Agronegócio expõe indígenas à COVID-19 no Mato Grosso do Sul

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Temos destacado aqui a situação dramática que os Povos Indígenas brasileiros estão enfrentando durante a pandemia de COVID-19, especialmente na Amazônia. No entanto, a história de descaso das autoridades, dificuldades de acesso a serviços de saúde e falta de apoio financeiro para a sobrevivência durante a quarentena se repete em diversas aldeias Brasil afora.

No Mato Grosso do Sul, o novo coronavírus está se espalhando rapidamente entre os indígenas da etnia Guarani Kayowá, e o agronegócio tem servido como foco de contágio. Um frigorífico da JBS, onde trabalham mais de 30 indígenas, foi associado aos primeiros casos de COVID-19 na Reserva Indígena de Dourados. Em menos de 48 horas após a identificação do 1º caso, de uma funcionária da JBS que morava na Reserva, já havia dez casos entre os indígenas, sendo sete de trabalhadores do frigorífico e três de crianças e familiares. A Agência Pública informa que, 28 dias após o 1º caso na Reserva Francisco Horta Barbosa, a mais populosa do país, já tinham sido confirmados 86 casos de contaminação.

O Ministério Público também identificou casos de contágio entre indígenas que trabalhavam em plantações de cana-de-açúcar. Por conta da situação, os procuradores exigiram que as empresas envolvidas afastassem seus funcionários indígenas – o que, na prática, tem sido um problema, já que a falta de apoio financeiro por parte do governo para a subsistência durante esse afastamento tem forçado muitos indígenas a seguir trabalhando para não perder a única fonte de renda que possuem.

A matéria do Repórter Brasil mostra que os indígenas são uma mão-de-obra importante para o agronegócio no MS. O fato das aldeias serem próximas dos centros urbanos ou plantações e frigoríficos facilita o emprego destas pessoas em atividades consideradas essenciais durante a pandemia, como coleta de lixo, atendimento médico e na operação da cadeia da carne e de grãos. Estas circunstâncias causam problemas de saúde rotineiros entre os indígenas do estado, como tuberculose, e que foram potencializadas agora com a COVID-19.

“Os Guarani Kayowá têm sido vítimas de um processo de genocídio no Brasil há anos. Agora, estão sendo infectados pelo trabalho deles nos frigoríficos, nas fazendas de soja e nos centros urbanos”, lamenta Antônio Eduardo Oliveira, secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ao Le Monde Diplomatique Brasil. O CIMI afirma que a doença está chegando também a aldeias no Paraná, na Terra Indígena Oco’y, tendo os mesmos vetores de contágio dos indígenas no MS: frigoríficos e plantações.

 

ClimaInfo, 26 de junho de 2020.

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