições perfeitas para se reproduzir e gerar uma segunda onda ainda maior que a primeira. Esta sequência de climas favoráveis aos gafanhotos tem origem no Dipolo do Oceano Índico que se encontra na chamada fase positiva, que aquece as águas à oeste da Índia, favorecendo a formação de ciclones e tempestades tropicais. O artigo de Dunne explica porque pesquisadores estão atribuindo as pragas à mudança climática, dado que se observa um aumento importante na frequência dessas fases positivas ao longo das últimas décadas – exatamente como preveem os modelos climáticos.

 

ClimaInfo, 29 de maio de 2020.

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