Justiça climática é justiça racial

justiça climática e racial

Os protestos contra o assassinato de George Floyd nos EUA seguem mobilizando pessoas em todo o mundo e retomando um debate que vira-e-mexe aparece na discussão pública, mas que infelizmente nunca se concretiza em ações para seu enfrentamento: o racismo estrutural presente nas estruturas política, econômica, social e cultural. A discussão também despertou dentro do movimento social por ação e justiça climática uma reflexão sobre as conexões entre racismo e mudança do clima.

Vale a pena ler o artigo de Keya Chatterjee, diretora-executiva da Climate Action Network (CAN) dos EUA, que fala como comunidades pobres, majoritariamente negras e miscigenadas, bem como aldeias indígenas, foram ocupadas por indústrias poluentes e atividades extrativistas que degradam o meio ambiente e comprometem o bem-estar dessas pessoas.

“O racismo nos trouxe a crise climática. A realidade é que os impactos significativos da crise climática sobre as comunidades vulneráveis estão acontecendo porque nosso país [EUA] se dispôs a sacrificar vidas negras, pardas e indígenas ao colocar estruturas poluentes e extrativistas em comunidades negras, pardas e indígenas nos EUA e ao redor do mundo”, escreve Chatterjee, na Thomson Reuters. “A crise climática é, em seu cerne, uma crise de injustiça racial”. Ela argumenta que as comunidades mais ricas, habitadas majoritariamente por brancos, podem lutar contra a instalação de rodovias, oleodutos e gasodutos no entorno de suas casas, enquanto as mais pobres, ocupadas por negros e outros grupos marginalizados, têm menos poder para fazer o mesmo e, por isso, acabam sendo as primeiras a sofrer as consequências negativas desses empreendimentos.

Nessa mesma linha, a ativista Ayana Elizabeth Johnson defende no The Washington Post que o combate à crise climática abrace a luta contra o racismo, pois as comunidades negras dos EUA se preocupam muito mais com a mudança do clima em comparação com as brancas. “Se quisermos endereçar a questão climática com sucesso, precisamos dos negros. Não é porque diversidade seria algo bom, nem mesmo porque diversidade levaria a melhores decisões, mas porque negros estão significativamente mais preocupados com mudança do clima do que brancos (57% vs 49%), e latinos são ainda mais preocupados (70%). Para por em perspectiva, isso significa que mais de 23 milhões de negros já se importam profundamente com o meio ambiente e poderiam dar uma enorme contribuição à ação climática massiva que precisamos fazer”, defende.

 

ClimaInfo, 5 de junho de 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)