Polêmicas ambientais debilitam ainda mais a imagem internacional do Brasil

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Se já estava complicado vender para os parlamentos da Europa o acordo comercial entre o bloco e o Mercosul por conta da explosão do desmatamento na Amazônia e do desmonte da política ambiental, o episódio da “boiada” do ministro Ricardo Salles tornou esse esforço muito mais difícil.

No UOL, Jamil Chade destaca que a sugestão de usar a pandemia para promover mais desregulamentação no setor ambiental feita por Salles, aumentou a rejeição de parlamentares europeus à ratificação do acordo comercial Mercosul-UE, concluído em julho de 2019 depois de mais de 20 anos de negociação. O acordo é tido como o principal resultado da política externa do governo Bolsonaro, ainda que sua participação tenha sido marginal, resumida apenas à conclusão das conversas. Para que o texto passe a valer, precisa ser ratificado por todos os 27 parlamentos nacionais da UE.

Na Bélgica e na Áustria, parlamentares aprovaram moções contrárias ao acordo comercial com o Mercosul, citando preocupações quanto a que acesso facilitado ao mercado europeu pelo agronegócio brasileiro acabe por resultar em mais desmatamento e devastação ambiental.

Nos últimos meses, políticos da Espanha e da importante Alemanha se mobilizaram para cobrar o governo brasileiro a modificação da política ambiental, de modo a que esta contenha o desmatamento, como pré-requisito para a aprovação do acordo.

O problema é que, se considerarmos o que Salles e Bolsonaro fizeram até agora – e disseram na infame reunião ministerial – não há qualquer sinal de mudança na política ambiental brasileira.

Rodrigo Machado Vilani faz uma reflexão interessante no portal O Eco, destrinchando a conduta do governo Bolsonaro para o meio ambiente. Para ele, o anticientificismo do governo é parte integrante da estratégia política de Bolsonaro e de seu grupo político, algo difícil de se mudar. “O ataque ao conhecimento, pesquisadores e instituições não é negacionismo, mas uma estratégia organizada pautada em discursos populistas, uso e aparelhamento dos órgãos públicos, disseminação de notícias falsas, desinformação, ameaças e violência, voltada para desqualificar as evidências científicas e coagir pesquisadores/as e, assim, elaborar e implementar políticas públicas sem qualquer embasamento científico”, aponta Vilani.

Na ponta, essa conduta irresponsável está causando o assanhamento de grupos criminosos, incentivados pelo discurso oficial para continuar e ampliar a realização de seus crimes contra o meio ambiente.

O ataque recente a policiais ambientais em um parque no Vale do Ribeira (SP), que resultou na morte do oficial Damião Cristino de Carvalho Junior, é um exemplo disso, apontam Fabio Feldmann e José Pedro de Oliveira Costa, no Correio Braziliense: “O estímulo declarado de Bolsonaro ao descumprimento da Constituição e da legislação, em última instância, está incentivando a criação de milícias do garimpo e as invasões das Áreas Protegidas em todo o Brasil, na mesma lógica e modus operandi das demais milícias, a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro”.

Tudo isso deixa o Brasil na rabeira das discussões internacionais sobre uma nova economia mais sustentável e resiliente no futuro pós-pandemia. Como Maria Hermínia Tavares ressalta na Folha, qualquer reflexão em torno de um “Green New Deal” para o Brasil “passa longe do liberalismo primário de Paulo Guedes, do desenvolvimentismo tacanho dos generais, do antiliberalismo predatório do boiadeiro Salles. Eles não servem mais nem aos negócios, muito menos ao país”. Neste cenário, o isolamento do país na arena internacional nunca foi tão grande como agora.

Em tempo: A campanha “Nome aos Bois”, promovida por organizações da sociedade civil brasileira para cobrar as empresas participantes das associações signatárias do anúncio pró-Ricardo Salles publicado na última terça (26/5) foi destacada no El País. Na matéria, Breiller Pires compara a campanha com a estratégia do Sleeping Giants Brasil, que denuncia empresas que anunciam em sites de fake news e ressalta a reação das empresas que rejeitaram seu envolvimento no anúncio e condenaram a peça.

 

ClimaInfo, 29 de maio de 2020.

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