O avanço do novo coronavírus sobre os Povos Indígenas segue causando devastação em diversas comunidades. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), 93 povos foram atingidos pela COVID-19, com 2.390 casos registrados e 236 mortes confirmadas até 6 de junho.
Em Nova Esperança, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari (AM), a confirmação de contágio pela COVID-19 em quatro agentes de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) no local forçou o abandono da aldeia pela maior parte dos indígenas da etnia Matsés (Mayoruna), que se isolaram na floresta para evitar a contaminação. Lá, a situação é a mesma de diversas comunidades espalhadas pela Amazônia: faltam remédios, testes e profissionais de saúde, ao mesmo tempo em que o número de casos entre os indígenas como um todo seguem aumentando.
Em São Gabriel da Cachoeira, também no AM, as autoridades locais conseguiram realizar um grande esforço de testagem, atingindo em torno de 96% da população local – o que colocou o município, a cidade mais indígena do Brasil, na liderança do ranking proporcional de diagnósticos de COVID-19 no país. Isso permitiu ter informações mais claras sobre o impacto da pandemia, o que tem ajudado o município em seu enfrentamento.
Como bem destaca Sérgio Guimarães (GT Infraestrutura) em seu artigo no Congresso em Foco, a pandemia tornou explícita, como poucas vezes na história, a omissão do Estado com os grupos mais vulneráveis da sociedade brasileira. Na Amazônia, sob a ameaça dupla da COVID-19 e de criminosos cada vez mais audaciosos, isso se torna gritante. Nessa mesma linha, Felipe Milanez aponta na Carta Capital que “nunca na história do Brasil uma epidemia viral alastrou-se tão rapidamente entre os Povos Indígenas – nem mesmo as grandes epidemias de varíola quinhentistas e seiscentistas”.
ClimaInfo, 10 de junho de 2020.
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